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Fórmula 1

Surpresa na bandeirada: relembre as corridas inusitadas em Mônaco

19.05.96 - Olivier Panis deixa sua Ligier para festejar a vitória no GP de Mônaco, seu único triunfo na F1 - Pascal Rondeau/Getty Images
19.05.96 - Olivier Panis deixa sua Ligier para festejar a vitória no GP de Mônaco, seu único triunfo na F1 Imagem: Pascal Rondeau/Getty Images

Livio Oricchio

Do UOL, em Mônaco

20/05/2014 14h45

Como tudo no GP de Mônaco de Fórmula 1 começa um dia antes da programação normal das outras etapas, os trabalhos de montagem dos carros e de todo o cenário do evento mais charmoso da temporada estão já bem adiantados nesta terça-feira (20). Os treinos livres começam quinta-feira. 

Pilotos e equipes trabalham com uma previsão bastante desconfortável para a competição, em especial no domingo: chuva. Se o histórico da prova no circuito de Monte Carlo registra resultados surpreendentes com frequência, diante da possibilidade de a corrida ser disputada no molhado este ano as chances de a lógica não prevalecer no GP de Mônaco crescem ainda mais. 

Em outras palavras, Lewis Hamilton e Nico Rosberg, a dupla da Mercedes, deverão ter bem mais adversários na sexta etapa do calendário que os demais 20 pilotos. Vão torcer para não se envolverem em acidentes, eventuais entradas do safety car não os penalize na classificação e eles próprios não cometam erros, sempre bem mais fáceis nos 3.340 metros do Circuito Monte Carlo.

Voltar no tempo no evento que todos no paddock dizem ser o mais importante do campeonato, por muitos negócios começarem a ser costurados nos iates ancorados no porto, significa ter contato com personagens que a não ser no GP de Mônaco nunca foram grandes protagonistas da F1. 

Tiveram seu momento de glória ao fim das duas horas da corrida no Principado, por causa das inúmeras variáveis que interferem na definição do vencedor, e tanto antes como depois da prova nessa traçado único de 19 curvas lentas limitaram-se a ser apenas coadjuvantes do espetáculo. Vale a pena retroceder na história para reencontrá-los.

1972

Emerson Fittipaldi estava em grande forma, sua Lotus 72D-Cosworth era o melhor carro da temporada junto da Tyrrell de Jackie Stewart e da McLaren de Denis Hulme. Emerson estabeleceu a pole position e largaria como favorito. Mas amanheceu chovendo e o quarto colocado no grid aproveitou-se bem da menor potência do motor do seu BRM, tracionou melhor, e na primeira curva já liderava. Deixou para trás Emerson, Jacky Ickx, Ferrari, segundo no grid, e Clay Regazzoni, Ferrari, terceiro.

Em 2012, na celebração dos 40 anos daquele GP, o hoje repórter do UOL conversou com Jean-Pierre Beltoise, o quarto naquele grid. "Não fizemos nada o ano inteiro. O nosso chassi era bom, mas o motor... Pois foi isso que me permitiu ser rápido a corrida toda em Mônaco. Com o asfalto molhado, meu motor era perfeito, não tinha potência." De 1966 a 1974 Beltoise disputou 86 GPs. Aquela foi a única vitória na carreira. 

Jacky Ickx terminou em segundo e Emerson em terceiro. Com o resultado, pela primeira vez na história um piloto brasileiro liderava o Mundial, com 19 pontos, seguido por Ickx, 16.

1978

O modelo 79-Cosworth da Lotus quase passeou nas pistas naquele campeonato. O ítalo-americano Mario Andretti venceu seis etapas e foi campeão. Seu companheiro, o sueco Ronnie Peterson, vencedor de outras duas provas, acabou vice. 

O genial Colin Chapman, dono e o engenheiro que pensava seus monopostos, criou o chamado carro-asa. Um passo muito adiante em relação à concorrência.

