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Fluminense é um dos poucos times a não utilizar táticas motivacionais específicas

25/11/2010 - 07h01

Show de comédia, Fórmula 1 e CQC viram novas armas motivacionais no Brasileiro

Do UOL Esporte*
Em São Paulo

Foi-se o tempo em que uma declaração do adversário era suficiente para motivar uma equipe. Com discursos cada vez mais ensaiados e, até por isso, pasteurizados, os treinadores dos times do Campeonato Brasileiro estão intensificando a procura por novos elementos para mexer com o emocional dos jogadores e, com isso, tentar obter alguma vantagem sobre o rival.

QUAIS SÃO AS TÁTICAS MOTIVACIONAIS DOS PRINCIPAIS CLUBES?

ClubeTreinadorTática
Dorival JúniorMembro do BOPE, cartas da família e vídeos motivacionais
Sérgio SoaresShow de humor e filmes com temas motivacionais
TiteMetáforas e exemplos com esportistas/times
CucaPalestras com esportistas e faixas de torcedores
V. LuxemburgoPsicólogo e linguagem informal
Muricy RamalhoNão utiliza métodos motivacionais específicos
Renato GaúchoMensagens da família e concessão de folgas
Celso RothNão utiliza métodos motivacionais específicos
L.F. ScolariApoio da torcida
M. MartelottiPsicólogo e presença de celebridades
PC CarpegianiBichos pagos no vestiário
PC GusmãoPsicólogo e vídeos motivacionais

Após perder a liderança, no último fim de semana, o técnico corintiano Tite usou como exemplo o piloto Sebastian Vettel, da Red Bull. Apontado como azarão na disputa pelo título da Fórmula 1 nesta temporada, já que ocupava apenas a terceira colocação antes da última etapa, o jovem alemão venceu o GP de Abu Dhabi e acabou com o título neste ano.

O técnico Cuca também apostou em esportistas, mas foi além do discurso. Antes da partida do Cruzeiro contra o Atlético-GO, no dia 29 de setembro, e do jogo com o Vitória, no início do mês, o treinador abriu espaço para palestras do maratonista Franck Caldeira e também do nadador paraolímpico Clodoaldo Silva.

“Sempre que puder fazer algo a mais é bom, não só para ganhar jogo, mas para a vida. O Clodoaldo é um exemplo para todos nós. Ele contou a história da vida dele, fez uma autobiografia maravilhosa. Serve para muito jogador de futebol, porque 90 e tantos por cento deles vêm de classe média baixa, e todos passam por dificuldade. Ele valorizou muito a família, contou a história do pai dele, que foi abandonado aos dois anos. Aos 21, pôde retomar a vida com o pai e quando estavam se tornando amigos, o pai morreu. Isso é uma história de vida maravilhosa”, justificou o treinador do Cruzeiro.

Já no Fluminense, que está na ponta da tabela, ações motivacionais não são defendidas pelo técnico Muricy Ramalho. Mesmo assim, alguns atletas buscam, por conta própria, alguma maneira para trabalhar o lado emocional e entrar o mais focado possível em uma partida.

BICHO E ESTILO 'BOLEIRO' SEGUEM VIVOS

  • Apesar de muitos clubes e treinadores começarem a buscar novas formas de motivação, alguns ainda apostam em velhas práticas e discursos para dar mais ânimo aos jogadores.

    O dinheiro, talvez, seja ainda a prática mais utilizada por todos. No São Paulo, no entanto, esse expediente é inusitado. O presidente Juvenal Juvêncio tem o costume de ir pessoalmente ao vestiário dos jogadores após um grande resultado e tirar do próprio bolso o “bicho” dos atletas.

    Vanderlei Luxemburgo, que neste Brasileiro já passou por Atlético-MG e Flamengo, aposta em termos chulos, repetidos constantemente, mesmo na presença de mulheres, para resumir o espírito que ele espera dos seus jogadores. “Jogadores precisam entrar com a pica apontada para a lua”, costuma repetir o técnico.

    Apesar de compartilhar o estilo boleiro de Luxemburgo, Renato Gaúcho ataca em outra frente. Apesar de ser apontado como grande responsável pela arrancada do Grêmio no Brasileiro, o técnico gosta de relembrar seu passado para se colocar no mesmo patamar dos atletas.

  • “Comigo não tem 'trairagem', tudo que o jogador pensar em fazer, eu já fiz em dobro”, diz Renato Gaúcho, que também “troca” bons resultados conquistados por períodos maiores de folga.

“O Muricy Ramalho realmente está certo, a gente faz o que gosta e busca coisas boas. A família também nos motiva muito. Muitas coisas nos motivam, mas cada jogador procura uma maneira de ficar motivado, com filhos, mulher. Busco motivação na família, vendo filmes. Há um que todos os treinadores exibem para os jogadores. É um filme sobre futebol americano”, explicou o lateral-direito Mariano, se referindo ao filme Desafiando Gigantes, que mostra a superação de um time de futebol americano.

Estratégias motivacionais fora do comum não são usadas apenas nos times que estão disputando o título do Campeonato Brasileiro. Nesse “vale-tudo psicológico”, outros clubes também resolveram abandonar o trivial palestra-psicólogo-família em busca de bons resultados.

Dentro dessa linha, o Santos inovou ao convocar Marcelo Tas e Marco Luque, apresentadores do CQC. A dupla participou de um bate-papo com as estrelas da equipe, como parte do trabalho que o psicanalista Jorge Forbes faz no clube. Em direção semelhante, o Atlético-PR realizou um show de comédia para descontrair o ambiente antes de uma partida.

“Convidamos o ator Fábio Silvestre para se apresentar e a intenção, naquele momento, era aliviar um pouco a tensão dos atletas. Deu um ótimo resultado”, afirmou Ocimar Bolicenho, gerente de futebol do clube paranaense e idealizador da ideia.

Sucesso nos últimos anos, o filme Tropa de Elite, do diretor José Padilha, já foi utilizado por diversos clubes como motivação. O técnico Dorival Júnior, no entanto, foi além. Para livrar o Atlético-MG do risco do rebaixamento, o treinador convocou um ex-policial do Bope para explicar as dificuldades da sua profissão. O resultado foi uma surpreendente vitória por 4 a 3 no clássico contra o Cruzeiro.

*Colaboraram os escritórios de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná.

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