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Mano Menezes treinou Inter após 'seletiva' e guarda mágoa de ex-presidente

Mano Menezes foi rejeitado e depois procurado pela direção do Inter em 2015 - Paulo Fonseca/EFE
Mano Menezes foi rejeitado e depois procurado pela direção do Inter em 2015 Imagem: Paulo Fonseca/EFE

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

02/09/2018 04h00

Hoje no Cruzeiro, ex-técnico da seleção brasileira, campeão pelo Corinthians e também com passagens por Flamengo e Grêmio, Mano Menezes é um dos treinadores mais conhecidos do futebol nacional. Mas nem sempre foi assim. No ano 2000, Luiz Antonio Venker Menezes precisou passar por uma seletiva para ingressar nas categorias de base do Inter, adversário deste domingo às 19h (de Brasília), no Mineirão. E, anos mais tarde, um descarte público voltou a unir as histórias do técnico e do clube, arranhando a relação.

João Paulo Medina era coordenador técnico do Internacional na gestão do presidente Fernando Miranda naquele ano. O clube passava por uma reformulação geral em perfil de contratações, vícios de gestão e organização financeira. Dentro de campo os parcos recursos refletiam-se na falta de qualidade do time.

Mas passos organizacionais importantes eram dados. Para a vaga de treinador da equipe juvenil, Medina iniciou um processo de seleção com sua equipe atrás de um nome que respeitasse algumas premissas básicas: ser formado em educação física, ter capacidade de liderança, atualizado e com experiência na base, e boa capacidade de comunicação, seja interna ou externa.

Uma pilha de currículos chegou aos gabinetes do Beira-Rio. Cinco foram selecionados para a segunda parte da seletiva, a entrevista. Foi quando Mano Menezes conquistou os dirigentes da época, inclusive o próprio presidente do clube que participou do processo. Foi contratado, e durante um ano regeu a equipe juvenil vermelha, sendo demitido com a troca de gestão no ano seguinte.

A seletiva do ano 2000 mostrou que Mano, ainda iniciante, tinha perfil e qualidades suficientes para comandar o Colorado. Diferentemente do que achou o presidente Vitório Píffero 15 anos mais tarde.

Mano já havia feito história no Grêmio (era o técnico da Batalha dos Aflitos, quando o time voltou para Série A em 2005), era campeão da Copa do Brasil pelo Corinthians, já tinha comandado a seleção brasileira. Mas quando eleito, o mandatário vermelho o descartou publicamente.

"Mano Menezes não é treinador para o Inter. Não tem o perfil para treinar o Inter", disse Píffero após vencer eleição para assumir o clube, em 2015.

E o ex-presidente acabou pagando pelas palavras. Ao demitir Diego Aguirre, em agosto, convidou Mano para assumir o cargo e percebeu o quanto a relação havia ficado arranhada.

"Se puxarem pela memória, o Inter estava para contratar um técnico, depois da saída do Abel (Braga, no fim de 2014). Entrevistaram o presidente e ele disse que eu não tinha o perfil. Ele tem todo o direito. Até acho que ele poderia não ter falado em público, ter sido mais elegante. Então, eu não vou trabalhar no Internacional com ele. Eu respondi ao vice-presidente do Internacional (quando foi convidado): penso que técnico é um cargo de muita confiança do presidente do clube. Quando desde o começo não existe essa empatia, não tem como. Ele sabe que eu não vou trabalhar com ele", disse Mano ao Sportv no fim daquele ano.

O Inter contratou Argel Fucks em 2016 e foi rebaixado para Série B após a passagem de outros três treinadores (Roth, Lisca e Falcão também comandaram o time). Em 2017 voltou à elite do futebol brasileiro (Antonio Carlos Zago e Guto Ferreira passaram pelo comando) e agora é vice-líder do nacional com Odair Hellmann no leme.

"O Cruzeiro é uma grande equipe, um dos melhores grupos do futebol brasileiro, com excelente treinador que é o Mano (Menezes), que eu admiro, observo, escuto e me espelho bastante. Uma referência para mim e para todos os treinadores. Que arma muito bem suas equipes, muito organizadas e fortes. O time do Cruzeiro é isso. Um time favorito, não só em teoria, mas também em prática porque tem demonstrado bom futebol, organização e competitividade que torna o jogo muito difícil", disse o técnico Colorado.