Em uma São Paulo "careta", F1 ainda encontra meios de se divertir
Em um das cenas do filme "Rush", que conta a disputa entre os pilotos Niki Lauda e James Hunt, o Brasil é mostrado como sendo o contraste para o restante do circuito da Fórmula 1. Enquanto na Europa, Estados Unidos e Japão o grid de largada é lugar de mecânicos e engenheiros, no Brasil é tomado por passistas seminuas sambando em volta dos carros.
Era a década de 70 e de lá para cá muito mudou. São Paulo e o Brasil em geral abraçaram o politicamente correto, enquanto pilotos boêmios como James Hunt deram lugar a pilotos cerebrais e, acima de tudo, extremamente profissionais, como o próprio Niki Lauda e mais recentemente Michael Schumacher.
"São como atletas de qualquer outro esporte que exige alta performance", diz o jornalista Flávio Gomes, veterano na cobertura da Fórmula 1. "Não comem gordura e não tomam álcool."
Além disso, adicione aí outras restrições que mudaram a cara da noite paulistana. O Programa de Silêncio Urbano (PSIU) da Prefeitura de São Paulo fez com que a maioria dos bares passasse a fechar à 1h. Na sequência, o endurecimento da Lei Seca e a lei antifumo.
Mas São Paulo ainda seria um porto seguro, onde, apesar das mudanças, ainda restaria um pouco do velho espírito festeiro de Hunt? Ou o Brasil deixou de ser terra do samba no meio da pista para se tornar mais uma entre tantas outras? Tudo leva a crer que, apesar da nova cara da capital paulistana, o final de temporada também é sinônimo de diversão para pilotos e principalmente para os integrantes das equipes.
"Correr em Interlagos é ótimo. É boa pista, tem muitos fãs, grandes churrascarias, o que é legal. Nos divertimos muito, e há muitas caipirinhas - para os mecânicos, claro. É um bom evento, e tem a festa de fim da temporada no domingo à noite", afirma o piloto Nico Rosberg, da escuderia Mercedes.
Ano passado, a festa do título de Vettel, promovida pela Red Bull contou até com a presença de Neymar, atrizes e ex-BBBs. O piloto alemão consumiu Jägermeister, bebida alcóolica à base de ervas produzida na Alemanha.
"Entretenimento adulto" persiste
Em termos de impacto no turismo da cidade, a Fórmula 1 produz pouco, segundo a SPTuris, empresa de eventos e turismo da cidade de São Paulo. Há um aumento “pontual” na frequência de restaurantes e bares na região dos Jardins, afirma a empresa.
Mas para outro ramo de negócios, a semana do Grande Prêmio traz muitos clientes. Antes da lei Cidade Limpa, que baniu qualquer tipo de outdoor da cidade, havia uma batalha das casas noturnas pelos pilotos e membros das equipes de Fórmula-1. Ficou famoso o outdoor do Bahamas Club em que aparecia apenas uma mulher de joelhos em frente a um piloto, insinuando sexo oral. Oscar Maroni, proprietário da casa noturna, estava no auge da ousadia e queria atrair o endinheirado público de engenheiros e mecânicos que ganham em euro, libra ou dólares.
Outdoor do Bahamas: insinuação de sexo oral
Este ano, após ficar oito anos fechada, a casa foi reaberta ao ser liberada pela justiça. Com a mesma foto que estampava o outdoor, Maroni imprimiu folhetos e foi pessoalmente fazer propaganda do Bahamas no aeroporto.
Na página na internet de outra casa noturna famosa em São Paulo, o Café Photo, há um espaço fazendo propaganda da "Semana da Fórmula 1", com uma "programação especial."
No Bahamas, há uma sala especial para receber os pilotos, que entram por uma entrada lateral, para "manter a discrição", segundo Maroni. Lá de cima, geralmente acompanhados por um seleto grupo de amigos, eles escolhem as meninas com quem querem ir para os quartos.
Os mêcanicos e engenheiros costumam ficar no salão, já que privacidade não é um problema para eles. As profissionais que os atendem geralmente são bilíngues.
Café Photo: "Semana da Fórmula 1"
Malu (nome fictício) trabalha o ano todo em uma profissão "normal" no Rio Grande do Sul, e vem para São Paulo só para a semana da Fórmula 1. Fala alemão e inglês. Enquanto em uma semana normal de trabalho ganha de 8 a 9 mil reais, na semana do Grande Prêmio fatura de 16 a 20 mil reais.
"Eles nos tratam como princesas. Pagam R$ 1 mil, R$ 1.200,00 por programa sem reclamar. Muitas vezes nos levam para a Europa. Já teve uma que ganhou uma Palio Weekend", afirma. Em média, cada integrante de equipe gasta de R$ 5 mil a R$ 6 mil em uma noite, entre bebidas, principalmente champanhe e vodca, e com as garotas.
Os pilotos à vezes fazem pedidos especiais. "Um deles mandou um amigo buscar uma bolsa cheia de roupas íntimas e pediu para que eu e uma amiga ficássemos vestindo", conta Malu. Ao que parece, o Brasil ainda desperta o espírito de James Hunt em alguns pilotos.
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