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Empolgado, Falcão cai nas graças da torcida do Bahia e ganha até parabéns de Galvão

Falcão está no comando do Bahia desde fevereiro e já conquistou o Campeonato Baiano - Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação
Falcão está no comando do Bahia desde fevereiro e já conquistou o Campeonato Baiano Imagem: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação

Lucas Tieppo

Do UOL, em São Paulo

17/05/2012 06h00

Paulo Roberto Falcão criou toda a sua carreira de jogador, técnico e comentarista com a imagem de homem calmo, ponderado, mas parece ter encontrado seu lugar em uma cidade exatamente oposta a este estilo de vida. Totalmente ambientado com a nova vida na agitada Salvador, cidade onde vive desde fevereiro, o “Rei de Roma” está cada vez mais entrando no clima da capital baiana.

Empolgado com o trabalho feito no comando do tricolor baiano, que apesar de curto já rendeu frutos, como a conquista com Campeonato Baiano após 11 anos de jejum, Falcão não faz planos para o longo prazo. “Aprendi a viver o momento. Se você fica planejando muito, acaba não vivendo o presente”, disse o treinador, que tem contrato até o fim do ano.

E o momento é animador. O Bahia inicia nesta quinta-feira, em casa, a disputa por uma vaga nas semifinais da Copa do Brasil com o Grêmio poucos dias após derrotar o rival Vitória na decisão do estadual, que rendeu até parabéns do antigo companheiro de transmissão, Galvão Bueno. "Ele me ligou depois do título."

Falcão também já caiu nas graças da torcida tricolor, o que pôde ser visto na comemoração pelo título estadual, e pelas homenagens, algumas bem humoradas. "Já fizeram até foto minha de rastafári", disse o técnico, que descarta o apelido de "Rei da Bahia". 

Em entrevista ao UOL Esporte, Falcão conta da sua vida em Salvador, do contato que ainda mantém com os colegas dos tempos de comentarista, do período de sete meses entre a saída do Internacional em julho do ano passado e chega ao Bahia, do intercambio que fez na Europa com o técnico português José Mourinho e Arrigo Sacchi, entre outros assuntos. Confira.

UOL Esporte - Como é a vida na Bahia? Está adaptado?

Falcão - Estou bem acostumado, a vida está andando bem. Nunca havia trabalhado aqui, mas vinha passar férias. Agora é a convivência. O pessoal é muito alegre, divertido. É um lugar muito bom para morar. Estou me sentindo em casa.

UOL Esporte – Já estão te chamando de o “Rei da Bahia”, aceita o título?

Falcão - Isso é um exagero da torcida. É um carinho grande que a torcida tem comigo e isso é a melhor coisa, é o que fica. Mas no futebol você tem que ganhar o máximo possível.

UOL Esporte - Você tem a noção de que sua presença levou o nome do Bahia para o mundo todo?

Falcão - Acho que sim. Tem uma coisa importante, o Bahia me deu a oportunidade de trabalhar e isso é uma coisa recíproca. Fiquei muito feliz por fazer a mídia olhar um pouco para a Bahia.

UOL Esporte - Você chegou ao Bahia em fevereiro, está há cerca de três meses no comando, a torcida baiana é mesmo diferente?

Falcão - Ela é sim muito forte, tem um grito que se sente. É algo muito intenso.

UOL Esporte – Você parece muito animado, empolgado com o trabalho no Bahia...

Falcão - A torcida até fez uma foto minha com o cabelo rastafári. Essa paixão pelo futebol provoca coisas que só existem no mundo do futebol. O torcedor do Bahia tinha engasgado esse jejum de 11 anos e quando se passa por um rival, mais ainda. Os jornais vendem mais na segunda. E conseguimos algo muito legal, o trabalho está sendo bem feito, e quando um título vem fica tudo mais fácil.

UOL Esporte – Tem saudade dos tempos de comentarista, pensa em voltar à exercer a função? Ou já pensou até quando pretende trabalhar com futebol.

Falcão - Às vezes tenho sim, mas estou com um objetivo. Ainda não pensei em aposentadoria, talvez mais uns dez anos, se mantiver essa média de dois estaduais, por dois times diferentes, em dois anos, está bom né.

UOL Esporte – Como é seu contato com o Galvão Bueno e Arnaldo Cesar Coelho, que eram as pessoas com quem você mais trabalhava?

