Ex-presidente do Atlético de Madri quis equipe na F-1 e sonhou em ter Senna
No dia 7 de julho, a HBO estreou na Espanha a série El Pionero, produção que conta a história de Jesús Gil y Gil. O empresário, morto em 2004 aos 71 anos, foi prefeito da cidade de Marbella entre 1991 e 2002, além de ter presidido o Atlético de Madri entre 1987 e 2003.
Sob sua gestão, o clube conquistou resultados expressivos: venceu o Campeonato Espanhol uma vez (temporada 1995/1996) e três vezes a Copa do Rei (1991, 1992 e 1996). Em contrapartida, o Atlético foi rebaixado na temporada 1999/2000, passando dois anos longe da elite.
A série dirigida por Enric Bach e Justin Webster recorre a um rico acervo de imagens para contar histórias do polêmico Gil y Gil na política e no esporte. Mas entre vários temas, o homem retratado em El Pionero protagonizou uma história menos conhecida entre o público brasileiro: a tentativa de comprar a Brabham, equipe de Fórmula 1 que conquistou quatro Mundiais de pilotos e dois de construtores entre as décadas de 1960 e 1980.
Aconteceu justamente em 1987, ano em que Jesús Gil y Gil assumiu como presidente do Atlético. Naquela temporada, a Brabham vinha tentando se reconstruir na Fórmula 1. Depois de ser campeão pelo time em 1983, Nelson Piquet foi embora no fim de 1985 para guiar pela Williams; o time apostou então na volta de Riccardo Patrese, titular em 1982 e 1983.
Mas Patrese não emplacou. Nos dois anos do ex-Benetton como titular, ao lado de companheiros como Elio de Angelis, Derek Warwick e Andrea de Cesaris, o time somou apenas 12 pontos, conquistando dois pódios em 1987. Em meio a vários problemas nos bastidores, o time inclusive ficou fora da temporada de 1988 por falta de um acerto com uma fornecedora de motores.
Foi neste cenário caótico que Jesus Gil y Gil apareceu. Graças à fortuna feita no ramo imobiliário, o dirigente se aproximou da categoria para tentar comprar uma equipe. A Brabham foi a escolhida - mas, para isso, seria necessário o apoio do Governo espanhol. O investimento total era calculado em 3 bilhões de pesetas, a moeda espanhola da época (algo em torno de R$ 85 milhões em valores atuais).
"O presidente do Atlético de Madri, Jesús Gil y Gil, enviou um informe ao Conselho Superior de Esportes explicando as vantagens que a Espanha poderia ter, em sua opinião, na aquisição da equipe Brabham, de propriedade do britânico Bernie Ecclestone e avaliada em mais de 3 bilhões de pesetas. Gil pretende realçar a imagem de nosso país, de olho na Feira Mundial e nos Jogos Olímpicos de 1992", publicou o jornal El País em 1º de agosto de 1987. Sevilha recebeu a Feira Mundial de 1992.
Os rumores logo ganharam repercussão na Europa. Patrese e De Cesaris eram os favoritos às vagas no time, mas a possibilidade de uma volta de Nelson Piquet era admitida pelo próprio Gil y Gil - o brasileiro receberia um salário anual de US$ 2 milhões. Pilotos espanhóis também estavam na lista de especulações, como Adrián Campos (então na Minardi), Luis Pérez-Sala (que estrearia justamente na Minardi em 1988) e Alfonso de Vinuesa (então na Fórmula 3000, não chegou à F-1).
"Neste momento, há negociações para isso. Estou disposto a realizar a compra se tiver apoio suficiente do Governo", disse Gil y Gil na época, segundo o jornal El Confidencial. O dirigente chegou a se encontrar com Bernie Ecclestone no Grande Prêmio da Alemanha de 1987, em julho daquele ano, para discutir valores. O negócio já era dado como certo.
"A notícia explodiu como uma bomba: o novo presidente do Atlético de Madri, Jesús Gil y Gil, compra a escuderia de Bernie Ecclestone, a Brabham, que compete no Campeonato Mundial de Fórmula 1. Gil y Gil, um comerciante que já esteve preso acusado de contrabando, é conhecido por seu método de só trabalhar com grandes estrelas. Resta saber qual o futuro dos pilotos Andrea de Cesaris e Riccardo Patrese na equipe. Uma coisa é certa: Gil y Gil tem dinheiro de sobra para injetar na Brabham", noticiou no Brasil a revista Placar publicada em 3 de agosto de 1987.
Ayrton Senna na Brabham
Enquanto a negociação não se concluía, mais e mais rumores surgiram. Em 22 de agosto, o jornal Mundo Deportivo publicou detalhes de uma entrevista de Gil y Gil ao diário esportivo francês L'Équipe, no qual dizia que pretendia contar com Ayrton Senna (então na Lotus) e os motores Honda (que equipavam a Williams e a própria Lotus). Pouco tempo depois, até mesmo Alain Prost (McLaren) demonstrou irritação com a boataria.
"Estas incríveis declarações de que (Gil y Gil) vai tentar contratar Senna, ou que vai conseguir os motores Honda: como é possível dar crédito a declarações tão fantasiosas?", questionava Prost ao Mundo Deportivo de 3 de setembro. "Nesta história, tudo parece longe da realidade. O mais chato do assunto é que, para o grande público, dá-se uma imagem equivocada e inexata do que é a Fórmula 1. E a definição é muito simples: a Fórmula 1 não é nada mais que um assunto de negócios."
No fim, a negociação não saiu. Bernie Ecclestone ficou com a equipe, mas não conseguiu colocá-la no grid em 1988. No fim daquele ano, porém, o dirigente vendeu a Brabham para Walter Brun, que a repassou pouco tempo depois para Joachim Luhti, um investidor suíço que conseguiu inscrever a escuderia na temporada 1989.
Mas o sonho durou pouco. Nos anos seguintes, a Brabham mostrou resultados fracos, longe das performances que deram títulos a Jack Brabham (1966), Denny Hulme (1967) e Nelson Piquet (1981 e 1983). Em 1992, sofrendo para conseguir se classificar para os grids, o time se despediu da Fórmula 1. Na última corrida, com apenas um carro, conseguiu o 11º lugar na Hungria com o novato Damon Hill.
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