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Rivais mineiros usam estratégias motivacionais diversas para evitar queda à Série B

 Marques acompanhou a delegação atleticana no jogo contra o Santos, em Sete Lagoas - Bruno Cantini/Site do Atlético-MG
Marques acompanhou a delegação atleticana no jogo contra o Santos, em Sete Lagoas Imagem: Bruno Cantini/Site do Atlético-MG

Bernardo Lacerda e Guyanne Araújo

Em Belo Horizonte

22/10/2011 07h00

Separados apenas por um ponto na parte inferior da tabela, Atlético-MG e Cruzeiro, tradicionais rivais, têm se apegado a ‘estratégias’ motivacionais diferentes para tentarem escapar do rebaixamento. Se o técnico Cuca, por um lado, já recorreu até a presença de um ídolo atleticano, o ex-atacante Marques, que fez palestra para o elenco, Vágner Mancini vê com cautela a utilização de fatores externos.

  • Juliana Flister/Vipcomm

    ?Até entendo que o clube vive situação hoje diferente na última década, o Cruzeiro nunca figurou ali em baixo, então é um choque, mas o atleta tem que ter lastro para isso, tem que ter um lado emocional muito forte, porque isso pode acontecer mais cedo ou mais tarde, assim como a gente tem uma série de problemas lá fora, dentro de campo também acontece?, afirma Vágner Mancini

O treinador cruzeirense considera que a motivação deve vir de dentro dos jogadores, que são acompanhados por uma psicóloga do clube. Para o treinador celeste, uma ‘motivação extra’ como palestra ou animadores, se não estiverem atreladas a um planejamento, nesse momento poderia demonstrar ‘incapacidade’.

Desde que assumiu o comando do Atlético-MG, em agosto, Cuca usa artifícios para motivar o elenco atleticano. Primeiro, o técnico optou por conversas com os jogadores, procurando reforçar a confiança no elenco. Diante do Santos, em Sete Lagoas, o técnico convidou o ex-atacante atleticano Marques, que se aposentou no meio de 2010, para participar da preleção da partida, feita na Cidade do Galo, em Vespasiano, e do trajeto até a Arena do Jacaré, no ônibus do clube.

A participação do ídolo atleticano causou efeito nos jogadores e o Atlético mostrou postura diferente em campo na vitória por 2 a 1, sobre o time paulista. “O Marques é um grande jogador, que esteve com a gente ano passado, é querido por todos e foi muito bom tê-lo ao nosso lado”, avaliou o zagueiro Réver.

Apesar de ciente da situação do Cruzeiro, que não venceu ainda no returno, após 11 rodadas, o treinador Vágner Mancini confia no trabalho desenvolvido pela psicóloga que vive 24 horas no clube e que tem tentado dentro da sua especialidade fazer o que determina. “Será que quando se entra em uma fase  derradeira a gente tem que apelar para tudo aquilo que nos oferecem? Porque nessa semana agora a gente já teve vários assuntos em pauta, e muita gente oferecendo ajuda”, indagou.

“A partir do momento em que você perde a sua essência e isso não é só no futebol, mas na vida de uma maneira geral, você está se abrindo para uma série de coisas que talvez não seja a hora”, alfinetou Mancini, quando indagado sobre estratégias usadas pelo rival Atlético-MG, em 2010. Naquela temporada, sob o comando de Dorival Júnior, antecessor de Cuca, o alvinegro mineiro teve palestra de um ex-comandante do Bope.

Mancini fez questão de dizer que não menospreza o resultado de estratégias como essa, mas acredita que tenha que haver um planejamento e não se recorrer apenas em momentos difíceis. Acho que motivação e entusiasmo estão dentro de cada um. Óbvio que existem palestra, animadores, motivadores excelentes aí fora, que são usados muitas vezes em um momento semelhante a esse, mas na minha maneira de ver tem que adequar ao planejamento e não na hora que você está no momento difícil você recorrer a esse tipo de coisa, porque dá a impressão que somos incapazes de fazer o que deveria ser feito”, disse.

O capitão e goleiro do Cruzeiro, Fábio, concorda com a opinião do treinador que a motivação tem que ser interna dos jogadores. “Acho que a motivação primeiramente tem que vir do atleta, mas graças a Deus todas as ações que são feitas tanto com a psicóloga, como a do torcedor também, na Toca e no Estádio, nos incentivando e não vaiando, são válidas para que o atleta se dedique mais, corra mais”, destacou.

Compromisso firmado

Antes da presença de Marques, após o empate com o Ceará, por 1 a 1, quando Cuca pensou em deixar o cargo, o comandante recebeu apoio dos seus atletas e fez um pacto com todo o elenco atleticano na luta contra o rebaixamento. O treinador mandou todos assinarem uma camisa do time atleticano. A camisa, que foi bordada, é levada para os jogos do clube.

“Todos eles assinaram, está bordada com a assinatura de todos os jogadores. Vamos levar em todos os jogos, na oração, que lá a gente vai lembrar o compromisso que fez lá no Ceará”, Cuca. Além disso, o treinador mandou fazer uma camisa especial, ressaltando o pacto feito com o elenco e que todos os jogadores estão utilizando antes dos jogos, nos vestiários. “Demos uma camisa dessa para cada jogador, para que eles lembrem do pacto que foi feito”, acrescentou Cuca.

O treinador atleticano ressalta a importância de criar um fato novo a cada jogo. “A gente precisa fazer o grupo acreditar. No Fluminense, a gente conseguiu evitar o rebaixamento graças ao compromisso de cada jogador, era muito grande, a força do grupo e isso eu estou tentando conseguir aqui, a cada jogo vem melhorando, estamos criando este compromisso com derrotas, mas o grupo está forte, unido para tirar o Atlético desta situação e eu acredito nisso”, ressaltou Cuca.

Outras ações de motivação do elenco atleticano deverão ocorrer até o final do Campeonato Brasileiro, porém, são guardadas como segredo pela comissão técnica. Além das iniciativas de Cuca, os jogadores atleticanos contam com ajuda da psicóloga do clube, que faz um trabalho especial de motivação.