Teste a cada 5 dias e "bolha": Mariana Becker conta como será voltar à F1
A Fórmula 1 vai começar neste final de semana após quatro meses de atrasos causados pela pandemia por covid-19. Será uma temporada completamente diferente de todas. Pronta para embarcar em seu 13º ano na F1, a jornalista Mariana Becker falou sobre os protocolos sanitários que serão a nova rotina na cobertura da modalidade e também relembrou de momentos importantes de sua carreira como correspondente da "TV Globo".
A estreia do Mundial de F1 de 2020 será com o Grande Prêmio da Áustria. A corrida é no domingo, 5 de julho, e a largada está prevista para às 10h10 (de Brasília). Muitas coisas representarão grande novidade, tanto para as escuderias quanto para todos os outros profissionais envolvidos na competição.
"Seremos testados a cada cinco dias. Já começa por aí. O itinerário dentro do paddock também será muito limitado. Nós, da TV, não poderemos usar a sala de imprensa, pois uma vez que você entra, não pode mais sair. Teremos bolhas de convivência, grupos pequenos de equipes que podem ficar mais perto uns dos outros e trocar informações", contou Mariana.
"No meu caso, a bola será eu, o cinegrafista, o produtor e um assistente. Podemos até interagir com outros grupos, mas respeitando a distância de dois metros entre as pessoas. As entrevistas também vão sofrer alterações. Só teremos um piloto ou um chefe de equipe por vez. E ficaremos longe deles. O pódio e o grid também serão diferentes. Vai ser tudo bastante limitado. Mas como já estamos esperando por isso há muitos meses, vamos conseguir nos adaptar e aproveitar o que temos", acrescentou a jornalista da TV Globo.
Mariana está prestes a embarcar em sua 13ª temporada de Fórmula 1. Fã de automobilismo, ela é pioneira quando o assunto é mulher na cobertura de uma modalidade ainda considerada predominantemente masculina. No papo com o UOL Esporte, a jornalista comentou sobre a falta de representantes femininas, a relação com Galvão Bueno e outros temas importantes.
Confira abaixo a entrevista com Mariana Becker:
A falta de mulheres em todos os setores da Fórmula 1
"Você vê pouquíssimas mulheres neste ambiente, embora hoje já seja possível ver mais, principalmente na área de jornalismo. Mas ainda não vê muitos pilotos do sexo feminino. Na Fórmula 1 não tem. No máximo ficam dentro das fábricas e pilotam simuladores para ajudar a desenvolver os carros. Na Fórmula 2 e na Fórmula 3 já conseguimos ver pilotos mulheres, mas ainda é pouco. Existe uma dificuldade grande para conseguirem chegar neste ponto, porque existe preconceito. Há quem diga que as mulheres não têm capacidade física. Há quem ainda tenha a coragem de dizer que as mulheres não têm capacidade psicológica. Se você ainda ouve este tipo de coisa dentro do esporte é porque o preconceito existe. Você também vê poucas mulheres em posições de comando".
Mariana mora em Mônaco e vive encontrando famosos no mercado
"Logo que eu me mudei para Mônaco, achei engraçado ir ao supermercado e cruzar com a princesa Stéphanie empurrando o carrinho de compras. Lembro que fiquei surpresa. Depois de um tempo você se acostuma. O lugar é muito pequeno. Eu acabo identificando muitos esportistas, como o Djokovic, e pilotos, como o Hamilton, o Hulkenberg e o Ricciardo. Estão sempre andando de um lado para o outro e você acaba esbarrando com eles. Como é um lugar onde tem muita gente famosa em proporção ao espaço, eles ficam mais à vontade. Não tem tanta gente pedindo autógrafos. O assédio lá é menor".
"Galvão enxergou o meu valor"
"Comecei a trabalhar mais com o Galvão quando fui para a Fórmula 1 mesmo. Havia feito poucos eventos com ele antes disso. A minha relação com ele é super boa, nos respeitamos muito. Sei o imenso valor que ele tem e ele enxergou o meu valor também. É um cara muito engraçado. Tem uma maneira de narrar muito peculiar e de um valor impressionante. Poucas pessoas no Brasil têm a capacidade de dar a emoção a uma ultrapassagem como ele. É um narrador admirável, além de ser um amigo querido".
