Geninho faz lobby por futebol ofensivo e diz que Avaí já poderia ter subido
A Série B de 2018 chega a sua reta final com emoção de sobra nas últimas duas rodadas. Além do Fortaleza, já com o acesso confirmado, outras sete equipes brigam pelas três vagas restantes para a Série A: Ponte Preta (59), CSA (59), Goiás (57), Avaí (57), Londrina (55), Vila Nova (55) e Atlético-GO (53). Dentre eles, quem apresenta a tabela mais delicada é o time catarinense, único que tem dois concorrentes diretos (CSA e Ponte Preta) como adversários. Promessa de tensão e muita dificuldade pela frente, algo que, na visão de Geninho, poderia ter sido evitado.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte concedida nesta quarta-feira (14), o experiente treinador de 70 anos afirmou que a equipe catarinense teve inúmeras oportunidades para ter um fim de campeonato mais tranquilo, mas não o fez. Nas últimas três rodadas, o Avaí somou apenas dois pontos; empatou com Londrina (casa) e Atlético-GO (fora) e, no último sábado (10), perdeu para o Fortaleza em jogo que deu o título da Série B aos cearenses.
“Por culpa dele [ainda não subiu]. O Avaí já poderia estar tranquilamente classificado. Nós tivemos alguns jogos nessa reta final que podíamos ter vencido. Acabamos não aproveitando as oportunidades que tivemos de somar os pontos. Ainda bem que o Avaí ainda depende dele, mas são dois jogos muito difíceis. A reta final do Avaí foi muito difícil. Nos últimos cinco jogos pegou cinco confrontos diretos: Goiás, Atlético-GO, Fortaleza, CSA e Ponte Preta. Enquanto os outros adversários estão jogando com um pessoal mais tranquilo, o Avaí está jogando confronto direto. Os dois serão jogos que a gente chama de seis pontos. É complicado”, disse.
Por outro lado, Geninho faz questão de dar méritos ao grupo pela campanha até aqui apresentada. Na opinião do treinador, que substituiu Claudinei Oliveira após a primeira rodada da Série B, o Avaí não entrou na competição como um dos favoritos a buscar o acesso, e foi conquistando aos poucos esse direito por jogar de maneira agressiva seja dentro ou fora de casa.
“É um time que, quando entrou na competição, não era candidato. É um time formado em sua maioria por jogadores desconhecidos. Tenho três ou quatro experientes e o resto é muita meninada, formada pela base, alguns que vieram da Série C, D, mas foi um time que encaixou, de um grupo que acreditou que podia, que tem jogado constantemente um futebol para frente, tanto que um dos critérios que pode me levar à classificação é saldo de gols. É um time que tem um retrospecto positivo jogando fora de casa, pois não joga retrancado. Acho que o fato de você jogar um futebol agressivo durante toda competição foi um fator para que o Avaí surpreendesse na competição”, acrescentou Geninho, que busca o seu segundo acesso com o Leão da Ilha - o primeiro foi em 2014.
“A gente sempre pega para fazer um trabalho com esperança. Você nunca vai num lugar disputar por disputar. Sempre tento fazer meu time chegar. E tentei passar isso para o grupo: que a gente podia. Que tinha que acreditar no trabalho, e isso funcionou. O fato de ser jovem pode te trazer algum pequeno prejuízo, mas te traz alguns ganhos. É bom trabalhar com jovens motivados. Eles passam a acreditar que podem alcançar algo que ainda não alcançaram e fica um grupo forte, um grupo difícil de bater. É um grupo que batalha pelo resultado jogo a jogo. Eles acreditaram nessa ideia de que poderiam chegar”, declarou.
“O time foi crescendo dentro da competição. Em alguns momentos a equipe rendeu até de uma maneira surpreendente, acima do que muita gente esperava. O Avaí acabou sendo uma surpresa pelo que rendeu. E eu digo sempre para eles: por serem jovens, eu acho que podem melhorar ainda. Quando você tem um time jovem, a expectativa é de que você está tirando cada vez mais desse grupo. Eu acho que ele ainda pode render bem”, disse o treinador.
Com mais de 30 anos de carreira como técnico e muitos títulos na bagagem, Geninho acredita que o acesso pode ser tão importante quanto a conquista de uma taça. E vê esse como um dos principais ingredientes da Série B.
“É quase uma sensação de título. Diferente do Brasileiro, onde tem o título e é muito comemorado, a Série B... Título é título, você tem que comemorar, mas o mais importante é ascender. Todo mundo vai para o mesmo lugar, vai começar o ano que vem da mesma maneira. O título não te dá vantagem, diferente do título brasileiro, que dá uma classificação direta para Libertadores, coisas maiores. Nas outras não, elas equivalem. Então você pode dizer que os quatro que sobem comemoram um título. De repente você se classifica de uma maneira delicada, dependendo dos outros na última rodada... A Série B é emocionante em relação a isso. Invariavelmente ela chega na reta final nessa situação”, analisou Geninho.
Lobby por futebol bonito e ofensivo: “está feio”
Na atual Série B, o Avaí possui o segundo melhor saldo de gols entre os 20 times: 17, atrás apenas do campeão Fortaleza, que tem 22 e um jogo a mais. Já o ataque é o quarto mais positivo, com 49 gols, só dois a menos que Goiás e Atlético-GO, líderes nesse quesito. A marca anima Geninho, que assumiu o comando avaiano já com a ideia de implantar um DNA ofensivo na equipe. E conseguiu.
A busca por um jogo mais ofensivo e menos preocupado em ‘só se defender’, aliás, foi um dos temas abordados por Geninho durante a entrevista feita por telefone. O técnico, que atuou como jogador por cerca de 20 anos e trabalho como treinador há mais de 30, não esconde a saudade de um jogo mais vistoso, praticado em ‘sua época’. E admite: o futebol de hoje não empolga.
