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Fórmula 1

GP do Bahrein vai além do espetáculo e gera esperança para temporada da F1

Livio Oricchio

Do UOL, em Manama (Bahrein)

07/04/2014 12h00

O GP do Bahrein, terceira etapa do Mundial de Fórmula 1, reuniu no último domingo todos os ingredientes de um grande espetáculo. A começar pela disputa épica pela vitória entre os dois pilotos da Mercedes, Lewis Hamilton, o vencedor, e Nico Rosberg, segundo colocado.

Mas foi bem além disso: o desenvolvimento das 57 voltas da corrida no circuito de Sakhir revelou que ao contrário do que se supunha, depois do inexpressivo GP da Malásia, segunda prova do calendário, dia 30 de março, a sequência da temporada parece que, para o bem da F1, vai estar mais para o GP de Bahrein que para o apresentado no autódromo de Sepang, na Malásia.

Hamilton e Rosberg resgataram o melhor do esporte domingo. Batalha intensa, limpa, incontestável vitória do campeão do mundo de 2008, mesmo com pneus médios, menos aderentes, diante dos macios do filho de Keke Rosberg, campeão do mundo em 1982.

Mais: Sérgio Perez e Nico Hulkenberg, da Force India, Daniel Ricciardo e Sebastian Vettel, Red Bull, e Felipe Massa e Valtteri Bottas, Williams, duelaram boa parte da prova. Companheiros de equipe lutando para superar o outro sem interferência de seus times. Para não se mencionar o principal, que lá na frente Paddy Lowe, diretor da Mercedes, limitou-se a dizer no rádio para seus pilotos: "Vocês podem lutar, mas tragam o carro de volta".

Além do completo menu de emoções, o GP de Bahrein gerou algo ainda melhor: animadoras perspectivas para as 16 etapas que restam do campeonato. Primeiro porque dentro da própria equipe dominante a diferença entre o que Hamilton e Rosberg podem produzir é pequena. O inglês tem alguma coisinha a mais, porém o alemão está muito perto. O placar de vitórias aponta 2 a 1 para Hamilton.

Ambos já se destacaram na classificação do campeonato: Rosberg lidera com 61 pontos, Hamilton vem em segundo, 50, enquanto o talentoso Hulkenberg, da Force India, sexto, quinto e quinto nas três primeiras etapas, está em terceiro, com 28.

Mas o histórico dos GPs da Austrália, Malásia e de Bahrein sugere que a luta entre Hamilton e Rosberg não será como a de Vettel com seu ex-companheiro de Red Bull, Mark Webber. A diferença de talento de Hamilton para Rosberg é bem menor que a de Vettel para Webber. No ano passado, por exemplo, o alemão da Red Bull venceu as nove últimas etapas.

A Mercedes tem uma vantagem técnica, agora, semelhante a da Red Bull na segunda metade do ano passado, mas seria surpreendente se Hamilton passasse a vencer tudo, como fez Vettel em 2013. É pouco provável, quase garantia de que a F1 vai continuar oferecendo fortes emoções pela frente.

Outra lição entusiasmante do GP de Bahrein é que verdadeiramente os pilotos estão livres para lutar entre si dentro da própria equipe e entre Hulkenberg e Perez, Vettel e Ricciardo, este a maior surpresa positiva da temporada até agora, e Massa e Bottas, da mesma forma não há nenhum que seja infinitamente superior ao outro.

A lamentar nessa história é a ausência da Ferrari na luta pelos seis melhores, que seja. Ontem Alonso teve um comportamento que poucos se deram conta: cruzou a linha de chegada com o braço estendido para fora do cockpit, socando o car, próximo ao muro onde estavam os integrantes da Ferrari, como se celebrasse uma conquista.

Detalhe: da saída do safety car até a bandeirada foram apenas dez voltas, mesmo assim Alonso recebeu a bandeirada 32 segundos depois de Hamilton, na distante nona colocação, o que dá uma média de pouco mais de três segundos por volta. Alonso foi sarcástico. A provável ausência da Ferrari na luta pelo título este ano, como em 2011, 2012 e 2013, propõe que Alonso, a esta altura, já começou a pensar com seriedade que rumo profissional tomar.

Não foi à toa que o presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo, deixou o autódromo antes do fim da corrida, dizendo: "É doído ver os nossos carros tão lentos". Mas se há algo de bom nesse episódio é que Fernando Alonso e Kimi Raikkonen estão livres também para lutar entre si.

Outro aspecto importante nessa projeção da temporada é o fato de no GP da Espanha, dia 11 de maio, em Barcelona, quinto do calendário, a maior parte das equipes vai apresentar uma versão nova de seus carros, estudada a partir dos ensinamentos das quatro primeiras corridas.

Em condições normais, parece pouco provável que algum time passe a desafiar a Mercedes na luta pelas vitórias, mas faz todo sentido se imaginar que haverá certa aproximação no desempenho dos carros. A margem de desenvolvimento dos modelos de Red Bull, McLaren, Force India, Williams e principalmente Ferrari é maior que a da Mercedes. Assim, é provável que haja uma certa aproximação do pelotão formado por essas equipes e a Mercedes.

O próximo GP do campeonato será o da China, dia 20, em Xangai. Lá também os times com a unidade motriz, ou seja motor e sistemas de recuperação de energia, da Mercedes se imponham como em Bahrein, com os três primeiros colocados. Qualquer coisa diferente será uma surpresa.

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