Estaduais costumam falhar como "termômetro" e não fazem seus campeões triunfar no Brasileiro

Reservados no calendário nacional para ocupar os cinco primeiros meses da temporada desde o início da era dos pontos corridos, em 2003, os Estaduais são vistos por muitos como preparatórios e “termômetros” do que um clube pode fazer na longa disputa do Campeonato Brasileiro, que se estende de maio até dezembro.

Mas, na prática, não é bem assim. Para se conseguir dar a volta olímpica no fim do ano e conquistar o Campeonato Brasileiro, não necessariamente tem que se ter feito o mesmo em uma competição regional. É o que mostra o histórico dos nove anos das edições dos pontos corridos.

De 2003 para cá, apenas duas vezes a equipe campeã brasileira foi vencedora de seu Estadual meses antes. Somente o Cruzeiro, logo no primeiro ano, em que ganhou também a Copa do Brasil, e o Flamengo, campeão carioca e depois nacional em 2009, fogem da regra. Nas outras sete oportunidades, o campeão nacional não levou a competição de seu Estado.

Campeão nacional de 2004, o Santos caiu na semi do Paulista do mesmo ano, para o São Caetano, que depois seria apenas o 18º do Brasileirão (perdeu 24 pontos em uma decisão do STJD, mas com ele seria só 5º).

Em 2005, os investimentos da MSI no Corinthians começaram logo em janeiro, com as chegadas de Tevez, Carlos Alberto, Roger e Gustavo Nery. Mas título mesmo, só no Brasileirão. No Paulista, ficou como vice, em pontos corridos vencido pelo São Paulo, apenas o 10º do Brasileirão meses depois.

No ano seguinte, o time do Morumbi foi vice estadual, mas levou o Brasileirão no fim do ano. O campeão paulista foi o Santos, apenas quarto no Nacional.

Nos dois anos seguintes, o São Paulo foi campeão brasileiro e também não levou o Paulista. Eliminado as duas vezes nas semifinais. Campeões estaduais em 2007 e 2008, respectivamente, Santos e Palmeiras foram segundo e quarto colocados no Brasileiro depois.

Dono do título nacional em 2010, o Fluminense foi só o terceiro no Carioca. O campeão daquele ano, Botafogo, ficou apenas em sexto no Brasileiro.

E, por fim, no ano passado, o Corinthians foi vice do Paulista. Enquanto o Santos, dono do título, foi apenas o décimo no Brasileirão.

Campeão carioca em 2009, o Flamengo, um dos dois que fogem à regra começou mal o Brasileiro daquele ano. Demitiu o então técnico, Cuca, e viu a chegada de suas duas principais peças para o título, o meia Petkovic e o atacante Adriano, só durante o Brasileiro.

“Assumi o time, se não me engano, quando éramos apenas o 12º colocado. O Pet ainda chegou por um acordo só, muitos o viam como ex-jogador. Peguei o time faltando 25 rodadas. E depois [do Carioca] é que chegaram Pet e Adriano. Até então, falavam que iríamos brigar para não cair”, falou ao UOL Esporte Andrade, campeão com o time em 2009.

A janela de transferências do meio do ano e a consequente reformulação de alguns elencos durante a temporada são vistas como um dos motivos de o campeão nacional não ter feito um regional bom.

“O Estadual é o primeiro torneio do ano, coincide com o começo do calendário. É um período de ajustes das equipes. Por isso vejo um time não ir bem e depois fazer um bom restante de temporada”, falou João Paulo de Jesus Lopes, diretor de futebol do São Paulo.

“O São Paulos, naqueles anos [dos títulos nacionais de 2006, 2007 e 2008] não foi bem no primeiro semestre. Mas depois foi campeão. Foi uma questão de ajuste. E tem em relação a transferências. Acho que o calendário precisa ser reformulado. Saídas e entradas de jogadores alteram o desempenho dos times”, continuou.