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Cuca 'bota ponta' no Atlético-MG e melhora rendimento do time no Brasileirão

André (E) e Bernard (D), centroavante e "ponta-esquerda" no esquema adotado por Cuca  - Bruno Cantini/Site oficial Atlético-MG
André (E) e Bernard (D), centroavante e 'ponta-esquerda' no esquema adotado por Cuca Imagem: Bruno Cantini/Site oficial Atlético-MG

Bernardo Lacerda

Em Vespasiano (MG)

23/11/2011 06h00

A manutenção da equipe titular do Atlético-MG vem sendo apontada como o fator positivo do trabalho do técnico Cuca. Para deixar o time em boa condição para escapar ao rebaixamento, o treinador se “voltou” para a uma formação que teve sucesso até a década de 80, com a utilização de pontas. Desde a sua chegada em agosto, o treinador adotou o esquema tático 4-3-3, como ele mesmo denominou, sempre com um atacante aberto pela esquerda e outro pela direita, revivendo assim uma função extinta.

SÉRGIO ARAÚJO: PONTAS VIRARAM ALAS

O ex-ponta direita, Sergio Araújo, que se destacou no Atlético-MG, Flamengo, entre outros times, na década de 80, "culpa" a utilização do esquema 3-5-2 pela “morte” dos pontas. "Quando apareceu o chamado ala, os jogadores que tinham característica de atuarem nas pontas, acabaram sendo recuados para as laterais, sem precisar marcar", disse
"Este esquema com três zagueiros prejudicou os pontas, porque os treinadores todos começaram a adotar este esquema, que os laterais atacavam muito, sem pensar em marcar. Mas você vê, eles chegavam ao ataque e cruzavam, não fazem jogada individual, aquele drible, finalização, coisa que o ponta sempre fez", acrescentou Sérgio Araújo.

O futebol brasileiro sempre foi marcado na sua história por ter grandes pontas. Garrinha pode ser considerado o maior de todos. O futebol brasileiro era tão habituado com esse especialista, que a decisão de Telê Santana, em 1982, de abolir o ponta direita, motivou o humorista Jô Soares a criar um personagem cujo bordão ficou famoso: “bota ponta, Telê”.

Até o final da década de 80, os pontas direita e esquerda resistiram, embora alguns deles passassem a executar com mais força funções de marcação, compondo o meio-campo, a exemplo do que o próprio Telê, Zagalo e Rivelino fizeram no passado. Porém, na década de 90, esta função saiu de “moda” definitivamente, quase que substituídos pelos alas.

No esquema do técnico Cuca, no Atlético-MG, os pontas estão mais nessa linha, já que não têm apenas a obrigação tática de atacar, pelos lados de campo, fazendo cruzamentos e finalizações, mas também ajudam fortemente na marcação. Eles voltam ao campo de defesa, acompanhando os laterais adversários.

“Já venho adotando este esquema em outras equipes que treinei e aqui no Atlético eu tinha peça para fazer isso. Então abri o Bernard, que tem uma jogada forte na esquerda, principalmente trazendo para o meio e finalizando, e o Berola (Neto), que tem velocidade, pela direita, deixando o time com velocidade”, explicou o técnico Cuca ao UOL Esporte.

Para o treinador, o esquema tático utilizado é favorável para equipes que utilizam a velocidade para jogar. “O Atlético tem velocidade, Bernard, Berola, Soutto, Carlos César, Serginho, então, a gente utiliza isso para jogar, com jogadas pelos lados, ultrapassagens, chegada dos volantes, do meia, fica um time ofensivo, com muita força”, disse.

No último domingo, na partida contra o Corinthians, em São Paulo, o treinador optou em colocar o lateral-direito Carlos César como ponta naquele lado. Além dele, o volante Richarlyson também já atuou quase como atacante pela esquerda, sempre mantendo a estrutura do time.

“Eu não concordo com vocês (jornalistas) quando falam que o Richarlyson é um volante, para mim ele é um meia e penso em utilizar na ponta, bem aberto na esquerda, com liberdade para jogar, cruzar. Ele tem esta qualidade de poder nos ajudar taticamente”, destacou Cuca, que é adepto confesso da utilização de atletas que atuam em mais de uma posição.

  • Bruno Cantini/Site do Atlético-MG

    Neto Berola atua no Atlético-MG aberto pela extrema direita, como se fosse um autêntico ponta

Uma das principais armas ofensivas do Atlético, o jovem Bernard afirma se sentir bem nesta posição. “O Cuca viu meus jogos no time júnior, quando eu vinha jogando quase como atacante, mas bem aberto pelos lados e me colocou no profissional para jogar de forma parecida, jogando ali no lado, esquerdo e também direito”, disse.

“É uma posição em que sei jogar, que me sinto bem, fico na frente, atacando, com velocidade, está me ajudando. Tenho sempre a função de voltar marcando o lateral adversário, ajudando o time também a marcar. Acho que para mim é bom, tenho velocidade e posso abrir espaço para finalizar”, acrescentou Bernard, que busca nos dois últimos jogos do Atlético pelo Brasileiro, contra Botafogo e Cruzeiro, seu primeiro gol pelo time profissional.

O ex-jogador da seleção brasileira, que se destacou pela habilidade e facilidade de drible, elogia o esquema do técnico Cuca. “O Atlético hoje até lembra os times da minha época de futebol, jogando em velocidade, com dribles, jogadores pelos lados, saindo gols de cruzamento, finalização, o Cuca arrumou o time do Atlético e isso a gente vê pela campanha no segundo turno”, destacou.

“Este Bernard é um verdadeiro ponta, que tem velocidade, ousadia, ele passa pelo marcador facilmente, ele tenta o drible, chuta de longe, é jovem. Até a parte física dele lembra de jogador da década de 60, 70, baixo, franzino, mas rápido, ousado. Ele tem tudo para se destacar, se tornar um grande jogador, é o grande destaque do Atlético nos últimos anos”, elogiou Sérgio Araújo.