“Mudou muita coisa. O futebol de hoje é completamente diferente do que se jogava na minha época. Hoje o futebol é mais técnico, mais jogado, mais tático... No começo era um futebol com pouca técnica e muito coração. Jogava-se num esquema exclusivamente buscando o gol. Jogava-se às vezes com quatro atacantes, era outro tipo de jogo. Um futebol mais sonhador. Você tinha espaço, a preparação física não era a atual. Jogador que tinha qualidade técnica... Você vê a seleção de 70, com Gérson, Clodoaldo, tendo tempo de matar no peito, dar um toque, levantar a cabeça, ver onde vai mandar a bola. Hoje em dia quando o jogador levanta a cabeça já chega alguém. Na minha opinião está um futebol mais feio. Não é um futebol que empolga”, disse.
“A marcação passou a ser prioridade. O gol não virou prioridade no futebol. O gol é o detalhe mais importante no futebol, mas não é trabalhado tanto na prioridade como a marcação. Hoje predominam o tirar espaço, jogar compactado, numa linha baixa... Antes os gols eram gols de tabela, que eternizou Pelé e Coutinho e vários outros, e hoje você 70% dos gols de bola parada ou levantada. Você não acha mais espaço para entrar. Às vezes você tem um time alto, com uma zaga alta, centroavante grande, dois laterais que cruzam, você já tem chance de ganhar os jogos. Então, na minha opinião, ficou um futebol mais feio do que era na minha época. Eu acho que o que teria que acontecer é mudar um pouco o conceito na cabeça de um pessoal para jogar mais buscando o gol, procurando se arriscar mais, pensando: eu vou tomar um, mas vou fazer dois. Acho que aí mudaria. Isso depende muito de atitude”, completou.
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E o futuro?: “Se subir, a gente conversa”
Depende do resultado. O futuro do treinador passa muito pelo acesso. Eles querem que eu fique independente do resultado, mas é complicado. Você começar um trabalho vindo de um insucesso em um objetivo é meio complicado. Se o time subir, a gente pode sentar e conversar para uma sequência. Mas é melhor esperar. Nada que se falasse agora ia mudar alguma coisa. Vamos esperar. Falta pouco. Em dez ou 15 dias a gente senta e conversa.
O segredo do Atlético-PR campeão brasileiro
Um time que vinha com dificuldade, quando eu cheguei estava com muito problema de relacionamento, interno, com torcida, com imprensa, e as coisas foram se ajeitando, os resultados em campo começaram a aparecer, nós ficamos numa sequência muito boa de jogos sem perder e isso ajudou, a torcida teve um papel fundamental na recuperação daquele time, naquele título, o fato de nós decidirmos na Arena foi fundamental. E aquele time foi se ajeitando... Eu até falei uma frase no final naquela época do campeonato: ‘a gente jogaria contra qualquer equipe que ganharia o título’. A gente estava jogando um futebol de um nível que a gente enfrentaria qualquer equipe. Era um time que entrava em campo acreditando que ia ganhar. Quando um grupo chega nesse nível, é difícil bater. Quando um grupo entra em campo acreditando que ele pode, ele vai, aí é difícil. E isso aconteceu com o Atlético-PR.
Título brasileiro pelo Atlético-PR ainda é o mais especial
É porque me colocou naquela faixa de treinadores vencedores. Não são muitos que são campeões brasileiros. Então isso acabou me dando um know-how que eu ainda não tinha. Eu já tinha conquistado títulos em Portugal, na Arábia, mas eu não tinha um título dentro do Brasil. Foi muito bom porque os títulos foram seguidos: ganhei a Série B com o Paraná e logo em seguida a Série A com o Atlético. E ganhar o título em um clube que teoricamente não era candidato, teve uma repercussão muito boa para mim. Valorizou muito o meu trabalho. É comemorado lá e por mim até hoje.
Técnicos experientes x técnicos da nova geração
Eu acho que a reformulação é uma coisa natural de acontecer e ninguém vai impedir que isso aconteça. Eu acho que esses jovens vêm com um conhecimento técnico muito grande em termos de curso, de acompanhamento, dentro e fora do Brasil, e eles tentam aplicar isso. Isso eu acho que o mais velho faz também. Um técnico com um pouco mais de idade, se ele parar, ele fica para trás. Ele tem que ter os conceitos dele, até mais antigos, de um futebol jogado anterior, mas tem que estar atualizado com o que se faz hoje; na parte física, de fisiologia... Então os treinadores mais velhos têm que ter esse conhecimento. Eu acho que a grande vantagem do treinador mais velho em relação a essa garotada é essa experiência. O fato de já ter passado por alguns problemas, algumas situações que esses garotos ainda não passaram. De repente surge um problema novo e eles podem ter dificuldade de administrar. E quando isso cai no colo de uma pessoa mais experiente, ele tira de letra porque já viveu aquela situação duas, três, quatro vezes. Teve dificuldade na primeira, na segunda e soube administrar melhor. Acho que isso que está acontecendo. Na hora das decisões, de uma alavancada, de um time conturbado, de repente um cara mais velho tem a facilidade de administrar melhor porque já conviveu com aquele problema. Tem mais facilidade de achar soluções do que um garoto. Não que exista um conhecimento maior ou menor. Acho que eles vêm com um gás muito grande. Na hora que eles pegarem um pouco mais de rodagem, alguns deles vão se tornar excelentes profissionais porque têm mentalidade muito boa, um pique de trabalho, de querer aprender, e a experiência só vai vir com o tempo.
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