Lewis Hamilton quer que governo brasileiro invista em "causas melhores"
José Edgar de MatosDo UOL, em São Paulo (SP)
Lewis Hamilton quer ser mais do que um piloto, como comentou em conversa com o UOL Esporte que irá ao ar em breve. Durante evento da Petronas, ocorrido ontem (13) na capital paulista, o hexacampeão mundial de Fórmula 1 palpitou até sobre que tipo de investimento o governo brasileiro deveria fazer. Assumindo perfil ativista nos últimos tempos, especialmente sobre a causa ambiental, o britânico cobrou uma atenção maior em dois itens: educação e sustentabilidade.
Sem citar as crises ambientais ocorridas no Brasil em 2019 (incêndios na Amazônia e a presença de constantes manchas de óleo no litoral), Hamilton sonha com a defesa total da floresta tropical. Inclusive, se mostrou incomodado com a possibilidade de uma grande área verde virar um circuito de corridas; no caso, no Rio de Janeiro, local favorito para sediar a categoria a partir de 2021 para o governo de Jair Bolsonaro.
"O Brasil é um país tão bonito. A floresta é tão importante para o nosso futuro. Precisamos focar no controle do clima. Querem derrubar árvore? Não terão o meu apoio. O Rio de Janeiro é um lugar muito bonito, inclusive quero passar mais tempo lá, mas não em um circuito que vai derrubar floresta", sentenciou em entrevista coletiva o piloto britânico, que até abusou de números para reforçar o próprio discurso de sustentabilidade.
"Não quero correr em um circuito que prejudicou o meio ambiente, em uma terra tão bonita para o nosso futuro. As mudanças climáticas estão cada vez piores. Esta é uma área que precisamos atacar, pois me disseram que destroem algo como um campo de futebol na floresta a cada dia", acrescentou o hexacampeão mundial de Fórmula 1.
Hamilton acabou inserido nesta discussão pela questão do autódromo de Deodoro. Da opinião de que a Fórmula 1 deveria permanecer em São Paulo, o britânico evitou qualquer discurso ponderado e exibiu a própria opinião sobre o assunto, tendo como base o que encontrou em todas as visitas ao Brasil.
O inglês chegou a São Paulo na manhã de ontem e se dirigiu imediatamente para o evento da Petronas. No caminho de Guarulhos até a Zona Sul, encontrou os contrastes típicos da metrópole, com favelas e condomínios de alto padrão separados por poucos metros. A entrevista, inclusive, ocorreu no Panamby, bairro nobre paulistano.
"Honestamente, vai muito dinheiro para construir isso [circuito no Rio de Janeiro]. Não precisa cortar mais árvores, não precisa cortar mais da floresta tropical. O dinheiro pode ir para uma causa melhor. O governo tem muita coisa para fazer, pois ainda há muita pobreza no país. Se fosse meu dinheiro, colocaria em uma causa melhor; educação é a chave", discursou.
Sobrou até para a F1
Além do Brasil, a própria Fórmula 1 também recebeu críticas do campeão da temporada 2019. Hamilton quer uma política sustentável mais firme e promete fiscalizar a categoria máxima do automobilismo quando se aposentar. O britânico de 34 anos, por sinal, cogita permanecer no esporte até os 40.
"A Fórmula 1 pode fazer muita coisa. Vejo o noticiário sobre todos os carros de rua virarem híbridos até 2040. Fico perguntando se não podemos fazer isso agora. Viajamos muito, é um circo gigantesco de viagem. Seria interessante aliviar a carga destas viagens. Há muito plástico e muito lixo que é gerado a cada fim de semana", reclamou.
"Devemos ser uma iniciativa mais sustentável. Acho que a Fórmula 1 precisa usar produtos sustentáveis, como garrafas e caixas. (...) Temos que deixar um rastro de limpeza na F1; já estamos fazendo bastante em relação ao motor, consumindo menos combustíveis. Espero que a gente possa seguir nesta trajetória", encerrou o piloto da Mercedes.