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René critica demissão no Bota e insinua sugestões de cartolas na escalação

René Simões alega metas cumpridas e se disse surpreso com demissão do Botafogo - Vitor Silva/SSPress
René Simões alega metas cumpridas e se disse surpreso com demissão do Botafogo Imagem: Vitor Silva/SSPress

Do UOL, no Rio de Janeiro

17/07/2015 09h54

René Simões, através de uma carta, falou pela primeira vez sobre a demissão do Botafogo. O treinador foi retirado do cargo na última quarta-feira, após derrota para o Figueirense na Copa do Brasil. Ele se diz surpreso com a decisão da diretoria e insinua que cartolas alvinegros atrapalharam o seu trabalho, dando sugestões na escalação da equipe.

“Não escondo de ninguém que quem escala, tira ou põe sou eu. Para alguns, isso pode ser considerado intransigência, mas escuto apenas a Comissão Técnica e mais ninguém, assumindo 100% de responsabilidade na função para a qual fui contratado. Isso aborreceu alguns, que me chamavam de dono da verdade”, escreve René em um trecho do comunicado.

Contratado para o início da temporada de 2015, o treinador comandou o Botafogo em 38 partidas: foram 22 vitórias, oito empates e oito derrotas. O profissional levou o clube ao vice-campeonato no Carioca. Além disso, o Alvinegro é líder no Campeonato Brasileiro da Série B.

O Botafogo procura um novo treinador para o cargo vago. Doriva, ex-Vasco, é o preferido da diretoria e negocia um acordo. Jair Ventura Filho assumiu o time interinamente e deve comandar os jogadores na próxima rodada da Série B, às 16h30 deste sábado, contra o Náutico.

Confira a carta de René Simões:

“Caro torcedor alvinegro,

Costumo dizer que o treinador só tem uma certeza – a incerteza de seu cargo. Ontem isso ficou comprovado na prática. Tenho optado em minha carreira em não me pronunciar nesses momentos, pois não gosto de aumentar especulações. Porém, minha passagem pelo Botafogo, assim como minha saída, foi diferente de muito o que já vivi, e quis dividir isso com vocês. Peço licença aos jogadores, aos quais disse ontem que não iria falar nada.

Entrei no Botafogo com duas missões dadas pela Diretoria – ficar entre os primeiros quatro times do Carioca e subir para a Série A. Saio com a conquista da Taça Guanabara, o vice-campeonato Carioca e a liderança da Série B.

Sim, estávamos passando por um momento difícil, com resultados atípicos para o padrão que foi estabelecido durante a minha passagem. Padrão esse que estava muito além do que qualquer um poderia imaginar no início do ano. Em junho, avisei à Diretoria que passaríamos por um periodo difícil. Exatamente como aconteceu com o Corinthians e pelo mesmo motivo: desmontagem do grupo inicial. Dito e feito.

Para você, torcedor apaixonado (mesmo que conhecedor de futebol), às vezes é difícil entender por que um treinador insiste em um jogador ou outro, mas a verdade é que a saída do Mattos, Jobson, Gilberto e Bill afetaram o time. Um jogador não precisa fazer gol ou ser o melhor em campo para ter um efeito importante nos outros 10. As lideranças fazem diferença.

Não costumo me despedir dos jogadores ao ser mandado embora e fazer entrevistas coletivas. Ontem, pela primeira vez, me despedi deles. Precisava fazer isso, pois o grupo, apesar do que alguns dizem, estava muito unido. Costumo brincar que um treinador tem 11 jogadores que gostam muito dele, 7 que gostam dele e outros tantos que querem que ele seja mandado embora. Nenhum jogador que se preze gosta de ficar fora, mas a sintonia do grupo estava muito boa. Ouso até dizer que foi o grupo mais coeso e profissional com o qual já trabalhei.

Além do mais, não escondo de ninguém que quem escala, tira ou põe sou eu. Para alguns, isso pode ser considerado intransigência, mas escuto apenas a Comissão Técnica e mais ninguém, assumindo 100% de responsabilidade na função para a qual fui contratado. Isso aborreceu alguns, que me chamavam de dono da verdade.

Soube, através da mídia, que o estopim da decisão para minha saída foi a entrevista na qual elogiei a equipe apesar da derrota. Você torcedor, que acompanha cada passo do time, sabe que em todas as entrevistas desde o começo do Carioca comentei performance, independente de resultado. E em inúmeras vezes disse que achei que o time foi mal apesar da vitória, pois me baseio em indicadores, números e estatísticas para passar a minha análise do jogo.

Não poderia ser diferente no jogo contra o Figueirense. Jogamos o primeiro tempo muito bem sim, como fazíamos no Carioca. Com a saída do Elvis e do Otavio, caímos no segundo tempo e não mantivemos o mesmo nível. Isso jogando contra um time de Série A, numa competição que não estava nos planos de meta para 2015, e na qual, infelizmente, perdemos o primeiro jogo na competição, e no nosso estádio, aos 47 minutos do segundo tempo. Fiquei zangado com a derrota, mas resignado em poder focar no Brasileiro, pois estávamos todos confiantes de que o trabalho tinha qualidade suficiente para contornar esse momento difícil. Afinal, alguém esperava que o ano do Botafogo fosse fácil?

Minha surpresa foi apenas ao ver que, ao contrário de algumas mensagens internas que recebi em momentos de vitórias, todo o caminho difícil não seria mais trilhado junto. Prefiro ficar com a lembrança das mensagens mais verdadeiras, que recebi ontem. Geralmente quando se está “por baixo” o telefone raramente toca, e receber tantas mensagens e telefonemas de apoio me deixou muito feliz. Quero agradecer a todos que o fizeram.

Saio de cabeça erguida como sempre. Saio com a sensação de ter cumprido tudo aquilo que me foi estabelecido, e com a certeza de que o tempo que gastei me reciclando e me atualizando antes de voltar a atuar como técnico de futebol me fez muito bem, e que tenho uma comissão técnica muito competente.

Aos funcionários, jogadores e torcedores do Botafogo, agradeço pelo tempo que passei no clube, do qual sempre terei boas lembranças.

Obrigado

René Simões”