Topo

Fórmula 1

Fãs "geeks" de F-1 exibem conhecimentos à beira do túmulo de Senna

Vanessa Ruiz

Do UOL, em São Paulo

02/05/2014 06h00

Uma visita ao túmulo de Ayrton Senna em São Paulo pode revelar vários olhos marejados e muita emoção, é verdade, mas também um outro perfil de visitantes: os fãs "geeks" (ou "nerds", como se dizia até pouco tempo atrás) de Fórmula 1. Eles sabem datas, locais e até as curvas em que aconteceram momentos decisivos ou nem tanto da carreira de Senna e da história da categoria, mesmo aqueles que se passaram antes de terem nascido. E eles gostam de discutir, e discutir muito, cada detalhe de cada piloto e prova.

De um lado, ouvem-se conversas sobre Ayrton Senna e Felipe Massa: "O Massa, eu não engulo. Parece que esses daí que vieram depois não se esforçam", diz um fã, ao que o outro responde: "Não, para, não tem nada a ver. É dom. E dom é isso aqui, ó [aponta para o túmulo de Ayrton]". Os papos sobre qualidade técnica dos pilotos e temporadas passadas são tão animados que é possível ouvir um detalhe ou outro mesmo a uma certa distância.

Na outra ponta do túmulo, um visitante grita para um que está do lado oposto: "Marcelo Maranello??? É você?". Ao que Marcelo "Maranello" Alves responde que sim, e os dois se conhecem pessoalmente depois de um bom tempo trocando mensagens em fóruns virtuais de automobilismo.

Bryan de Assis Silva foi quem reconheceu o amigo. Ele tem 27 anos e é fã de várias categorias: "Gosto de Indy, WTCC, Nascar, tudo! E Fórmula 1, é claro", conta ele, cujas primeiras memórias da F-1 datam de 1993, quando tinha seis anos. Nesta quinta, Bryan visitou o túmulo enrolado em uma bandeira do Brasil.

Já Marcelo Alves -- o "Maranello" vem do nome que ele assina no Facebook, referência à cidade-sede da Ferarri -- vestia uma camiseta preta com o símbolo dourado da Lotus e o patrocínio da John Player Special, do tempo em que Ayrton corria. A quem encontra ali, Marcelo conta sempre duas coisas: que mandou fazer a camiseta e que o boné do Banco Nacional que veste foi autografado pelo sobrinho de Ayrton, Bruno Senna.

Em um determinado momento, Marcelo engata uma conversa sobre a relação de Senna com o Japão e os fãs japoneses, que têm um apreço enorme pelos brasileiros, e sua contribuição é precisa: "É, ele ganhou os três títulos mundiais no Japão e os três no mesmo ponto da pista", e continuou contando as histórias nos mínimos detalhes.

Ele é o "Google" dali. Pelo menos é assim que o define outro amigo, Felipe Machado de Luna, de 25 anos, que passou a manhã toda no cemitério com a esposa Natali Gomes, de 23, e o filhinho Enzo, de sete meses. Felipe logo deixa claro que não tem intenção de competir com o conhecimento de Marcelo, mas no quesito ferrarista, ele disputa pau a pau. "Eu queria colocar Enzo Ferarri, mas o cartório não deixou", diz, parecendo ainda não ter engolido muito bem os mandos da lei brasileira. Enzo Ferrari foi o fundador da escuderia italiana -- pela qual Ayrton nunca correu, aliás, o que não impede Marcelo e Felipe de serem ferraristas e sennistas ao mesmo tempo.

O ponto alto do encontro acontece quando os amigos resolvem posar para fotos com o pequeno Enzo ao lado das homenagens no túmulo. Enzo com o boneco Senninha, Enzo nos braços de Marcelo, Enzo com a mãe ao lado da foto de Ayrton. E nem nessa hora eles sossegam; o automobilismo parece estar na veia de cada um. Quando alguém vira para Natali e pede para que ela altere a configuração da câmera para que a foto saia melhor, Marcelo logo grita: "Coloca na mistura de combustível dois!", e ri sozinho da sua piada meio nerd.

Fórmula 1