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Ameaça de queda mina relação e estraga 'lua de mel' do Atlético com torcida

Torcedores usam a página do Atlético-MG no facebook para reclamar da situação do time no Brasileiro - Reprodução/facebook
Torcedores usam a página do Atlético-MG no facebook para reclamar da situação do time no Brasileiro Imagem: Reprodução/facebook

Dionizio Oliveira

Do UOL, em Belo Horizonte

11/09/2013 06h00

Vice-campeão Brasileiro no ano passado, o Atlético-MG estabeleceu ótima relação com a torcida em 2013 durante toda a Libertadores e o ápice aconteceu em 24 de julho último, quando mais de 56 mil pessoas compareceram ao Mineirão para prestigiar a dramática vitória sobre o Olimpia, que deu o título inédito ao alvinegro. O clima de ‘lua de mel’ entre torcedores e time, até que não foi abalado, no primeiro momento, mesmo com derrotas na retomada da competição nacional. Mas, a demora para voltar a jogar bem e melhorar a campanha, minaram essa relação.

“Chega de derrotas e empates, queremos que joga como um bom profissional. Poxa tava tão bom e agora que recaída é esta? Eu quero é raça....do TIME TODO (sic)”, escreveu Cilinha Melo, no facebook. Além das reclamações, o torcedor demonstrado sua insatisfação com a diminuição do seu comparecimento ao Independência, que deixou de funcionar como ‘caldeirão’.

O Atlético-MG está invicto há oito jogos, mas venceu apenas duas vezes nesse período, empatando em seis ocasiões, além de ter sido eliminado na Copa do Brasil, pelo Botafogo, logo nas oitavas de final, quando fez sua estreia no torneio. No Brasileiro, o alvinegro mineiro somou 22 pontos durante o primeiro turno, ocupando a 16ª colocação, a primeira fora da zona de rebaixamento.

As redes sociais se tornaram o meio recorrente para o desabafo dos atleticanos. Muitos reclamam das atuações inconstantes nas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro e já tem gente até preocupada com um vexame na final do Mundial, em que a expectativa é de que o time alvinegro enfrente o poderoso Bayern de Munique na final. “Vamos passar vergonha no Mundial se continuar desse jeito. Pois no Brasileiro estamos indo de mal a pior”, disse David Gurgel, na página do Atlético-MG no facebook.Também o risco de rebaixamento é uma preocupação. “Pior que é mesmo, desse jeito vamos cair para a segunda divisão”, comentou Pedro Ozanan, também pelo facebook, concordando com o outro atleticano.

Além das reclamações coletivas, também há cobranças individuais. O técnico Cuca se tornou um dos alvos. "Chega de desculpas e arme um esquema tático decente, pior ataque do brasileirão, rifar a bola pra frente e esperar bolas paradas do R10, chega né Cuca, Eu amo o galo e o galo está acima de qualquer um!", protestou Leonardo Braz de Oliveira Jr, pelo facebook. “Cuca, voce esta precisando aceitar que o time estamuito mal: mal treinado,mal escalado. Nao existe esquema algum,so um amontoado de jogadores e todo jogo uma desculpa mais esfarrapada que a outra. Se o galo nao vencer os proximos jogos,vamos pedir a sua cabeca e vamos vender sua alma pro outro. Seliga (sic)”, postou Denise Azevedo.

Outros atletas são acusados de terem caído de produção, como Diego Tardelli, Pierre, Réver, Alecsandro, entre outros. O único que tem escapado das críticas é Ronaldinho Gaúcho. “Ficou 3 meses sem fazer gol, fez 1 contra a temida Portuguesa.Matou todos os ataques contra o Goiás, fominha.E fica aí cheio de não me toques.Tá com muita frescurinha pro meu gosto.VAI JOGAR BOLA!”, criticou Bruno Lima, na comunidade do Atlético no Orkut, referindo-se a Tardelli.

No caso de Richarlyson, por exemplo, ele vem sendo constantemente vaiado pelos torcedores, o que seu irmão Alecsandro considera injusto, apesar de entender o descontentamento dos aficionados. “Futebol é assim, quando a coisa não acontece o torcedor tem que mostrar a insatisfação de alguma forma. Acho injusto pelos títulos que ele têm, três brasileiros, mundial, duas Libertadores, aqui no Atlético também, acho um pouco injusto”, afirmou.

