Gerente da crise palmeirense, Sampaio tenta combater pessimismo com planejamento apenas para Série A

A crise no Palmeiras ganha cada vez mais tons de dramaticidade. Nesta terça-feira, a diretoria do clube se reuniu com atletas e com a comissão técnica para saber qual é a situação de cada atleta em relação às ameaças que eles vêm sofrendo. No encontro, o gerente de futebol, César Sampaio, deu força a seus comandados e revelou que também tem sofrido com ameaças tanto nas ruas quanto em mensagens e ligações de celular.

O dirigente e ex-jogador afirmou que não teme pela demissão e que também não acha que perderá sua condição de ídolo caso o que chama de “tragédia da queda” aconteça.

Por fim, Sampaio ainda revelou que tem 70% do planejamento para 2013 pronto, com um pequeno detalhe: todo ele feito com o Palmeiras disputando a Série A, algo que pode ir por água abaixo já neste domingo, em Presidente Prudente, diante do Fluminense.

Confira a entrevista completa do gerente de futebol César Sampaio:

UOL Esporte: Como você vê esse momento de ameaças, críticas e esse ambiente tão instável?
César Sampaio: Faz parte do momento em que vivemos, difícil pela posição na tabela, mas confiante que vamos reverter. O resultado da última partida contra o Botafogo foi injusto. Digo isso pelo o que apresentamos. Se conseguirmos reeditar o que fizemos contra o Botafogo, temos grandes chances de conseguir a vitória no domingo.

UOL Esporte: Como foi a conversa com os jogadores ameaçados? O que eles te passaram?
César Sampaio: Eu fiquei sabendo disso pela imprensa. Conversamos com os atletas que foram citados, alguns deles não sofreram ameaças e outros sofreram. A gente entende que todo e qualquer tipo de problema e de cobrança precisam ser feitos a todo o elenco. Não podemos direcionar a um determinado jogador, a um determinado grupo, todos nós temos a parcela de satisfação para ser dada. O que a gente pode fazer é trabalhar forte, porque uma vitória nos dá tranquilidade.

UOL Esporte: Quem foram os jogadores mais ameaçados, que mais sentiram? Foram mesmo Thiago Heleno, Leandro Amaro, Maikon Leite, Artur e Juninho?
César Sampaio: Isso é interno, não vamos expor nomes, nem confirmar os que você citou. A gente trabalha isso internamente. A gente está agregando coisas que vieram para somar. Já chega as dificuldades que nós temos, por isso, vamos deixar de lado o que for para diminuir as nossas chances. Estamos jogando bem, falta conseguir a vitória.

UOL Esporte: Mas qual orientação foi passada a esses atletas?
César Sampaio: A gente tem passado que é importante eles terem uma rotina mais preservada, especialmente fora da hora dos treinos. Temos não só torcedores, mas alguns mais exaltados, que acham que com a violência eles podem ajudar, então se a gente se expor o menos possível é melhor. Além disso, tomamos medidas internas, quanto à logística de viagem, esperamos que, enquanto eles estiverem sober a responsabilidade do clube, a segurança vai ser suficiente.

UOL Esporte: Mas algum jogador pediu para não jogar? Alguém terá um tratamento parecido com o que foi dado ao João Vítor?
César Sampaio: Não foi nada com o João Vítor. Ele teve uma lesão, uma fratura e depois uma fascite plantar. Ele está em processo de recuperação. Já falaram do Daniel, do Maikon Leite.. Esse é um momebnto ruim e alguns tentam aproveitar isso.

UOL Esporte: Então todos estão à disposição do Gilson Kleina?
César Sampaio: Todo mundo vai seguir, todo mundo tem contrato e o Gilson vai escolher os melhores.

UOL Esporte: Mas no treino desta terça, Artur e Juninho saíram mais cedo do que os outros. Eles não foram dispensados, então?
César Sampaio:  Esses dois eram dois nomes que passaram para mim. A gente teve uma conversa com os atletas para entender o que tinha de verdade. Outra coisa que o mais difícil do que o momento é você trabalhar com o pessimismo e com a vontade de maneira desigual que as pessoas tem de que o Palmeiras caia. A todo momento a gente tem de desmentir informações, justificar algo que não disse, trabalhar com a realidade que não existe...

UOL Esporte: Mas tem gente dentro do Palmeiras torcendo para que vocês caiam?
César Sampaio: Eu estou procurando encher a minha mente com coisas que me ajudem a reverter isso. A gente escuta, lê algumas coisas, mas não dou atenção. Não quero ser o dono da verdade. As pessoas plantam algo que não existe e a gente vê nitidamente que é a intenção de desagregar, colocar cada vez mais as coisas como inalcançáveis aqui dentro. Peço aos verdadeiros palmeirenses que, ao ouvir alguma coisa pessimista, que possam rebater com algo positivo, que seja construtivo. Precisamos fortalecer o grupo e sei que meu discurso fica vazio se não cumprirmos os objetivos.

UOL Esporte: Você já recebeu ameaça?
César Sampaio: Já, sim. Já recebi ameaça, não física, mas pelo resultado. Vieram me dizer que se as coisas não acontecerem eu precisava ficar esperto. Mas isso é inerente ao cargo que eu ocupo. Quando eu abracei o convite, eu já sabia do grau de exposição e sei que o jogador é diferente do ídolo. Sempre serei ídolo pelo que conquistei e não quero misturar as coisas. Eu quero ser cobrado pelo que me preparei para fazer e estou fazendo agora. Eu sei que está abaixo do que a instituição oferece e tudo que temos aqui. São esses momentos que fazem a gente repensar vários pontos técnicos.

UOL Esporte: Já perguntamos ao Kleina sobre o medo de demissão. Ele disse que não tem. Você teme pelo seu cargo caso o Palmeiras caia?
César Sampaio: Não tenho medo. Não, porque não penso em rebaixamento. O meu cargo é de resultado, como eu já disse. Nós tivemos o primeiro semestre bom, um segundo abaixo do que queríamos. Todos nós somos responsáveis. Cada um com seu grau de responsabilidade. Acho que nao serei demitido, mesmo porque meu vínculo vai até 31 de dezembro de 2012, acho que vão deixar eu cumprir até o final. Estou muito feliz aqui e pretendo permanecer. Já temos até 70% do planejamento feito para 2013 e esperamos seguir na elite para implementar isso.

UOL Esporte: O que falta do planejamento é saber se será na Série A ou Série B?
César Sampaio: Não. O que temos de planejamento é para a Série A. Não temos planejamento nenhum para a Série B. Eu nem quero contar com isso. O futuro está atrelado à nossa permanência na Série A.