Demissão 'educada' na Ferrari mostra urgência na necessidade de mudanças
Mudanças importantes na direção da Ferrari eram mesmo já esperadas. Afirmar que Stefano Domenicali pediu demissão foi a forma gentil encontrada pelo presidente da empresa, Luca di Montezemolo, para demitir o diretor geral da equipe de F1.
Ver seus carros tão lentos no GP de Bahrein, dia 6, não poderia passar em branco, os responsáveis por aquele momento incompatível com a imagem de excelência que a marca Ferrari deve manter precisavam ser substituídos.
A mudança radical do regulamento, este ano, representava uma grande chance para os adversários da Red Bull, de Sebastian Vettel, produzir um carro com chances de vencer o time austríaco, campeão nos últimos quatro anos. A Mercedes se aproveitou muito bem da oportunidade. A Ferrari, ao contrário, andou ainda mais para trás.
Apesar de Domenicali assumir a responsabilidade pelo fracasso do modelo F14T de Fernando Alonso e Kimi Raikkonen, não deverá ser dispensado sozinho. Junto dele espera-se que outros profissionais-chaves deixem a equipe nas próximas semanas ou no máximo meses: Nikolas Tombazis, coordenador dos projetos de F1, e o diretor da área de motores e eletrônica, Luca Marmorini.
O italiano Marco Mattiaci, presidente da Ferrari nos Estados Unidos, seu principal mercado de automóveis de série, será o substituto de Domenicali. Vai trabalhar já no fim de semana, no GP da China, quarto do campeonato onde a Ferrari ocupa apenas a quinta colocação entre os construtores, com 33 pontos, diante de 111 da Mercedes, líder, 44 da Force India, 43, McLaren, e 35, Red Bull.
E não é por falta de piloto que a Ferrari se encontra nessa situação. Alonso já venceu dois mundiais, 2005 e 2006, com a Renault, e Raikkonen, um, 2007, pela própria Ferrari. São dois campeões do mundo acelerando o modelo F14T.
Domenicali teve muitas chances de mostrar o seu trabalho na Ferrari. Com a saída de Jean Todt, no fim de 2007, assumiu o cargo com seu estilo aberto, sempre disposto a ouvir todo mundo. Era algo que os mais de 500 integrantes do grupo não conheciam.
Todt começava cedo o seu trabalho e era em geral o último a sair da sede, em Maranello. Deixava claro o que desejava de cada responsável pelas várias áreas de um time de F1 e cobrava implacavelmente o acordado na frente de todos. Homem de poucas palavras, austero, Todt foi substituído por um típico italiano, compreensível, sempre disposto a entender os subordinados por seus insucessos.
Apenas um título, e de construtores, em seis anos
De 2008 até o GP de Bahrein, dia 6, Domenicali se caracterizou na F1 muito mais pelos seus dotes humanitários que pela eficiência na liderança que a função de diretor de uma equipe de F1 exige. Esse aspecto está na base do seu fraco retrospecto na competição: venceu o Mundial de Construtores de 2008, apenas.
Domenicali não promoveu nenhuma mudança importante na estrutura da Ferrari, nem quando em 2009 ficou em quarto entre os construtores, com 70 pontos, diante de 172 da campeã, a Brawn GP. Não era o seu estilo.
Novo diretor é um homem de negócios
Quanto ao seu substituto, Mattiaci, trata-se de um homem de negócios, sem formação técnica na área de automóveis. Romano, 44 anos, formou-se pela Columbia Business School. Introduziu a marca Ferrari na China e atualmente conduzia os interesses da Ferrari nos Estados Unidos, onde a empresa comercializa cerca de 2 mil dos 6 mil carros que produz por ano. As atividades esportivas na América do Norte, com os veículos da marca, também estavam sob seu controle.
É um profissional de confiança do delegado administrativo da Fiat, maior acionista da Ferrari, Sergio Marchione, daí também sua indicação. Trabalha na Ferrari desde 2001.
Nesta segunda-feira está em Maranello, reunido com Montezemolo e os demais engenheiros responsáveis pelas áreas da equipe informou ao UOL Esporte o assessor de imprensa da Ferrari, Renato Bisignani. Mattiaci estreia como novo diretor geral da Ferrari já no GP da China, no fim de semana, em Xangai.
Sua missão mais imediata é entender as razões de a Ferrari ter perdido tanto terreno para a concorrência e promover as mudanças complementares necessárias.
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