Jackie Stewart diz que Mercedes será campeã da F1, e domínio será duradouro
Apesar de o GP de Bahrein ser a terceira etapa do campeonato - no total são 19 -, o ex-piloto escocês Jackie Stewart, três vezes campeão do mundo, 1969, 1971 e 1973, não tem mais dúvidas: "A Mercedes conquistará o título este ano".
Nessa entrevista exclusiva concedida ao UOL no último sábado, no paddock do circuito de Sakhir, antes da corrida dominada por Lewis Hamilton e Nico Rosberg, Stewart afirmou que a vantagem técnica imposta pelo modelo W05 da Mercedes se assemelha ao carro da Red Bull no ano passado. "Não creio que as demais equipes vão conseguir se igualar à Mercedes até o fim da temporada."
Sua argumentação se baseia no fato de a Mercedes investir nessa nova Fórmula 1 há um bom tempo e ter tomado decisões corretas na estruturação do grupo. "Quando os flechas de prata (carros da Mercedes) entram na F1 é para ganhar. Fizeram isso nos anos 20, anos 30 e nos anos 50. Não seria diferente agora. Precisaram de um tempo para entender o desafio da Fórmula 1 moderna e o resultado está aí."
Nos anos 50, a Mercedes conquistou os mundiais de 1954 e 1955 com Juan Manuel Fangio, mas em seguida abandonou a competição. Stewart, no entanto, não acredita que agora possa ocorrer o mesmo. "A maior razão de eles deixarem a Fórmula 1 foi o acidente de Le Mans, com 82 mortos."
No dia 11 de junho de 1955 o Mercedes do piloto francês Pierre Levegh voou sobre a arquibancada nas 24 Horas de Le Mans matando, na realidade, 84 pessoas. A tragédia levou a montadora alemã abandonar as pistas.
Desde que a Mercedes voltou à F1, em 2010, iniciou um processo de reconstrução da equipe que adquiriu, baseada na Inglaterra, pertencente à Honda até um ano antes. Contrataram técnicos de elevada experiência, todos diretores técnicos de outros times, como Paddy Lowe, da McLaren, Aldo Costa, Ferrari, Bob Bell, Renault, e Geoff Willis, Red Bull. "É essa estrutura que criou o carro que hoje está dominando a Fórmula 1", explica Stewart. "E ela tende a ser duradora."
Assim como a Red Bull, tetracampeã, foi superada pela Mercedes este ano, a Mercedes deixará de ter a vantagem que tem no futuro, comenta o ex-piloto da lendária equipe Tyrrell. "Mas no momento a Renault está longe e a Ferrari também ficou para trás" A unidade motriz produzida pela Mercedes, ou seja, o motor e os dois sistemas de recuperação de energia, está na base da vantagem técnica alemã, diz Stewart.
Ao contrário do que até mesmo profissionais da F1 vêm dizendo, de que a definição do atual regulamento foi um erro, como o presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo, o ex-piloto escocês defende com energia os conceitos adotados pela nova F1. "Com um motor de apenas 1,6 litro, pequeno, estamos tirando a mesma potência dos enormes motores de outras épocas, é um grande avanço."
Recorre a outros motivos para justificar seu apoio às novas regras: "Esses motores já estão consumindo bem menos combustível. Lá pelo décimo GP a elevada tecnologia adotada este ano pela F1 será melhor compreendida e as pessoas vão começar a dar razão por seu emprego na competição". O repasse à indústria automobilística será o maior legado desses conceitos.
Do ponto de visto da pilotagem, a nova F1 representa também, segundo Stewart, um desafio maior. "O piloto está trabalhando mais, o carro é mais difícil de ser pilotado, tem pouca tração, além de a interatividade com os vários recursos disponíveis ser maior."
A forte reação de parte importante da torcida contra o modelo escolhido pela F1 este ano, com o piloto tendo de economizar tudo, carro, motor, combustível, pneu, além do reduzido ruído do escapamento, acabará por ser assimilada.
"Não há esporte no mundo que mude tanto quanto a F1. De tempos em tempos há revisões até conceituais do que havia, como agora", explica Stewart. "Sempre houve resistência para aceitar essas transformações e, no fim, foram aceitas, a F1 seguiu viva e gerando até maior interesse. Desta vez não será diferente."
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