Nas ruas de Mônaco, contudo, todo aquele avanço não significou muito. O francês Patrick Depailler, da Tyrrell, obteve a primeira vitória na carreira, com Niki Lauda, Brabham, em segundo, e Jody Scheckter, Wolf, terceiro. O favorito, Andretti, teve problemas e ficou em 11º, seis voltas atrás de Depailler. O francês venceria, depois, apenas mais um GP, na Espanha, em 1979.

1982

Uma das corridas mais bizarras da história da F1. Motores turbo e aspirados compartilhavam o grid naquela época. A pista de Mônaco tendia a ser mais favorável aos aspirados, pela maior faixa de utilização de giros do motor, ou dispor de mais potência nos regimes baixos e médios de rotação, os mais frequentes no traçado mais lento do calendário.

Cruzaram a linha de chegada na 75ª e penúltima volta: Didier Pironi, da Ferrari, em primeiro, Andrea De Cesaris, Alfa Romeo, em segundo, e Derek Daly, Williams, terceiro, mesmo com uma volta a menos, para se ter uma ideia do quão atrasado estavam os demais. 

Riccardo Patrese, da Brabham, assumiu o primeiro lugar na 74ª volta depois que Alain Prost, da Renault, errou e bateu na então veloz chicane depois do túnel. Começou a chover e logo em seguida Patrese rodou na Loews, mas regressou à corrida.

Na 76ª e última volta, De Cesaris, segundo colocado, abandona no Cassino por falta de combustível. Dentro do túnel é a vez de Pironi, líder, pelo mesmo motivo. Daly para a Williams na Piscina com a transmissão quebrada. O diretor de prova espera o vencedor. Mas ele não aparece. Finalmente Patrese surge na reta dos boxes e vence seu primeiro GP, com Pironi em segundo e De Cesaris em terceiro, ambos com uma volta a menos.

O campeão do mundo naquele ano, o finlandês Keke Rosberg, da Williams-Cosworth aspirado, bastante cotado para vencer a prova, largou em sexto e se acidentou. 

1983

Tudo estava pronto para a festa francesa naquele ano. Os motores turbo finalmente dominavam a F1. A Renault, reintrodutora dessa tecnologia na competição, em 1977, atingira bom grau de confiabilidade nos seus carros. E o ídolo local, o francês Alain Prost, da Renault, iria largar em primeiro com o compatriota René Arnoux, com Ferrari Turbo, em segundo.

Na segunda fila, o companheiro de Prost, o norte-americano Eddie Cheever, e o de Arnoux, o francês Patrick Tambay. Tudo indicava que um carro equipado com motor turbo finalmente venceria o GP de Mônaco.

Ledo engano. Prost e Tambay não têm o mesmo ritmo da classificação, Arnoux abandona com problema na suspensão e Cheever por causa do motor. Quem recebe a bandeirada em primeiro é Keke Rosberg, com Williams-Cosworth aspirado. Nelson Piquet, Brabham-BMW Turbo, termina em segundo e Prost em terceiro. De novo um piloto que não fazia parte da lista dos favoritos celebra a vitória no GP de Mônaco.

1992

A genialidade de Adrian Newey produziu para a Williams o notável modelo FW14B-Renault, campeão do mundo com Nigel Mansell já no GP da Hungria, tal o seu domínio naquele ano. Mansell e o companheiro, Riccardo Patrese, estabelecem a primeira fila do GP de Mônaco. 

A vantagem de Mansell sobre Ayrton Senna, com McLaren-Honda, segundo, era enorme. Na 71ª volta de um total de 78, Mansell avisa a equipe por rádio que vai parar. Suspeita de furo no pneu traseiro esquerdo. Faz a troca e volta, com pneus novos, atrás de Senna. Restam sete voltas para a bandeirada. 

Nas últimas três o inglês faz de tudo para retomar a liderança. Mas a sua frente está Senna, que apesar de estar com um carro bem meia lento não dá nenhuma chance a Mansell. Senna comemora a vitória como poucas vezes, a quarta seguida em Mônaco, com Mansell em segundo e Patrese em terceiro. Apenas as características da prova associadas ao talento de Senna poderiam justificar a Williams largar na frente e chegar atrás.