Emoção na despedida de Felipe Massa
"Um piloto terminando a sua carreira e sendo aplaudido debaixo de chuva ao voltar para o box a pé. Uma cena de cinema. Para mim, aquilo também era a despedida do último piloto brasileiro na Fórmula 1. Seria a primeira vez, depois de 48 anos, que o Brasil não teria mais um representante na categoria. Cobri muitos momentos importantes da carreira de Felipe Massa, inclusive o grave acidente de 2009. Foi um vencedor na Fórmula 1, vice-campeão mundial, um cara que mostrou uma garra impressionante. Era muito querido lá dentro. Durante a carreira, teve momentos de uma raça contagiante, que é algo que o brasileiro adora. Não ganhou o campeonato mundial de 2008 por uma curva".
A Fórmula 1 sem brasileiros
"O interesse pela Fórmula 1 continua alto no Brasil, mas é ruim não termos um representante no esporte que, por muitos anos, o Brasil dominou e virou referência. Até hoje os pilotos brasileiros são vistos com respeito pelo que foi plantado por quem veio antes. Não só pelos campeões mundiais, mas por outros que foram brilhantes.".
Rubinho comentarista e repórter também era piadista nas horas vagas
"O Rubinho trabalhou como comentarista comigo no grid e a época em que estivemos juntos foi muito divertida. Ele é engraçado, estava sempre me provocando a ter um ataque de riso a qualquer momento. Era muito legal quando íamos para o grid. Batíamos uma bola boa".
Cobrança por novidades de Schumacher
"Em todo ambiente que não seja ligado à Fórmula 1, sempre me perguntam sobre o Schumacher. No ambiente do esporte as pessoas sabem que não há novidade. O Schumacher está blindado pela família, em um sinal de respeito pela pessoa dele. Não sei em que condições ele está. A família quer protegê-lo de qualquer tipo de capa sensacionalista, comparação de antes e depois. Eles querem preservar a pessoa e o ídolo Michael Schumacher. O que tem de novidade é o que sai da Sabine Kehm, que é a assessora de imprensa da família".
Polêmica entre Grande Prêmio Rio x São Paulo em Interlagos
"É uma questão política que envolve ramificações mais profundas e abrangentes do que o esporte ou a própria pista. Mais importante do que onde vai ser a corrida aqui é não perdermos o direito de ter um Grande Prêmio do Brasil do calendário da Fórmula 1. É um espaço do qual não podemos abrir mão".
"A morte sempre choca"
Infelizmente cobri o acidente do Jules Biachi no dia em que ele aconteceu. Estava chovendo muito no Japão, que é um dos meus lugares favoritos. Na hora da batida, quando vimos a imagem, já sabíamos que havia sido algo muito grave. Eu saí correndo para perto do Centro Médico. Aos poucos fomos tendo notícias e fui passando as atualizações. Foi muito triste, porque eu conheci o Jules Biachi quando ele ainda estava na Academia de Pilotos da Ferrari, muito jovem. Depois o acompanhei na Fórmula 1, ainda como piloto de testes. A morte de um piloto chacoalha a gente por dentro. Balança todo mundo: pilotos, chefes de equipe, equipes e imprensa" disse Mariana.
"Recentemente tivemos na Fórmula 2, que foi a última categoria com morte no automobilismo. O Anthoine Hubert era um garoto. Eu estava lá, foi um Grande Prêmio da Bélgica, uma batida horrorosa. Os pilotos da categoria estavam todos muito assustados, como quem realmente se chocasse com uma realidade que faz parte do esporte deles. Isso era uma coisa que havia parado desde a morte do Ayrton Senna. Até porque ali a atenção com a segurança foi quadruplicada. Então, quanto mais raro mais chocante é. A morte sempre choca", concluiu.
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