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Competência e sorte. Como um repórter 'colocou' Ronaldinho no Atlético-MG

Entrevista de Pablo Forlán a Ricardo Guimarães fez o Atlético-MG desistir de Diego Forlán e contratar Ronaldinho Gaúcho - Arquivo pessoal
Entrevista de Pablo Forlán a Ricardo Guimarães fez o Atlético-MG desistir de Diego Forlán e contratar Ronaldinho Gaúcho Imagem: Arquivo pessoal

Victor Martins

Do UOL, em Belo Horizonte

04/06/2015 07h15

Três anos atrás o torcedor do Atlético-MG viveu um dia diferente. Amanheceu com o boato que Ronaldinho seria o novo reforço do clube. O que era rumor foi se concretizando com o passar das horas e terminou com a Cidade do Galo lotada de jornalistas e até com helicópteros sobrevoando o CT alvinegro por causa do jogador contratado para ajudar o clube mineiro no Brasileiro de 2012. Se Cuca indicou e conversou com Assis, com quem havia jogado no Grêmio, e então presidente Alexandre Kalil foi até Porto Alegre acertar com Ronaldinho, um atleticano pode se orgulhar e dizer que ajudou, mesmo que indiretamente, na chegada do craque.

Trata-se do jornalista Ricardo Guimarães, que na época era repórter da TV Alterosa. Uma semana antes de acertar com Ronaldinho, o Atlético negociava com Diego Forlán, mas desistiu de contratar o uruguaio depois que Pablo Forlán, ex-jogador e pai do melhor da Copa do Mundo de 2010, declarou que gostaria de ver o filho no Cruzeiro.

Os custos de uma eventual transação com o uruguaio dificultariam qualquer possibilidade de acerto entre o clube alvinegro e Ronaldinho Gaúcho. Se três anos depois Ricardo tem orgulho em dizer que ajudou na contratação de um dos maiores ídolos da história atleticana, na época ele ficou chateado.

“Queria muito ver o Diego Forlán com a camisa do Atlético, afinal de contas era um jogador que dois anos antes tinha sido o melhor na Copa da África do Sul e nem existia o papo de Ronaldinho no Galo. Como o Atlético desistiu de contratá-lo por causa da entrevista que o Pablo me deu, fiquei um pouco chateado. Alguns amigos até brincavam comigo, dizendo que evitei a chegada de um grande reforço para o Atlético”, contou Ricardo ao UOL Esporte.

Mas não foi fácil conseguir a declaração que mudou o rumo da história do Atlético. Foi uma mistura de sorte, persistência e competência. Com viagem marcada para Montevidéu, Ricardo Guimarães acabou chamado para integrar a equipe de esportes da TV Alterosa. Como o Atlético negociava com Diego Forlán, a viagem de férias estava mantida, mas com uma missão: entrevistar o Pablo Forlán.

Já no país vizinho, a primeira tarefa era encontrar a casa da família Forlán. Sem qualquer pista, o jeito foi apelar para a lista telefônica do hotel. Nela constava o telefone e o endereço de um Pablo Forlán. O número informado não funcionava mais, então restava ir até o local para tentar a entrevista. A caixa de correio trazia o nome de quem Ricardo procurava, mas a euforia deu lugar para o desânimo depois que ele tocou a campainha.

“Uma senhora atendeu e avisou que Pablo já não morava ali há muito tempo. E também não tinha nenhuma informação sobre o endereço novo. Naquele momento pensei que dificilmente conseguiria a entrevista”, lembrou o jornalista, que mais tarde teve um novo rumo para seguir.

“Estava acompanhado da minha esposa, já que era uma viagem de férias. Fomos até uma vinícola e lá encontrei um grupo de atleticanos. Durante a conversa sobre o time, contei que estava procurando pelo Pablo Forlán e então me falaram que sabiam o bairro que ele morava, pois haviam sido informados por um taxista”.

Depois de alugar um carro, era momento de continuar a busca pela residência dos Forlán. Após algumas paradas e informações desencontradas, a estratégia foi bater de porta em porta. Na quinta casa Ricardo achou o que tanto procurava. Mas Pablo estava fora. De posse do número de celular, era hora de tentar a tão sonhada entrevista.

“Liguei e imediatamente ele recusou a falar. Alegou que era assunto do filho e do empresário. No segundo dia tentei mais uma vez, ele se mostrou mais acessível, mas continuou sem querer ser entrevistado. No terceiro dia tentei novamente. Expliquei que a entrevista não era sobre Diego, mas sobre ele, por ter passado pelo futebol brasileiro e pelo Cruzeiro. Foi então que o Pablo topou e marcou comigo no Carrasco Lawn Tenis, lá em Montevidéu mesmo”.

Depois de meia hora de papo, de muitas lembranças do passado e da passagem por Belo Horizonte, Pablo Forlán não recusou a última pergunta. Ligado ao Cruzeiro, que significaria ver o filho com a camisa do Atlético? “Tenho que ser sincero, queria ver meu filho primeiro no São Paulo e depois o Cruzeiro, tenho que ser sincero porque sou cruzeirense. Mas se ele for jogar no Galo, vou torcer para o Atlético”. Poucas palavras, mas o suficiente para Kalil desistir de Diego. E o final da história que começou há três anos, o atleticano jamais vai esquecer.