Falcão - Converso com eles sempre. O Galvão me ligou para dar parabéns pelo título, o Arnaldo me mandou torpedo, o Luis Roberto e o Cléber também. Isso é muito legal. É o que fica. 

UOL Esporte - A decisão do Campeonato Baiano foi emocionante, qual foi o diferencial do Bahia?

Falcão - Creio que foi a campanha durante todo o campeonato. Fomos o time que mais somou pontos, mais fez gols, só perde para o Santos em todo o país, e tivemos a vantagem de jogar por dois resultados iguais. Isso tudo fez a diferença. Mas podíamos ter ganho o segundo jogo.

UOL Esporte - Você foi expulso nas duas finais e é conhecido por ser um técnico calmo à beira do gramado, o que aconteceu?

Falcão - Não teve ofensa, nem palavrão, apenas discordei de uma situação com o árbitro, de cartão, e ele me expulsou. Achei que não era necessário, foi uma situação de falta, mas nada que justificasse.

 

UOL Esporte – Pretende manter este esquema ofensivo ao longo do ano?

Falcão - A proposta ofensiva depende muito dos jogadores que você tem, mas também do adversário. Todos procuram fazer um futebol ofensivo, mas não adianta impor este estilo todos os jogos.

UOL Esporte – Você viveu por muito tempo a rivalidade entre Grêmio e Internacional. Como é entre Bahia e Vitória?

Falcão - A rivalidade é muito forte sim, são só dois times em uma grande cidade, o que aumenta. E os clássicos da final tiveram o componente emocional, além da qualidade dos times.

UOL Esporte – Você passou um bom período sem trabalhar em clubes entre a saída do Internacional e a chegada ao Bahia, o que fez neste tempo?

Falcão - Tive assistindo muitos jogos, observando os campeonatos. E fiz uma viagem de duas semanas à Europa, fiz um intercâmbio com o Sacchi (Arrigo Sacchi, ex-técnico do Milan e da seleção italiana), que hoje é diretor do curso de treinadores da federação, conversei com o Prandelli (Cesare Prandelli, atual técnico da Itália), e passei uma semana com o Mourinho no Real Madrid.

UOL Esporte – O que trouxe de interessante do período com o José Mourinho?

Falcão - Não tem uma coisa só, passei algumas coisas que são feitas aqui e ele de lá. A comissão técnica dele, por exemplo, é muito forte. Mas foi apenas um intercambio.

UOL Esporte – Você passou pelo Internacional, que tem uma grande estrutura de centro de treinamentos, estádio. Teve algum problema de adaptação no Bahia ou no decorrer do trabalho?

Falcão - O Bahia me dá todas as condições para trabalhar. Tem um centro de treinamento muito legal para o profissional, tem um centro para a base também. Está bem dentro da média do futebol brasileiro, é tudo muito profissional.

UOL Esporte – Como chega o Bahia para o Campeonato Brasileiro? A meta é uma vaga para a Libertadores?

Falcão - Primeiro é ser campeão da Copa do Brasil, vamos ver se conseguimos surpreender. Teremos um jogo muito difícil, complicado contra o Grêmio. Temos a necessidade de fazer gols, será um jogo que teremos de ter muito cuidado. O Grêmio é muito forte, tem camisa muito pesada na competição.

UOL Esporte – Se recebesse uma proposta para trabalhar no Grêmio, você aceitaria?

Falcão - Não gosto de falar de coisas que podem acontecer, prefiro viver o momento, que é muito bom, agradável, pela alegria do torcedor, alguém que não ganhava há 11 anos.

UOL Esporte – Você passou pela seleção brasileira no começo da década de 1990, tem o sonho de voltar?

Falcão - Sonho é algo mais de adolescente. Não digo que não posso sonhar, mas é algo mais próximo das coisas ao nosso alcance. Neste momento não penso nisso, estou vibrando muito com o título, se você fica planejando muito, acaba não vivendo o presente. Aprendi a viver cada coisa no seu momento.

UOL Esporte – Como avalia o trabalho do Mano Menezes na seleção?

Falcão - Gosto do Mano e acho que ele pode fazer um trabalho ainda melhor. Ele tem que montar a seleção e sair da Olimpíada com a equipe mais definida e jogar a Copa das Confederações com o time formado.