1996

A chuva forte que caiu antes da largada transformou a pista. Ninguém havia ainda andado no molhado no fim de semana. Michael Schumacher, Ferrari, é o pole position, com Damon Hill, Williams-Renault, segundo, Jean Alesi, Benetton-Renault, terceiro, e Gerhard Berger, Benetton-Renault, quarto.

Schumacher bate o carro, Hill abandona com problemas no motor, Alesi, na suspensão e Berger, câmbio. O francês Olivier Panis, da Ligier-Mugen Honda, que começou a corrida na 14ª posição, mantém ritmo regular e, enquanto os acidentes proliferam, ele vai crescendo na classificação.

No fim, o resultado é completamente distinto do esperado mesmo depois da definição do grid, sábado. Venceu Panis, sua única vitória nos 158 GPs que disputou, com o escocês David Coulthard, da McLaren-Mercedes, em segundo, quinto no grid, e o inglês Johnny Herbert, Sauber-Ford, em terceiro, 13ª no grid. Coisas do GP de Mônaco. 

2002

Não havia o que fazer contra a superioridade de Michael Schumacher e da Ferrari naquela temporada. O time italiano competia com pneus Bridgestone. Williams e McLaren, com Michelin. Os franceses da Michelin produziram um pneu supermacio para o GP de Mônaco, sabendo que seus pilotos teriam grandes chances de serem os mais rápidos na classificação.

Mas depois não havia certeza de que poderiam se manter à frente de Schumacher e Rubens Barrichello, a dupla da Ferrari, que seriam com certeza bem mais velozes na corrida, quando os pneus supermacios da Michelin estivessem desgastados,  o que não iria demorar muito.

A classificação se desenvolve como o previsto: Juan Pablo Montoya, da Williams-BMW, larga na pole position e David Coulthard, McLaren-Mercedes, em segundo, ambos com Michelin supermacio, e Schumacher em terceiro, com Bridgestone.

Na largada, Coulthard passa Montoya. Schumacher é o terceiro. Logo os pneus supermacios de Montoya e Couthard começam a se deteriorar. Mas Montoya tem perda de potência também. Schumacher tenta de todas as formas ultrapassar Montoya para encostar em Coulthard, pois sabia que no pit stop poderia ultrapassá-lo.

O tempo perdido atrás de Montoya, contudo, foi grande. Schumacher faz seu pit stop. A McLaren sabe que não pode perder tempo e chama Coulthard em seguida. O escocês consegue sair dos boxes pouco antes da passagem de Schumacher e mantém-se em primeiro. 

Apesar de muito mais rápido e de tentar de tudo, o alemão da Ferrari não confirma o favoritismo. A quase impossibilidade de se ultrapassar em Mônaco garante a vitória a Coulthard, com Schumacher em segundo e Ralf Schumacher, Williams, terceiro.

2004

Michael Schumacher, da Ferrari, se apresenta para o GP de Mônaco depois de vencer as cinco etapas iniciais do campeonato. Mas a Michelin apronta outra em cima da Bridgestone. Os quatro primeiros no grid são pilotos com os pneus franceses: Jarno Trulli, Renault, pole position, Ralf Schumacher, Williams-BMW, Jenson Button, BAR-Honda, e Fernando Alonso, Renault. 

Schumacher é apenas o quinto. Na 45ª volta da corrida se acidenta e abandona. Venceu Trulli com Button em segundo e Rubens Barrichello, Ferrari, terceiro.

2013

No ano passado, a Mercedes tinha um carro rápido mas seus pneus eram sempre os primeiros a acabar. Em Mônaco esse é um problema menor. Pois mesmo mais lento é possível manter-se na frente. Na classificação, a dupla da Mercedes ratifica sua superioridade numa volta lançada em fica com a primeira fila: Nico Rosberg na pole position e Lewis Hamilton em segundo.

Na corrida, mesmo mais lento que Sebastian Vettel, da Red Bull, segundo, Rosberg recebe a bandeirada em primeiro. O alemão fica em segundo e Mark Webber, companheiro de Vettel, em terceiro. Hamilton acaba apenas em quarto. Mais uma vez os favoritos chegaram atrás.

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