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Controverso, Maldonado diz ter criado "um escudo contra as críticas"

Srdjan Suki/EFE
Imagem: Srdjan Suki/EFE

Livio Oricchio

Do UOL, em Barcelona (Espanha)

08/05/2014 16h47

Se existe um piloto que é capaz de ter, ao mesmo tempo, quem o ame e quem o veja com severas restrições é Pastor Maldonado, da Lotus, venezuelano, 29 anos. 

Nesta sexta-feira ele entra na pista para começar sua preparação para o GP da Espanha, no mesmo Circuito da Catalunha onde, em 2012, surpreendeu a todos ao estabelecer, com a decadente Williams, a pole position e, no dia seguinte, chocar a F1 ao vencer a prova. Isso não ocorria com a equipe inglesa havia sete anos, desde a corrida de Interlagos, em 2004.
 
Nesta entrevista exclusiva ao UOL Esporte, em Barcelona, Maldonado disse ter criado "um escudo contra as frequentes críticas" e estar, hoje, tão animado quanto há dois anos, quando compreendeu que tinha chances de um grande resultado. "O pessoal da Lotus merece uma surpresa como a que ofereci à Williams há dois anos", disse. 
 
"Eles realmente estão trabalhando muito, e são por demais capazes, para levar a Lotus à condição de poder vencer de novo. Aqui será o momento da virada da equipe." A Lotus ainda não pontuou nas quatro etapas disputadas este ano. Em 2013, a esta altura, já havia conquistado, com Kimi Raikkonen e Romain Grosjean, impressionantes 93 pontos.
 
O personagem Maldonado é controverso, para se dizer o mínimo. "Tudo na vida é assim. Existem os que gostam de você e até te admiram como os que sempre encontrarão algo no que você faz que servirá para ser criticado", comenta, resignado. "Tive de aprender a conviver com o fogo cruzado."
 
"Ele é um louco", afirmou Esteban Gutierrez, da Sauber. Na saída dos boxes, no GP de Bahrein, o venezuelano tocou na Sauber levando o mexicano a capotar o carro. "Hoje Pastor respondeu aos críticos. É um piloto velocíssimo e, quando dispõe de um bom carro, é capaz de vencer", disse Frank Williams, após à vitória do venezuelano na Espanha.
 
Mais exemplos desse ponto e contraponto da trajetória de Maldonado, que remonta ainda sua formação como piloto. Na corrida de Mônaco da Fórmula Renault 3.5 de 2005, não respeitou a bandeira amarela e atropelou um comissário, quebrando sua coluna. Recebeu quatro etapas de suspensão. Mas no ano seguinte, na mesma categoria, ganhou a prova no mesmo circuito de Monte Carlo. E, com raiva, foi primeiro no Principado já na GP2 um ano depois, 2007, e ainda em 2010. "Bela resposta, não?", lembra. 
 
Carro de Gutiérrez capota após toque com Maldonado no Bahrein - MARWAN NAAMANI/AFP - MARWAN NAAMANI/AFP
Carro de Gutiérrez capota após toque com Maldonado no Bahrein
Imagem: MARWAN NAAMANI/AFP
 
O empresário de Maldonado é o francês Nicolas Todt, filho do atual presidente da FIA e grande líder da Ferrari no período ultravencedor de Michael Schumacher. Nicolas o colocou no seu time na GP2, ART, em 2009, e enquanto Nico Hulkenberg conquistou o título, o venezuelano não fez nada. 
 
Mas na temporada seguinte, em outra equipe, a Rapax, o Maldonado ganhou seis etapas e se tornou campeão. Nicolas foi obrigado a reconhecer: "Não trabalhamos bem com Pastor."
 
Para Maldonado, tudo o que cerca seu caminho no automobilismo e gera controvérsia deveria ser visto mais profundamente. "Eu fui punido no acidente com Gutierrez porque ele capotou, pela espetacularidade do ocorrido. O Jules Bianchi (Marussia) fez a mesma coisa com o Adrian Sutil, na mesma corrida, e não foi punido." Maldonado faz a expressão de que quando as coisas são com ele há maior rigor nos julgamentos.
 
Só quem tem elogios a Maldonado são os venezuelanos. O piloto tinha um programa de rádio com seu mecenas, ninguém menos que o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chaves, chamado "Eu e o Presidente". Foi o dinheiro dos petrodólares da nação que bancou sua formação como piloto e o patrocina na F1. 
 
Para competir pela Lotus este ano, a conta é alta. Primeiro teve de rescindir o contrato com a Williams, que custou algo como 25 milhões de euros (R$ 85 milhões), mais o destinado ao novo time, outros 25 milhões de euros. "Nosso presidente criou vários programas de formação de esportistas, eu sou apenas um deles", explicou.
 
"Não me arrependo, em nada, de ter trocado a Williams pela Lotus. Este grupo aqui (a entrevista foi no motorhome da Lotus) sabe construir um carro vencedor", disse. "As quatro primeiras etapas foram nossa pré-temporada. Nossa maior dificuldade foi o motor Renault. Mas aqui há importantes mudanças no carro e esperamos que a nova versão do motor seja, de fato, muito melhor."
 
Os venezuelanos esperavam muito mais dele, reconhece Maldonado. "Sim, a Lotus terminou o ano passado lutando pelos primeiros lugares e até agora não fizemos pontos", afirmou. "Não querem saber que o regulamento é completamente diferente. Mas como disse o GP da Espanha será, para nós, o verdadeiro começo da temporada."
 
Pastor Maldonado por Pastor Maldonado: "Muito veloz, grande incentivador da equipe, não sei se piloto tão técnico, mas competente para ganhar e ser campeão na F1 se tiver um bom carro nas mãos, como provei neste mesmo circuito há dois anos." Um piloto perigoso, como dizem alguns colegas? "Absolutamente não. Apenas muito determinado a vencer."

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