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Série B - 2019

Ídolo do América-MG, técnico parou carreira por família. Agora, tenta volta

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

04/05/2019 14h27

Mauro Fernandes marcou história no América-MG. Responsável por levar o clube à Série A do Campeonato Brasileiro em 2010, ele busca uma nova chance no mercado da bola depois de um período sem trabalhar por conta da família.

Entre 2012 e 2019, quando finalmente quis voltar a atuar, ele aceitou quatro trabalhos - Rio Verde, Caldas Novas, Portuguesa e Central-PE. O principal motivo para a parada na carreira era acompanhar o crescimento da filha ao lado da mulher Márcia.

"Eu dei uma parada na minha carreira, porque estava saindo de um time e indo para outro. Às vezes, não tinha tempo de ficar com a família. Quando a minha filha nasceu, optei por ficar um tempo sem trabalhar, cuidar da minha filha, vê-la crescer. Quando você tem a opção de ficar fora do mercado por um tempo, é complicado. A minha opção maior foi sair do América. Em 2012, minha filha nasceu e eu estava no América. Na minha saída do América, eu optei por ficar em casa e passei um tempo sem trabalhar", disse ao UOL Esporte.

"No futebol, se você não ficar trabalhando, você acaba esquecido no mercado. Eu precisava trabalhar novamente para colocar a cara para o pessoal ver. Eu fui no ano passado para o Central de Pernambuco. Fomos vice-campeões. Apareceu a visibilidade. Eu fiquei parado estudando futebol. Fui para a Europa, estive na Alemanha, na Espanha, acompanhando jogos. Às vezes, via alguns treinamentos de clubes. A minha passagem nesse tempo em que estive na Europa foi muito positiva. Acrescentou coisas que posso colocar no meu trabalho", acrescentou.

Embora tenha feito campanhas de destaque com Sport, Brasiliense e até o próprio Central, Mauro Fernandes é bastante lembrado pelo que conseguiu no América-MG. Em 2010, ele conduziu o time de volta à elite do futebol nacional.

"O América-MG, nas minhas passagens, fizemos bons trabalhos. A primeira passagem foi no fim de 2001, para 2002. Pegamos o time numa situação difícil, classificamos, fomos para as quartas de final do Campeonato Brasileiro. Em 2010, eu consegui um acesso da Série B para a Série A. Voltei em 2012, com o América em uma situação meio difícil no Campeonato Brasileiro. Voltamos e conseguimos recuperar o clube. Foi ali que dei a minha parada. Eu posso olhar para trás e dizer que 90% das minhas passagens foram boas", comentou.

Em 2019, Mauro Fernandes esteve à frente da Caldense. Ele assumiu a equipe na sétima rodada do Campeonato Mineiro, a salvou do rebaixamento e garantiu a classificação para as quartas de final. Nesta fase, no entanto, foi derrotado justamente para o América, por 2 a 0, no estádio Independência.

"Na realidade, a Caldense estava passando por uma situação muito difícil no Campeonato Mineiro. O presidente me ligou e falou que precisava de alguém com comando para livrar o time do rebaixamento. Eu topei o desafio e consegui fazer um trabalho de razoável para bom. Salvamos o time do rebaixamento e de quebra conseguimos a classificação. Os times do interior não têm uma estrutura adequada para competir com Atlético, Cruzeiro e América, principalmente jogando em Belo Horizonte. Em um âmbito geral, o trabalho foi positivo", disse.

Confira, abaixo, outros trechos da entrevista de Mauro Fernandes ao UOL Esporte:

Atualização como treinador

Treinador de futebol tem que pensar toda hora em estudar. A gente tem os cursos obrigatórios no futebol hoje. Principalmente para o treinador, ele não pode deixar de ficar atualizado, senão acaba ficando para trás. O futebol deu uma reviravolta muito grande em relação à Copa do Mundo que teve no Brasil, principalmente os treinadores mais experientes no futebol. Os treinadores quiseram fazer uma renovação rápida demais no futebol brasileiro, sobretudo em comando técnico. O caminho não é por aí. Tiraram os treinadores mais experientes e colocaram os mais jovens. Mas não é assim, a renovação é gradativa. Não dá para fazer uma mudança radical, como aconteceu no futebol brasileiro. Dali para cá, quando viram que tinham que mesclar experiência e juventude, isso é em qualquer segmento de trabalho, passaram a dar chances para os técnicos mais experientes. O Atlético tinha o Levir, o Cruzeiro tinha o Mano, o Palmeiras tinha o Felipão, o São Paulo tem o Cuca... O Corinthians emplacou com o Fábio Carille, que teve uma escola muito grande, trabalhou com o Mano e com o Tite. Ele teve paciência para esperar a hora dele. Acho que tudo tem o seu momento certo.

Preconceito com experientes

Tentaram fazer uma mudança muito rápida em termos de comando técnico no Brasil. Quando a gente faz as coisas muito rápidas, a gente acaba não fazendo bem feita. A mudança tem que vir, às vezes, de maneira de que não vai atingir tanto os mais experientes e nem barrar os mais jovens. Tem lugar para todo mundo trabalhar. Nós temos tantos clubes no futebol brasileiro. A gente tem que preservar o nome e ir para um clube que te dá condições de trabalhar.

Por que deixou a Caldense

A Caldense tinha um planejamento de só participar da Série D e não perder a vaga. O presidente disse que, se eu continuasse, manteria a base do time para tentar subir de divisão. Eu preferia não disputar a Série D para esperar um momento para trabalhar numa equipe de Série A, Série B e Série C. Com minha não renovação, a Caldense preferiu fazer uma parceria com o Grêmio Osasco. A Caldense vai jogar o Brasileiro com o sub-23 para que não tenha muito gasto, até porque no ano que vem eles querem fazer um time para uma campanha digna no Brasileiro.

Propostas recusadas após a Caldense

Fui procurado por times que, no momento, eu preferiria ficar em casa esperando a oportunidade. A gente quer ter condições de fazer grandes trabalhos. É o que pretendo para esse ano. A gente tem que achar um clube que te dê condições para isso.

Parada por causa da família

A família é o alicerce que você tem. Tirar a minha família de Belo Horizonte é muito difícil. A gente tem que preparar a família, porque às vezes eles têm que abrir mão de algumas coisas. Eu tenho uma esposa que trabalha na Justiça Federal, minha filha estuda. A carreira do treinador, como muda muito, a gente tem que estabelecer raiz para a família. A minha é aqui em Belo Horizonte.