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O que você ainda não sabe sobre a morte de Senna

Ayrton Senna conversa com Frank Williams na sua estreia pela escuderia, em março de 1994  - Pisco Del Gaiso/Folhapress
Ayrton Senna conversa com Frank Williams na sua estreia pela escuderia, em março de 1994 Imagem: Pisco Del Gaiso/Folhapress

Livio Oricchio

Do UOL, em São Paulo

28/04/2014 16h48

Texto publicado originalmente em 2014, quando a morte de Ayrton Senna completou 20 anos, mas o contexto permanece o mesmo.

20 anos. Não parece. Remexo as fichas na minha memória onde registrei as marcantes experiências vividas naquela época da F1 e logo compreendo que as classificadas na letra S, especificamente as do envelope Ayrton Senna, não me cobram grande empenho para localizá-las. Estão intensamente vivas, quase se apresentam a mim.

As manipulo com a mente e sinto uma combinação de emoções: começa com um distante toque de tristeza, mas imediatamente superado por uma sensação de resignação, altivez e, por mais contraditória que pareça, até mesmo de conforto. Espíritos elevados como o de Senna confortam os que se lembram dele. E sua mensagem é tão palpável que absorvemos rapidamente sua energia positiva. Sim, claro, presentíssima!

Cerca de seis anos depois de Senna dar sequência a sua obra em outra esfera, aí pela temporada de 2000, redigi uma série de textos relatando o que vi naquele fim de semana no circuito Enzo e Dino Ferrari, em Ímola, e, depois, nos dias seguintes, na porta do Instituto Médico Legal de Bolonha ou no tocante voo que trouxe o seu corpo para o Brasil.

Capítulo a capítulo

Tinha uma cópia desses textos comigo e a usei como base para escrever o que apresento a seguir. Você vai viajar comigo pelos vários capítulos da extensa obra, quase um minilivro. E, espero, se emocionar.

Vamos ver juntos como o acidente que matou não um ídolo de milhões de brasileiros, mas um herói nacional, na curva Tamburello, às 14h17 do dia 1.º de maio, não foi um episódio isolado, mas o desfecho de uma história que, a rigor, começou um ano antes, quando Frank Williams, surpreendentemente, concordou com a mudança radical do regulamento da F1.

Sua equipe, àquela altura, impunha vantagem técnica à competição semelhante a da Mercedes na atual temporada e da Red Bull de 2010 até o 2013 passado. A proibição da maioria dos recursos eletrônicos adotada pela FIA em 1994 deixou os carros extremamente instáveis. Um ano antes, Senna definira o modelo FW15C-Renault da Williams, campeão do mundo com Alain Prost, como "carro do outro planeta". Sua McLaren-Honda era muito mais lenta.

  1. A F1 mudou em 94, e a Williams de Senna não era mais a mesma
  2. Por que a Williams que matou Senna era "inguiável"?
  3. A trapaça da Benetton de Schumacher colocou pressão em Senna
  4. Williams machucava as mãos de Senna (e reparo foi fatal)
  5. Acidente de Rubinho faz Senna cair no choro em Ímola
  6. Na véspera da morte, gravação de Adriane Galisteu abala Senna
  7. 1º de maio de 1994, o pior dia na carreira de um jornalista
  8. Posição dos pés de Senna já mostravam que acidente era grave
  9. O acidente e a morte de Senna em detalhes que você nunca viu
  10. Como Galvão me ajudou a preservar detalhes do corpo de Senna
  11. Final: como foi voltar ao Brasil ao lado do caixão de Senna

Senna era necessário

Mas Frank Williams sabia que precisava de um piloto como Senna para enfrentar outro grande talento que já distribuía cartões de visita poderosos: Michael Schumacher. No fim de 1993, contratou quem queria. Os dois realizavam seu sonho: Frank Williams e, principalmente, o brasileiro.

O carro do outro planeta, do projetista Adrian Newey, o mesmo que enorme responsabilidade tem na recente hegemonia de Sebastian Vettel, seria finalmente seu. Senna iniciou, no começo de 1994, os testes com o modelo FW16-Renault da Williams. E não acreditou. Fora dos microfones, no autódromo do Estoril, em Portugal, afirmou: "Esse carro é 'inguiável'". Adrian Newey errara na primeira versão do FW16.

Senna, na Williams, em 1994 - Pisco Del Gaiso/ Folha Imagem - Pisco Del Gaiso/ Folha Imagem
Senna, na Williams, em 1994
Imagem: Pisco Del Gaiso/ Folha Imagem

20 anos do GP de San Marino de 1994. Tão distante e tão próximo, ainda. Minha trajetória como jornalista especializado em F1 começou no GP do Brasil de 1987 e a partir de 1991 passei a ir a praticamente todas as corridas. No ano que vem, completarei meu 400º GP. Quando estou nos autódromos, tenho por vezes a impressão de que Senna vai sair a qualquer momento dos boxes ou motorhomes das equipes e, então, poderemos conversar no paddock.

Para mim, e para tantos com quem converso, Senna ainda está aqui. Essa, talvez, seja a maior prova do significado do seu imenso carisma, seu talento, sua grandiosidade como homem. Não temos a sensação de que trabalha agora em outro plano. O mundo vai lembrar, na quinta-feira, dia 1º de maio, os 20 anos da sua passagem.

Senna é uma figura viva, atuante, deixou algo para todos nós. Discutimos em vários idiomas seu imenso legado, não só esportivo, mas, principalmente, filosófico. E provavelmente eterno.

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