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Fórmula 1

Bi de Hamilton marca volta por cima após racha, brigas e troca de religião

Marcelo Freire e Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

24/11/2014 06h00

Lewis Hamilton surgiu com uma carreira meteórica na Fórmula 1. O garotinho criado sob as asas da McLaren foi segundo colocado em sua primeira temporada. No ano seguinte, lutou até o fim contra Felipe Massa e se tornou, à época, o mais jovem campeão da Fórmula 1 – Sebastian Vettel bateria essa marca. Mas, do fim de 2008 até o título de 2014 conquistado no último domingo em Abu Dhabi, sua vida virou uma montanha russa, com direito a rachas com o pai, brigas com a namorada e colegas de equipe e até uma mudança de religião.

Foi preciso de uma volta por cima e uma guerra contra Nico Rosberg para o inglês retomar o protagonismo, que parecia ser o único papel que ele tinha para cumprir quando chegou à Fórmula 1.

Se em 2014 ele conquistou 11 vitórias, de 2009 a 2013 foram, no total, só duas a mais: 13. O principal fator para sua decadência em termos de resultado foi a troca de forças no pelotão de frente da categoria. A Red Bull soube usar melhor as regras, fez melhores carros e ainda teve um grande talento à sua frente, com Sebastian Vettel. Assim, o inglês se alternou entre 4º e 5º lugares.

Na parte competitiva, a grande mudança veio com sua saída da McLaren, indo para a Mercedes no começo de 2013 para formar dupla com Rosberg na escuderia alemã. A primeira temporada foi mediana, com mais um quarto lugar geral. Mas, 2014 veio e com ele uma nova Mercedes, bem à frente da concorrência. Mesmo abandonando na primeira prova, Hamilton brilhou com seu estilo arrojado. Venceu as quatro provas seguintes, deixou Rosberg reagir, mas retomou a liderança com uma série de cinco triunfos na metade final do campeonato.

Mas não foram só a pista, os carros e seu desempenho que sofreram nos últimos anos. Apesar de os pilotos tentarem manter a vida pessoal com discrição, Hamilton transpareceu passar por problemas e perder o controle em alguns momentos, seja com pessoas próximas ou com companheiros de profissão.

A própria troca de McLaren pela Mercedes foi tensa e marcada por uma briga com Ron Dennis, seu grande tutor na Fórmula 1, o diretor que o acolheu e apostou no jovem inglês como grande revelação de sua época. Ambos sempre tiveram algumas rusgas, inclusive quando Hamilton dividiu o time com Alonso. Isso cresceu com a falta de resultados, gerando a saída do piloto mais tarde, rumo à Mercedes.

O novo Hamilton

  • REUTERS/Ahmed Jadallah

    Eu não sei por que, mas comparado a 2008, eu estava muito mais relaxado. Eu só podia esperar por ser um sinal positivo, e era. Eu estava muito mais compenetrado

    Lewis Hamilton,, comparando sua conquista de 2008 com a de 2014

Nem com o próprio pai o inglês estava se entendendo. Em 2010, ele anunciou que Anthony Hamilton não estava mais gerenciando sua carreira. “Tenho 25 anos e cuido da minha vida agora. Estou na F-1 há um tempo e não conseguiria fazer isso sem meu pai. Ele fez um trabalho fantástico, mas acabou”. E o trocou por uma empresa sem experiência com a categoria.

Até na vida amorosa e na religião houve problemas e mudanças. O relacionamento com a cantora Nicole Scherzinger, bela que sempre foi de aparecer para acompanhar os GPs, teve suas idas e vindas. Em suas crenças, passou a seguir a cientologia, crença mística que junta partes do budismo, hinduísmo e acredita que a salvação depende da interação do homem com a “comunidade cósmica”.

Manchetes acusaram o “inferno astral”, os britânicos deixaram de crer em Hamilton e, mesmo que ele continuasse entre as grandes forças com seus quartos lugares ao fim dos Mundiais, era muito pouco para quem chegou à categoria com tantas apostas sobre seus ombros.

O Hamilton de 2014 ainda é o piloto arrojado do início de carreira. Venceu mais, mas foi superado por Rosberg nos treinos. Errou mais, arriscou ultrapassagens e até bateu no alemão. Mas, ao fim da temporada, prevaleceu o fim daquele tal “inferno astral”. Competência de largar bem, roubar a primeira posição de Rosberg e liderar a prova. E sorte de não ter tantos problemas no carro quanto o companheiro e ainda fechar o título no lugar mais alto do pódio. 2015 está aí, e a Mercedes já fala até em renovar por muitos anos com o piloto. Agora vai?

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