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Seis pilotos se negam a ajoelhar em protesto contra racismo na F1

Do UOL, em São Paulo*

05/07/2020 09h39Atualizada em 06/07/2020 11h08

Seis pilotos de um total de 20 não se ajoelharam no momento de execução do hino antes do GP da Áustria de Fórmula 1, disputado hoje. O gesto, comandado por Lewis Hamilton, foi realizado em um protesto contra o racismo na esteira da morte de George Floyd, depois que um policial branco ajoelhou-se sobre seu pescoço durante quase nove minutos em Minneapolis (EUA), no dia 25 de maio.

Max Verstappen, Antonio Giovinazzi, Carlos Sainz, Charles Leclerc, Kimi Raikkonen e Daniil Kvyat foram os pilotos que não repetiram o gesto, que também ficou notabilizado pelo quarterback Colin Kaepernick, que iniciou atos contra o racismo em 2016 na NFL. Os demais se ajoelharam.

A corrida foi vencida por Valtteri Bottas, da Mercedes. Charles Leclerc, em segundo lugar, e Lando Norris, em terceiro, completaram o pódio.

Todos os pilotos vestiram camisas com a frase "Fim ao racismo". Único negro da categoria, Hamilton usou uma camisa com a frase Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).

Antes da corrida, Verstappen e Leclerc explicaram porque não se ajoelhariam.

"Estou muito comprometido com a igualdade e a luta contra o racismo. Mas acredito que todos têm o direito de se expressar de cada vez e da maneira que lhes convém. Hoje não vou me ajoelhar, mas respeitar e apoiar as escolhas pessoais que todo piloto faz", disse Verstappen

"Acredito que o que importa são fatos e comportamentos em nossa vida cotidiana, em vez de gestos formais que poderiam ser vistos como controversos em alguns países. Não vou ficar de joelhos, mas isso não significa que estou menos comprometido do que outros na luta contra o racismo", explicou Leclerc.

Outro gesto de protesto já anunciado é o do hexacampeão mundial Lewis Hamilton, que usa a frase "Black Lives Matter" em seu capacete, assim como o tetracampeão da Ferrari, Sebastian Vettel.

Hamilton, único piloto negro da categoria, tem advogado a favor de oportunidades iguais e mais diversidade na Fórmula 1 e está pilotando uma Mercedes preta com "Fim ao Racismo" escrito em sua grade de proteção.

Ontem, a Associação de Pilotos (GPDA, siga em inglês) disse que seus membros realizaram várias reuniões virtuais para discutirem qual seria a melhor forma de coletivamente expressar apoio.

"Todos os 20 pilotos estão unidos, junto com seus times, contra o racismo e o preconceito, acatando os princípios de diversidade, igualdade e inclusão, e apoiando o compromisso da Fórmula 1 com eles", acrescentou.

"Juntos, os pilotos expressarão seu apoio a essa causa ao público no domingo, antes da corrida, reconhecendo e respeitando que cada indivíduo tem a liberdade de expressar seu apoio pelo fim do racismo da sua própria maneira e estará livre para escolher como fazê-lo."

"Ninguém foi obrigado a participar", diz Lewis Hamilton

Grande catalisador do engajamento da F1 com a luta contra o racismo, Lewis Hamilton, que foi o primeiro negro a disputar uma corrida da categoria, preferiu agradecer pelos outros 13 pilotos que se ajoelharam ao lado dele. E deixou claro que o pedido veio da própria F1, e não dele

"Cada um tem direito a ter sua opinião e tenho consciência da opinião de alguns dos pilotos, mas não gostaria de dividir isso. No final das contas, ninguém foi obrigado a fazer nada. Nunca pedi para ninguém se ajoelhar. Foi algo que veio da F1 e da GPDA (associação dos pilotos). Na reunião dos pilotos, Seb e Grosjean (que comandam as reuniões) perguntaram se os pilotos se ajoelhariam e vários disseram que não. Eu só ouvi o que eles tinham a dizer e isso que eu me ajoelharia, mas que cada um fizesse o que é certo. Estou muito agradecido por aqueles que o fizeram também. Acho que é uma mensagem poderosa mas, você ajoelhar ou não, não vai mudar o mundo. O problema é muito maior ao redor do mundo. Pessoalmente, senti que era o melhor a fazer. Mas só tomei a decisão final no sábado à noite".

"Não quero que as pessoas se sintam forçadas. Quero que as pessoas se empolguem por fazer parte da mudança. Quero que pensem 'mesmo que eu não tenha experimentado o racismo comigo, posso tentar entender como essas pessoas se sentem e dizer que não quero que as pessoas se sintam da mesma maneira'. Isso é o que importa", acrescentou.

Hamilton diz se afastar de política em luta antirracista: "Busco igualdade"

Depois de agradecer aos 13 pilotos que se juntaram a ele optando por ajoelhar-se durante a manifestação contra o racismo feita logo antes da largada da primeira corrida do ano, Lewis Hamilton explicou que quer distanciar-se do uso político do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, inglês) e focar somente na busca por maior igualdade.

O hexacampeão da Fórmula 1, que foi o primeiro negro a disputar um GP da categoria, optou por uma camiseta com os dizeres Black Lives Matter ao invés da que dizia "Acabar com o Racismo" (End Racism), fornecida pela F1, para se manifestar no grid do GP da Áustria. Mas deixou claro que isso não quer dizer que esteja ligado a qualquer apropriação política do movimento.

"Há algumas pessoas falando sobre isso e tornando a questão mais política do que diria que é. Acho que é o movimento na Inglaterra que está mais voltado a esse lado político. Mas acho que as pessoas que vão às manifestações e estão marchando estão lutando por uma causa, que é a igualdade. Não é uma coisa necessariamente política. Quando eu fui aos protestos de Londres, era isso que estávamos fazendo lá. E, quando uso essa camiseta, é isso que estou apoiando", disse o britânico.

*Com informações da Reuters

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