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Fórmula 1

Inspeção da FIA contra recurso proibido antecipa emoções do GP da Alemanha

Livio Oricchio

Do UOL, em Heidelberg (Alemanha)

16/07/2014 13h19

A atenção dos profissionais da F1, dos fãs e da imprensa pelo GP da Alemanha, décima etapa do campeonato, a ser disputada no fim de semana, vai começar mais cedo desta vez. Precisamente já amanhã, na inspeção técnica dos carros no Circuito de Hockenheim. Os primeiros treinos livres começam sexta-feira, às 5 horas, horário de Brasília.

A razão de tanto interesse no trabalho dos comissários na prova alemã tem uma explicação: a FIA proibiu o chamado Fric, recurso utilizado por todas as equipes, algumas com mais outras com menos eficiência. O termo Fric vem de Front and Rear Interconnection System, ou sistema que interconecta a frente e a traseira do carro, através de um circuito hidráulico.

Seu uso destina-se a reduzir os já poucos milímetros que a frente do carro abaixa nas frenagens e se eleva nas acelerações, bem como as inclinações laterais nas curvas. Com o carro mais estável, essas oscilações sendo bem menores, há um importante acréscimo na geração de pressão aerodinâmica, o que significa maior velocidade de contorno das curvas, menor desgaste dos pneus, dentre outros benefícios.

Há cerca de suas semanas, durante a corrida de Silvertone, na Inglaterra, Charlie Whiting, delegado da FIA, informou os representantes dos 11 times da F1 que, a não ser que todos concordassem em estender a permanência do Fric até o fim da temporada, estaria proibido já a partir do GP da Alemanha.

O inglês utilizou um argumento esdrúxulo, para se afirmar o mínimo: "Necessidade de conter os custos". Detalhe: vai custar mais caro rever o projeto do carro sem o uso do Fric do que mantê-lo até o fim do ano. Para 2015 sua proibição já foi estabelecida.

Obviamente as escuderias que têm o sistema menos desenvolvido viram na decisão da FIA a chance de não serem tão mais lentas que as que têm o Fric bastante avançado, como é o caso da Mercedes. E votaram contra a continuidade do sistema.

A votação é secreta. Mas não é preciso muito esforço para entender que a maioria votou a favor da proibição já. É uma tentativa de reduzir a importante vantagem técnica da Mercedes, resultante da competência de seus profissionais e capacidade de investimento.

É por isso que a inspeção técnica do GP da Alemanha, amanhã, ganhou maior importância. Será que algum time vai desafiar a decisão de Whiting para depois brigar nos tribunais, alegando que o projeto de seus carros já previa o Fric e que a sua retirada implicaria revisão profunda de todo o conjunto?

É pouco provável que, por exemplo, a Mercedes tenha transportado o modelo W05 Hybrid do líder do Mundial, Nico Rosberg, de contrato estendido, agora, para Hockenheim, equipado com o Fric. Não deseja correr riscos. Por isso a pergunta que está no ar é quanto não só a Mercedes como os demais vão perder em termos de desempenho sem o Fric?

Niki Lauda, sócio e diretor da equipe Mercedes, já se pronunciou a respeito: "Não entendo o motivo de a FIA considerar o sistema ilegal apenas agora, na metade da temporada, se nós a consultamos antes de usar, há três anos, e recebemos autorização". Falou mais: "Vai afetar todos, claro, mas menos do que alguns acreditam".

O ex-piloto austríaco dá a entender que, de novo, a FIA muda as regras durante a competição a fim de reduzir a força de um concorrente que se mostra muito mais rápido que os demais. E nem o mais inocente dos que se interessam por F1 pensa diferente, o objetivo é esse mesmo.

Mas o evento de Hockenheim tem outros desafios para os 22 pilotos e as 11 escuderias. Por exemplo, faz muito calor na Alemanha. Nesta quarta-feira a temperatura no autódromo já passou dos 30 graus e será assim até sábado, segundo a meteorologia. No domingo cai um pouco e pode até chover.

A questão é que a Pirelli distribuiu aos times os pneus mais moles de sua gama, os macios e os supermacios. Com o elevado calor será um exercício e tanto administrar o desgaste dos pneus.

Quem se apresenta para o GP da Alemanha com especial interesse também é Fernando Alonso, da Ferrari. Mesmo sabendo que a performance do modelo F14T italiano ainda está distante da exposta pelo W05 Hybrid da Mercedes até o GP da Grã-Bretanha, o seu histórico recente em Hockenheim é animador.

As duas últimas edições da prova disputada no circuito foram vencidas por Alonso, com Ferrari. Em 2012, depois de largar na pole position, aliás a sua última pole, e na polêmica corrida de 2010, aquela em que Rob Smedley, engenheiro da Ferrari, ordenou no rádio, através de um código decifrável até por uma criança, Felipe Massa permitir ao espanhol ultrapassá-lo a fim de vencer. Massa terminou em segundo.

A prova alemã deste ano pode representar, ainda, um novo momento das equipes que competem com unidade motriz, ou seja, o motor V-6 de 1,6 litro Turbo e os dois sistemas de recuperação de energia, produzida pela Renault. Nos testes de Silverstone, na semana passada, Pastor Maldonado, da Lotus-Renault, disse ter ficado impressionado com a versão da unidade motriz que utilizou: "Responde com o dobro de potência".

Exageros à parte, a Renault pode permitir que o tetracampeão do mundo, Sebastian Vettel, da Red Bull, por exemplo, produza mais na corrida de casa. Heppenheim, onde nasceu, cresceu e a família ainda reside, fica a meia hora de carro, apenas, no Circuito de Hockenheim.

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