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Rivais mineiros buscam resposta para dilema do futebol: 'concentração antecipada ganha jogo?'

Atlético-MG e Cruzeiro adotam estratégias diferentes em relação às concentrações - VIPCOMM
Atlético-MG e Cruzeiro adotam estratégias diferentes em relação às concentrações Imagem: VIPCOMM

Gabriel Duarte e Bernardo Lacerda

Do UOL, em Belo Horizonte

12/10/2012 06h00

Na goleada sobre o Figueirense, por 6 a 0, sábado passado, os jogadores do Atlético-MG se concentraram um dia antes, ao contrário do que vinha acontecendo. No triunfo do Cruzeiro sobre a Portuguesa, por 2 a 0, na noite de quarta-feira, os atletas celestes se submeteram a um ‘regime fechado’ de dois dias. As estratégias diferentes, adotadas pelos rivais mineiros, mostraram-se eficientes. Afinal, concentração ganha jogo?

  • Bruno Cantini/Site do Atlético-MG

    Cuca mudou o regime de concentração para atender atletas e vai assim até o final do Brasileirão

A possibilidade de o período passado em hotéis ou nos CTs pelos jogadores de um time influenciar diretamente no resultado do jogo de futebol é uma dúvida permanente e objeto de discussões entre torcedores. Os clubes mineiros levam a sério a situação e nas últimas semanas mudaram os regimes de “confinamentos” dos seus atletas.

Os jogadores, em sua maioria, não escondem que preferem pouco tempo de concentração, já que a ausência total do regime ainda parece realidade distante para o futebol brasileiro. Enquanto isso, criam estratégias para superar os momentos de ócio e ressaltarem a importância desse momento. Já especialistas, analisam o assunto de forma crítica.

O Atlético-MG mudou a rotina de concentração nos seus últimos jogos do Campeonato Brasileiro. Ao longo de toda competição, o time vinha ficando recluso na Cidade do Galo dois dias antes dos jogos. Diante do Figueirense, na 28ª rodada, o técnico Cuca diminuiu o período, para as vésperas dos confrontos. O fato foi comemorado pelos jogadores atleticanos, que responderam em campo encerrando jejum de quatro jogos sem vitória.

“A gente tem de ter confiança neles, que fiquem em casa com a família, descansem e que venham com alegria e comprometimento para treinar e jogar, a gente mostra confiança neles e espero que dê certo”, justificou Cuca, ao falar sobre a mudança de regime de concentração.

  • Washington Alves/Vipcomm

    Celso Roth explica mudança para dois dias na concentração pela necessidade de mudar a rotina

 Já o Cruzeiro, vindo de sete partidas sem vitória, adotou estratégia contrária ao do rival para a partida contra a Portuguesa, na última quarta-feira. O time celeste ficou concentrado durante dois dias na Toca da Raposa e venceu o jogo. “É importante, porque os jogadores têm que tomar atitudes, time que nem o Cruzeiro não pode se manter rotina de resultados que não são aqueles que a gente espera ter. Nós modificamos nossa rotina para alertar em todos os sentidos”, explicou o técnico Celso Roth.

Apesar disso, a mestre em psicologia esportiva e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Paula de Paula, ressalta que nem sempre a concentração é encarada da maneira correta. Isso porque alguns clubes veem esse momento como mudança de local e confinamento.

Porém, segundo a especialista, o confinamento dos jogadores antes das partidas deve ser vista como o tempo em que os jogadores devem aliviar a pressão e se concentrar nos seus compromissos profissionais. “Se fosse só por causa do lugar, o time do presídio não perderia para ninguém. Porque eles não saem de lá”, disse a psicóloga, repetindo uma antiga ‘filosofia’ do futebol brasileiro. “A concentração deve ser um lugar que leva o atleta a ter foco em seus objetivos, retirando os estímulos externos”, observou.

  • Bruno Cantini/Site do Atlético-MG

    Apesar do conforto oferecido pelo hotel da Cidade do Galo, atletas querem pouco tempo concentrados

Segundo a professora universitária, o acesso às notícias ou às redes sociais nesse momento pode ser prejudicial ao jogador de futebol, já que o atleta pode se desconcentrar para a partida e, em consequência, não ter um bom desempenho. “A pessoa está na internet e pode ter estímulos externos que a prejudiquem posteriormente. Então, é importante que os clubes ou até mesmo o atleta cuidem disso, o que nem sempre acontece”, salientou.

Piadas, jogos de salão, leitura: vale tudo

Ambos os rivais concentram os jogadores nos seus centros de treinamento. No Cruzeiro, o passatempo preferido é o acesso à internet. Os atletas utilizam principalmente as redes sociais. Porém, alguns também aproveitam para usar seus videogames, ou jogar sinuca e ping-pong. O zagueiro Léo, porém, prefere ler livros e escutar música. “Eu leio, vejo filmes, converso com o Marcelo Oliveira, que é meu companheiro de quarto. Às vezes, descansamos bastante, dormimos um pouco. São esses os passatempos que a gente faz”, disse o jogador.

Com dois meses e meio no Cruzeiro, Borges ainda não teve chance de trazer seu videogame, passatempo preferido nas concentrações. Mas já procura adversários para “encarar” antes das partidas. Ele espera que os atletas ainda organizem uma competição. “Já joguei bastante videogame em outros clubes. Mas como estou em período de mudança, nem trouxe meu videogame. Tenho mais ouvido música, lendo livro e pensando nos jogos. Não sei quem faz campeonato de videogame ainda, mas vou procurar saber”, afirmou.

A concentração deve ser um lugar que leva o atleta a ter foco em seus objetivos, retirando os estímulos externos. A pessoa está na internet e pode ter estímulos externos que a prejudiquem posteriormente. Então, é importante que os clubes ou até mesmo o atleta cuidem disso, o que nem sempre acontece

Paula de Paula, mestre em psicologia esportiva

Já no Atlético-MG, a distração partiu da comissão técnica, que elaborou várias atividades para evitar o ócio dos atletas. Jogos de baralho, videogame, ping-pong, sinuca e até assistir a novelas são atividades durante as concentrações na Cidade do Galo. Os jogadores fizeram até "rodas de piadas" para divertir o grupo e minimizar os efeitos da reclusão.

O time alvinegro vai manter a concentração de apenas um dia até o final do Campeonato Brasileiro, o que foi comemorado pelos jogadores, que pediram a redução do tempo de confinamento para ficar mais próximos da família. Já o Cruzeiro só adotou a concentração de dois dias para a partida contra a Portuguesa, e “aliviou” os atletas para o jogo contra o Flamengo, sábado, no Engenhão.