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Banco pivô da crise global tem retorno de 550% com Fórmula 1

Do UOL, em São Paulo

29/03/2014 20h50

O banco falido Lehman Brothers, pivô da crise financeira global de 2008, ganhou US$ 2 bilhões com a Fórmula 1 nos últimos anos, o que significa um retorno de 550%. Mas como uma instituição falida pode realizar uma operação assim tão boa?

A revista Forbes ajudou a explicar essa história. Bernie Ecclestone, o chefão da F1, vendeu, em 2000, parte da empresa que explora os direitos da categoria, a SLEC. Em 2001, o Kirch Group, um grupo alemão adquiriu desses compradores e de Ecclestone 75% das ações da empresa. Para bancar o negócio, pegou empréstimos de aproximadamente US$ 1,6 bilhão com três bancos: o BayernLB, um banco alemão controlado pelo estado, e os americanos JPMorgan Chase e Lehman Brothers – foi quando o banco americano se envolveu com a Fórmula 1.

O Kirch Group foi liquidado, e a SLEC quase perdeu o controle da categoria, com as montadoras ameaçando formar outro campeonato. Para não ficar no prejuízo, os bancos assumiram participações da SLEC. Ecclestone, então, que não queria deixar a Fórmula 1 escapar, manobrou para que uma empresa sem problemas financeiros assumisse os negócios.

Foi quando entrou na jogada a americana CVC, que pagou pelas partes dos bancos um valor bem abaixo do que eles tinham emprestado em 2001. O Lehman Brothers, que, sozinho, tinha emprestado US$ 300 milhões em 2001, só recuperou US$ 209 milhões na venda em 2006.

Foi um negócio estranho para os bancos, que rendeu a Bernie Ecclestone e a um dirigente do Bayern LB acusações na Justiça alemã. Ecclestone teria subornado o diretor para que ele tocasse o negócio. De qualquer forma, os bancos perceberam que, se a empresa que controla os direitos da F1 falisse, eles não recuperariam nem uma parte de seus investimentos.

Até então, o Lehman só tinha tomado prejuízo, mas ele fez uma escolha acertada. Investiu o dinheiro arrecadado na venda para a CVC na própria Fórmula 1 – e ainda emprestou 550 milhões de dólares para a própria CVC realizar a operação. Com isso, a nova dona da Fórmula 1 precisava pagar uma dívida enorme com o Lehman Brothers e, ao mesmo tempo, ele manteve uma fatia de 15,3% da Delta Topco, como passou a se chamar a empresa que tem os direitos da Fórmula 1.

Não foi a última reviravolta desse caso. Em 2008, no olho do furacão da crise global, o Lehman Brothers faliu. O administrador do espólio do banco resolveu não vender imediatamente sua participação na categoria de automobilismo, para tentar recuperar algum dinheiro para os credores.

Em 2012, o resultado dessa jogada começou a aparecer. Em maio, a Topco entregou os lucros referentes aos 15,3% de participação: US$ 130,1 milhões. Em seguida, o administrador do espólio do banco vendeu uma fatia de 3% da Fórmula 1 por US$ 200 milhões. Em dezembro, a Topco repassou mais US$ 148,8 milhões.

Agora, a CVC, sócia majoritária da Fórmula 1, cogitou nos últimos anos colocar a categoria na bolsa de valores. O valor estimado de arrecadação com essa jogada é de US$ 12 bilhões – o que renderia US$ 1,5 bilhão para o falido Lehman Brothers.  Somando isso ao dinheiro já recuperado, os credores do banco americano arrecadariam 2 bilhões – muito mais que o quanto o banco investiu anos antes.  

Resolvido? Não exatamente. Os credores não têm muitas esperanças de que o lucro do automobilismo pague mesmo as dívidas do banco. Esses US$ 2 bilhões não são nada perto da dívida apurada, de US$ 450 bilhões.

Além disso, resta saber quando o grupo que administra o espólio do banco americano vai realmente colocar sua participação na Fórmula 1 à venda, para enfim pagar parte dos seus credores. O grupo se comprometeu a pagar o valor de mercado para o fundo dos credores em julho. Mas antes disso, Bernie Ecclestone, que ainda chefia a Fórmula 1, vai a julgamento na Alemanha pelo suborno que, segundo a acusação, garantiu a entrada da CVC no negócio.

Se Ecclestone for condenado, ele pode jogar fumaça sobre o futuro dos negócios. De qualquer forma, a Fórmula 1 não tirou o pé do acelerador no mercado. De 2006 a 2011, suas receitas cresceram 31,%. Esse crescimento explica por que o que restou do Lehman demora tanto para se desfazer da sua parte na Fórmula 1. Ninguém quer se desfazer de um negócio em pleno crescimento.

Os investidores vão continuar tentando, mas o mais provável é que o Lehman só tope vender os 12,3% restantes quando a CVC também colocar sua parte no mercado. Neste mês, Ecclestone disse em entrevista ao Telegraph que ele próprio só deve vender o que restou de sua participação na Fórmula 1 quando a CVC resolver fazê-lo. A sócia majoritária do negócio, aliás, já teve um retorno de 350% do seu investimento em 2006.

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