Luxa vira 'eletricista' no Grêmio e cria maneira de evitar atletas 'fio desencapado'

Vanderlei Luxemburgo é técnico do Grêmio, mas também está atuando como 'eletricista'. Segundo o comandante de campo, é a maneira de evitar jogadores chamados 'fio desencapado'. Os atletas que podem causar problemas fora de campo estão rendendo o esperado e com bom comportamento, mesmo assim vivem sob suspeita no Olímpico.

O primeiro deles é Anderson Pico. O rótulo de 'fio desencapado 220' se deve ao passado. O atleta surgiu como boa aposta para o time gaúcho em 2008, mas excessos fora de campo e ganho fácil de peso acabaram com as chances. Emprestado repetidamente, ele recebeu nova oportunidade pouco tempo antes do fim de seu contrato. Se empenhou, teve vínculo renovado, mas ainda vive na corda bamba.

Neste domingo, na vitória por 4 a 0 sobre o Figueirense, o lateral esquerdo foi um dos destaques em campo. Com participação efetiva o primeiro gol, ele voltou a ter o nome gritado pelos aficionados do clube. Mas ainda não mudou de 'voltagem' para Luxa.

"O Anderson [Pico] já havia ido bem contra o Atlético-MG, e foi expulso injustamente. Depois teve uma lesão. Vinha fazendo um bom trabalho e emagrecendo. Mas aqui é necessário matar um leão por dia e correr de dois. Ele tem um prejuízo na carreira. Passou muito tempo preferindo coisas ruins a boas no futebol. Tem potencial, mas ainda é um fio desencapado 220. Tenho que evitar que ele dê choque em alguém. Ele ganhou o espaço que mereceu, mas não é por um jogo que ele vai mudar de voltagem", brincou Luxa.

Nos últimos meses, Pico perdeu 12 Kg, mas ainda não está satisfeito. Segundo contas do próprio, ainda é necessário emagrecer cerca de 2,5 Kg para se firmar na equipe. "Hoje tenho uma família construída, meu filho está crescendo. Não quero jogar fora mais uma oportunidade", disse o jogador. "É minha última chance", completou.

O outro caso de 'eletricista' de Luxemburgo é com Leandro. O jovem atacante tem o mesmo rótulo de Pico pelos problemas fora de campo do início do ano. Leandro chegou a ser preso por algumas horas por utilização de Carteira de Habilitação (CNH) falsa.

"Ele surgiu bem, falavam muito bem dele. Mas neste ano teve uma queda em função de algumas coisas. Temos que ter paciência, mas somos muito críticos em relação a ele. Esquecemos, às vezes, que ele tinha só 18 anos, completou 19 faz pouco. Nossos filhos com 18 anos erram aqui e ali. É um moleque. De repente se viu em 'cana' por causa da carteira falsa. O que eu poderia fazer? Tinha que dar conselhos, tentar ajudar. Se cobra muito de jovens, achando que já são como homens de 30 anos. Ele ganhou 4 Kg de massa muscular, está gostando mais do gol, que antes não gostava, aprendendo o que ensinamos, mas ainda vai dar choque em muita gente. Segue 220 também", acrescentou o treinador.

A estratégia para conter a alta voltagem dos jogadores é simples: muita conversa. Aos poucos, com um puxão de orelha, um incentivo e algumas dicas, o técnico tira o melhor destes atletas considerados 'difíceis'.

"O Luxemburgo me ensinou muito, aprendi com ele. Tenho só que agradecer. Isso tudo, juntamente com minha família, com quem tento falar todos os dias pois ainda estão em Brasília e eu morando sozinho aqui, me ajudou bastante. Ele pega no meu pé, mas é só para o bem", confidenciou Leandro.

Os pés 220 do 'fio desencapado' do ataque marcaram dois gols no último jogo. O 4 a 0 sobre o Figueirense, combinado com o empate do Internacional com a Portuguesa, deixou o Grêmio em situação tranquila. Mesmo perdendo o Gre-Nal do próximo domingo, as posições não se invertem.

Antes, porém, o time tricolor vai ao Paraná enfrentar o Coritiba. O jogo de volta da primeira fase da Copa Sul-Americana está marcado para quarta-feira, às 19h30. Em Porto Alegre o Grêmio venceu por 1 a 0, portanto tem vantagem.