  • Bernardo Lacerda/UOL

    Na comemoração do título da Libertadores, no dia seguinte à derrota para Atlético-PR, mais de 70 mil torcedores festejaram a conquista inédita na Praça Sete, em Belo Horizonte

O atacante Diego Tardelli, que recentemente fez um desabafo no twitter em função de críticas recebidas por alguns torcedores, acredita que é o momento da torcida compreender a fase ruim do time e apoiar, até pelo fato de o Atlético estar próximo da zona de rebaixamento. “A gente entende o lado do torcedor e espera que eles entendam o nosso lado também, de cobrança. A gente está fazendo de tudo para vencer os jogos, estamos concentrando, correndo dentro de campo, mas é uma fase ruim que a gente tá passando”, observou o camisa 9.

O volante Pierre pensa que o baixo rendimento é geral e não adianta ficar apontando culpados. “A queda é coletiva, futebol é simples, quando não se ganha todo mundo é contestado, se encaixar duas, três vitórias seguidas é de novo o melhor time do Brasil”, disse. Ele é outro que pede ajuda da torcida para o time escapar dessa situação complicada. “O que a gente precisa nesse momento é de apoio, a gente precisa que o nosso torcedor esteja conosco, apoiando como sempre apoiou na Libertadores. Quando as vitórias vierem, a confiança vai voltar e a sintonia entre jogadores, torcida e todo mundo vai ser a melhor possível”, acrescentou.

Apoio dos torcedores é que o Atlético não vem recebendo neste Brasileirão, pelo menos em relação à quantidade de torcedores no estádio. O Independência, que frequentemente ficava lotado, vem amargando públicos piores a cada rodada. Com 9.344 pessoas por partida, o alvinegro é apenas o 16º no ranking de público do Brasileirão. Na derrota para o Atlético-PR, por 2 a 1, pela 10ª rodada, uma semana após o título continental, que acabou marcando a despedida do atacante Bernard, negociado com o Shakhtar Donetsk, registrou o melhor público: 14.913 torcedores. Na última partida, empate com o Fluminense, em 2 a 2, atual campeão brasileiro, apenas 6.529 pessoas compareceram e geraram renda de R$ 160 mil, muito inferior aos R$ 960 mil obtidos no jogo contra o Strongest, a pior arrecadação da equipe na Libertadores.

Parte dos jogadores elegeram o preço do ingresso, que tem variado de R$ 30 a R$ 240, como o vilão para a queda de público. O zagueiro Réver, no entanto, reconhece que o time tem que voltar a vencer para atrair o torcedor. “Não adianta o torcedor ir e não fazermos o nosso papel que é entrar para vencer. Sabemos que dando tudo certo o torcedor vai nos incentivar como sempre incentivou”, afirmou.

Apesar das reclamações de alguns jogadores, o diretor de futebol, Eduardo Maluf defende as cobranças do torcedor e cobra uma reação dos atletas para reanimar os atleticanos. “O papel dela (torcida) é esse mesmo, quando o time está bem ela está com o time, e quando está mal, ela faz a manifestação que não está satisfeita”, disse. “A gente entende que tiveram jogos históricos na Libertadores e o torcedor pagou um preço alto.E agora com o time jogando nas ultimas colocações, o torcedor não está tendo motivação. É função dos jogadores e da comissão técnica reverterem esse quadro”, cobrou o dirigente.

Nem todos os torcedores estão protestado. Na terça-feira, antes do treinamento da equipe, na Cidade do Galo, em Vespasiano, cinco representantes do grupo denominado "Embaixadores do Galo", que reúne 115 atleticanos, levaram uma faixa de apoio na portaria do CT, com os segui9ntes dizeres: “A nossa gratidão pela Libertadores será eterna a cada um de vocês”.

Nesta quinta-feira o time alvinegro volta a se reencontrar com a torcida no Independência, no jogo contra o Coritiba, às 21h, na rodada que abre o returno. A venda de ingressos segue tímida e a expectativa é de casa vazia mais uma vez. Porém, é a chance do time iniciar sua recuperação e tentar atrair o torcedor para o seu lado novamente.