Ordem da Ferrari na Rússia lembra estopim de rivalidade Senna x Prost
O GP da Rússia, disputado no último domingo, deixou claro o nível de competitividade interno que existe na Ferrari hoje entre o tetracampeão Sebastian Vettel e o jovem Charles Leclerc, que faz seu ano de estreia na escuderia. A fim de garantir o melhor resultado possível para a equipe, a Ferrari pré-estabeleceu uma tática na largada, que acabou sendo desafiada por Vettel, em história que guarda semelhanças ao episódio que é considerado o estopim da rivalidade entre Ayrton Senna e Alain Prost.
Os dois já vinham disputando fortemente na pista e nos bastidores da equipe McLaren desde a chegada de Senna, em 1988 e, devido ao amplo domínio do time na época, o chefe Ron Dennis tinha estabelecido uma série de acordos internos entre seus pilotos. Um deles era de que não haveria tentativas de ultrapassagem entre os dois na primeira volta após a largada.
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No GP de San Marino de 1989, contudo, Senna largou da pole e manteve a posição inicialmente. Mas houve uma relargada após o fortíssimo acidente de Gerhard Berger na Tamburello, que interrompeu a prova por uma hora. Desta vez, Prost largou melhor e assumiu a ponta. Mas, logo depois, Senna colocou de lado e o passou com facilidade. O brasileiro disse após a prova que o acordo não valia naquele momento porque aquela não era mais a primeira volta, devido à relargada, mas isso não convenceu Prost, que alegava não ter defendido justamente por não esperar a manobra.
"Eles quebraram a confiança um do outro", disse Ron Dennis anos depois o ocorrido. "Eles fizeram acordos um com o outro várias vezes, e esse foi o que o público ficou sabendo. Havia uma tensão e raiva tremendas. Aqueles dois eram iguaizinhos em nível de desonestidade."
Após a ultrapassagem, em momento algum Prost conseguiu ameaçar Senna naquela prova, e acabou chegando 40s atrás. O francês, contudo, afirmava que não tinha tentado defender a manobra de Senna porque era algo que o tal acordo não permitia.
É uma posição semelhante à de Charles Leclerc no último domingo. Na Ferrari, o plano era que Vettel, que largaria em terceiro, pegasse o vácuo do carro de Leclerc, pole, para evitar que Lewis Hamilton o fizesse. Afinal, era muito importante para a Ferrari terminar a primeira volta com as duas primeiras posições, devido à estratégia de largar com pneus mais macios.
Caso Vettel conseguisse usar o vácuo para passar Leclerc, ele devolveria a posição - primeiro porque o monegasco não tentaria evitar esse vácuo e, segundo, porque ele não defenderia se Vettel colocasse de lado.
O alemão, de fato, passou Leclerc na segunda curva, mas argumentou com o engenheiro via rádio que tinha tido uma largada melhor, então merecia ficar à frente. Enquanto isso, Leclerc pedia a inversão porque sequer tinha tentado parar o companheiro devido ao combinado prévio. A equipe disse ao monegasco que a troca seria feita depois, e orquestrou as trocas de pneus para que ele voltasse na frente. Logo depois, contudo, o motor de Vettel quebrou na hora exata para que a tática da Mercedes, de largar com pneus mais duros, funcionasse e foram Hamilton e Bottas que fizeram a dobradinha.
Na Ferrari, o chefe Mattia Binotto tratou de colocar panos quentes na polêmica, e disse que a questão seria trabalhada internamente. Ambos os pilotos saíram dos carros dizendo que tinham feito o combinado e Leclerc destacou que segue confiando no companheiro. "Isso não muda a confiança entre nós e isso é importante para a equipe."
Esse, contudo, não é o primeiro episódio em que Leclerc e Vettel têm visões diferentes sobre algo combinado internamente. No GP da Itália, o monegasco deveria dar o vácuo ao alemão na classificação, mas não o fez, dizendo-se atrapalhado por outros pilotos. Na ocasião, Vettel cobrou explicações, e Binotto disse ao monegasco que ele estava perdoado após vencer a corrida.
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