Topo

Para motivar, Muricy chamava time campeão de "limitado", diz Souza

Jones Rossi

Do UOL, em São Paulo

20/09/2013 06h00

Não é fácil manter um elenco vencedor motivado, que o diga Tite, técnico do Corinthians. Para deixar os jogadores sempre com vontade de ganhar, vale até chamar um time campeão brasileiro, com jogadores como Rogério Ceni, Borges, Jorge Wágner, Hernanes, Breno e Miranda, de "limitado" e "ruim".

Segundo Souza, que fazia parte daquele time e hoje é meia da Portuguesa, era assim que Muricy Ramalho muitas vezes classificava aquele time, que ainda ganharia mais um título brasileiro em 2008.

"Quando o São Paulo já era bicampeão nacional, ele dizia que nosso time era ruim, que era limitado. Que, se a gente não botasse a bunda no chão, não ganharia de ninguém. Fez depois o mesmo discurso no Fluminense", diz.

"Ao mesmo tempo que isso te botava para baixo, criava um desafio." Sob o comando de Muricy Ramalho, o meia Souza foi tricampeão brasileiro: em 2006 e 2007 no São Paulo e em 2010 no Fluminense. Por causa desse tipo de recurso, o meia acredita que o velho conhecido livrará o Tricolor da segunda divisão. "O São Paulo não cai com o Muricy lá", afirma.

O segredo desse tipo de discurso funcionar, segundo Souza, é a capacidade que o novo técnico são-paulino tem de ser compreendido pelos boleiros. "Ele é diferente. Fala a língua do jogador", diz, com conhecimento de causa. De acordo com Souza, Muricy usa palavras simples e exemplos claros. E não poupa ninguém para motivar o elenco. 

Outra característica elogiada pelo meia é a capacidade de o treinador reunir os mais talentosos entre os titulares. "É só ver o que ele está fazendo, colocando o Ganso e o Jadson para jogar juntos. Técnicos anteriores não estavam fazendo isso." Desde que assumiu o São Paulo, Muricy Ramalho obteve três vitórias em três jogos, contra a Ponte Preta, Vasco, e Atlético-MG. "Ele joga fechadinho, só no contra-ataque. Foi assim que fui campeão brasileiro três vezes com ele."

Souza acredita, porém, que o São Paulo não poderia ser rebaixado mesmo no caso de terminar entre os quatro últimos colocados do campeonato. "Um time como o São Paulo, que paga em dia, que tem um baita de um estádio, que tem uma baita de uma estrutura, não pode cair. Devia ser proibido times assim caírem", diz o meia.

"Tem que cair time que não paga, time que fica mandando treinador embora toda hora. Times assim têm que cair. O São Paulo estava fazendo isso, mas foi um ano de eleição. O Juvenal [Juvêncio, presidente do São Paulo] ainda deu uma conturbada, colocou pessoas que não eram capacitadas e acabou atrapalhando o São Paulo. Mas eu sou a favor de que time grande não pode cair."

Com 34 anos, Souza espera livrar a Portuguesa do rebaixamento nesta temporada e jogar pelo mais duas temporadas em clubes com "nível Série A". O jogador tem contrato até o final do ano com o Cruzeiro, mas espera ser liberado para outros clubes, de preferência para a própria Lusa. "Gostei muito daqui, do ambiente. Gostaria de fazer história." No clube do Canindé desde o início do ano, foi campeão paulista da Série A-2 no primeiro semestre, devolvendo o time à primeira divisão estadual.

A missão no Campeonato Brasileiro é, contudo, mais dura que na segunda divisão do Campeonato Paulista. Mas o meia acredita ter a receita para escapar da degola.

"Precisamos ganhar duas partidas consecutivas, principalmente somar pontos fora de casa para poder ganhar confiança. É preciso ter a mesma postura que temos no Canindé em outros lugares. É como o Guto [Ferreira, técnico da Portuguesa] fala: 'não temos mais nada a perder. Ficar em 17º [lugar] e 19º é a mesma coisa.' Tá faltando pouca coisa para que a equipe deslanche e possa vencer três ou quatro jogos seguidos."