Com choro, Senna, invasão e chuva, Barrichello vencia 1º GP há 15 anos
Não faltou drama na primeira vitória de Rubens Barrichello na Fórmula 1, que completa 15 anos hoje e representou a queda de um jejum de quase sete anos sem vitória do Brasil na categoria, sendo a primeira conquista nacional da era pós-Senna.
Na época, tratava-se do maior jejum da história brasileira desde o primeiro triunfo de Emerson Fittipaldi em 1970 e a pressão estava toda em cima de Barrichello, que fazia sua primeira temporada pela Ferrari depois de ter corrido pelas medianas Jordan e Stewart. Mas o brasileiro respondeu com estilo: com pista molhada, venceu saindo da 18ª colocação no grid na Alemanha.
A má posição de largada era fruto de uma quebra durante a classificação. Então líder do mundial, o companheiro de Barrichello, Michael Schumacher, largava em segundo, mas logo nos primeiros metros se envolveu em um acidente com Giancarlo Fisichella e ficou pelo caminho. Todo o foco da Ferrari, então, estava voltado a Rubens que, na primeira volta, já era o 10º. Na quinta, ocupava o quinto posto, enquanto as McLaren de Mika Hakkinen e David Coulthard abriam na ponta.
Porém, a prova ainda teria algumas reviravoltas: na volta 25, um ex-empregado da Mercedes-Benz resolveu entrar na pista para fazer um protesto contra a montadora que fornecia motores à McLaren. Isso beneficiou Barrichello, que adotara uma estratégia diferente e ficou na pista, enquanto os demais pararam para reabastecer. O brasileiro era terceiro.
A chuva
Até que começou a chover e a maioria dos pilotos logo trocou os pneus. Barrichello, por sua vez, convenceu a equipe de que não era necessário parar e seguiu na pista, em decisão que lhe colocou na ponta. “Ross [Brawn, estrategista da Ferrari na época] me disse que o Mika ia trocar pneu e eu disse 'eu quero ver como vai ser, vamos ficar mais uma volta'. E depois disso ele disse, 'continue, Rubens, porque você vai ganhar se mantiver esse ritmo'. Foi ótimo, porque os pneus de pista seca ainda estavam indo muito bem nas retas”, revelou o brasileiro após a prova.
Na época, corria-se no velho Hockenheim, de 6,8km, que cruzava a floresta. Como chovia na parte dos boxes, mas não no restante do circuito, os pilotos que estavam com pneus de chuva não eram rápidos o suficiente para chegar em Rubinho, que se segurava na pista na parte conhecida como do estádio. Mesmo com a chuva apertando nas duas voltas finais, o brasileiro não foi alcançado pelas McLaren e levou a bandeira brasileira para o pódio pela primeira vez desde o GP da Austrália de 1993.
Homenagem a Senna
Com direito a tema da vitória, que ficara marcado pelos triunfos de Senna, Barrichello celebrou com muito entusiasmo sua primeira conquista, obtida em sua 124ª prova da carreira e no oitavo ano na categoria. Mas a cena mais característica da conquista foi o choro incontido no pódio. Rubinho dedicou a vitória a Senna. “Estava esperando por isso há muito tempo. Dedico a vitória a Ayrton Senna, que me ajudou muito na minha vida desde 1984. Fico pensando nele, na minha esposa e na minha família. Senna era o melhor para mim e o segui muito de perto e ele fez muito por mim. E claro, sei que muitas pessoas me colocaram onde estou agora.” O piloto, hoje na Stock Car, revelou ter pensado no tricampeão e nas dificuldades que passou com o pai durante sua carreira esportiva.
“Depois que Ayrton nos deixou, muitas pessoas me colocaram no seu lugar. Muitos gostaram, mas outros não, e eu fiquei no meio da confusão”, disse o piloto, então com 28 anos. “Ninguém gosta do Rubens: ou ama, ou odeia. Então só quero agradecer aqueles que ficaram do meu lado, principalmente meu pai.”
Barrichello ainda venceria outras 10 provas na carreira, sendo oito pela Ferrari e duas pela Brawn. O brasileiro se aposentou da Fórmula 1 ao final da temporada de 2011, quando corria pela Williams.
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