Jovem morto em briga de torcida viajava pela Ponte e queria ser jogador

Leonardo Bernardes, 18 anos, perdeu a vida no último sábado (5) após mais uma briga entre torcidas organizadas no Brasil. Ponte-pretano, ele fazia parte da organizada Torcida Jovem e acabou baleado em um confronto horas antes do dérbi no Brinco de Ouro, vencido pelo seu time. Não fosse um jogo de torcida única (apenas com bugrinos), Leonardo provavelmente estaria presente no clássico. Ele não só acompanhava a Ponte Preta em Campinas, mas também em outros estados, e carregava consigo o sonho de ser jogador.

Tio de Leonardo, Irineu Gonçalves Bernardes Filho conversou com o UOL Esporte horas depois do episódio que tirou a vida de seu sobrinho. Ainda sem ‘cair a ficha’, contou à reportagem que nunca ouvira relatos de Leonardo, amante de futebol, envolvendo-se em confusões – seja em Campinas, seja fora do Estado

“Ele jogava bola desde pequeno, ia aos jogos da Ponte com os amigos da torcida, e não com a família. Ele já viajou atrás da Ponte, foi para o Rio de Janeiro ver o jogo contra o Fluminense na Copa do Brasil, e nunca falou nada sobre confusão. Nunca se envolveu em briga, pelo que sabemos”, diz Irineu.

O tio conta que Leonardo chegou a trabalhar em um programa de aprendizagem profissional em Campinas. Porém, o que o sobrinho queria mesmo era ser jogador de futebol. Zagueiro, era presença constante em campeonatos amadores na região de Campinas.

“Ele chegou a trabalhar um tempo no Patrulheiros de Campinas como jovem aprendiz na área de administração, mas o sonho dele era ser jogador. Ainda tinha o sonho, disputava o campeonato amador com o time do bairro, era zagueiro”, acrescenta.

Brincalhão e muito família

Uma criança. Assim Leonardo Bernardes foi descrito pelo tio, que via o sobrinho como um ‘brincalhão’ que era adorado por todos amigos e familiares.

“Era brincalhão demais, uma criança, chegava em casa e já vinha encher o saco, no bom sentido, ficava brincando com todo mundo. Muito família, um amor de menino. Ele gostava de jogar videogame e futebol, era um amor de pessoa. Se você perguntar para qualquer pessoa que o conhecia, ela vai dizer a mesma coisa”, diz.

“Ficha ainda não caiu”

Entrevistado pelo UOL Esporte horas depois da tragédia, Irineu ainda parecia não acreditar no que havia acontecido. Ele ficou sabendo da morte do sobrinho pelo padrasto de Leonardo, e ainda tinha informações confusas sobre o episódio que teve o ponte-pretano como vítima fatal.

“O padrasto dele me ligou, avisando do que tinha acontecido. Até agora não sei como é a história direito, cada um fala uma coisa, a gente nem sabe. Briga de torcida e acabou levando tiro. Até agora não caiu a ficha do que aconteceu”, disse.

Entre os que mais estavam sofrendo com a tragédia estava o primo, de apenas 15 anos. Parceiro de videogame, era da família um dos mais próximos de Leonardo.

“Ele [Leonardo] tinha uma irmã mais velha, que se casou recentemente, e um primo, meu sobrinho mais novo, de 15 anos. Ele está inconsolável, eles eram muito próximos. Ficavam aqui na minha casa brincando e jogando videogame”, completa.

O enterro de Leonardo Bernardes acontece às 15h deste domingo (6), no Cemitério dos Amarais, em Campinas (SP).

Perfil foi alvo de ofensas nas redes sociais

A página de Leonardo Bernardes no Facebook foi alvo de insultos, xingamentos e ofensas, minutos depois da confirmação de sua morte. Em uma publicação na sexta (4), Bernardes havia dito que “em dia de dérbi, se eu trombar galinha vai ser o seu fim”, referindo-se aos torcedores alviverdes. Um pequeno grupo de bugrinos comentou na postagem, ligando a morte do aficionado alvinegro à afirmação dele no Facebook.

Polícia tem suspeito de matar ponte-pretano

A polícia identificou um suspeito pela morte de Leonardo Bernardes. Em entrevista ao UOL Esporte, o delegado José Ricardo Arruda Marchetti, da 4ª DP de Campinas, disse crer que o confronto foi previamente combinado nas redes sociais, mas não tem mais informações sobre os motivos e o número de participantes.

Segundo Marchetti, torcedores dos dois times se encontraram na Praça São Bernardo, em Campinas, na manhã deste sábado, horas antes do clássico entre as equipes pela Série B do Campeonato Brasileiro. Quando os policiais chegaram ao local, a briga já havia terminado, e as testemunhas estavam receosas de dar detalhes sobre o confronto.