Após jejum sexual no Omã, atacante arruma namorada e vira artilheiro na várzea
David Abramvezt
Do UOL, em São Paulo
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Arquivo pessoal
Carlão recebe prêmio de melhor em campo durante passagem pelo Al Seeb, de Omã
Para se buscar objetivos profissionais e pessoais, muitas vezes é necessário abrir mão de grandes prazeres. Que o diga o atacante Carlão, que marcou três gols pelo o 1º de Maio, do Tatuapé, e ocupa a artilharia da Copa Kaiser. De olho em um bom contrato no Al Seeb, de Omã, há dois anos, ele deixou o Villa Rubia, da terceira divisão espanhola, e foi se aventurar no rígido país da Península Arábica. Dentro de campo, o brasileiro fez gols e teve um bom desempenho. Mas o problema era fora das quatro linhas. Por ser estrangeiro, ele teve de viver um forçado jejum sexual de oito meses.
"Era impossível conseguir uma mulher para namorar, por causa da cultura religiosa dos muçulmanos. Se você não é árabe, não pode mexer com as mulheres de lá. Eu fiquei na vontade durante os oito meses que joguei lá. Isso acabou fazendo com que eu fosse embora. Eu gosto é de bola na rede", disse Carlão. "O bom é que na Árabia, eu ganhei um bom dinheiro. Todos os times são de algum xeque. Eu ganhava premiação se fizesse gol e fiz bastante", acrescentou ele.
Depois de conseguir fazer um pé de meia, Carlão, que antes havia passado por Itapirense, Oeste, Flamengo de Guarulhos e Taquaritinga, decidiu voltar para o Brasil. Cheio de desejo, ele reencontrou Priscila, a quem já conhecia há anos. O amor os envolveu, a abstinência sexual chegou ao fim e, pouco depois nasceu Cauã, filho do casal. Paralelamente, o goleador buscava um time para jogar, pois o dinheiro ganho na Árabia estava indo embora com tantas despesas. Era a hora de tentar a sorte no Vietnã, no An Giang, da cidade de Long Xuyên. Mas desta vez com mulher.
"Me levaram para conhecer a estrutura do An Giang. Logo de cara, eu não gostei, porque eles me deram carne de cachorro para comer. E, no restaurante, começaram a passar ratos perto da mesa. Não gostei da cidade, mas fiquei um mês treinando e queriam assinar comigo. Mas não aceitei ficar", comentou Carlão.
De volta do Vietnã, o veloz atacante acabou indo parar na várzea paulistana. Conhecidos o indicaram para o 1º de Maio, do Tatuapé. Na sua primeira temporada pelo time, em 2012, Carlão marcou três gols em três partidas. Mas a equipe sofreu em uma chave complicada, com os fortes SDX, da Cidade Tiradentes, e Nova Sapopemba, e foi eliminada já na etapa 1 da competição.
Neste ano, o sorteio não foi tão cruel com o clube, que caiu no grupo 2 da Zona Leste, ao lado de Santa Cruz, do Jardim Pedro Nunes, Juventude, de São Mateus, e Primavera, do Jardim Fanganiello. E, logo na estreia, a agremiação bateu por 6 a 4 o Primavera, com três tentos de Carlão. O resultado era para ser mais tranquilo. Só que, depois de abrir 4 a 0, o técnico João Donizetti resolveu dar ritmo aos seus reservas.
"Eu fiquei até o fim do jogo. Graças a Deus, nós conseguimos segurar o resultado depois do susto e eu consegui sair de campo com três gols", falou Carlão. "No primeiro gol, eu recebi um lançamento, dei um tapa para tirar do zagueiro e chutei cruzado. O segundo, eu fiz dentro da área. E o terceiro foi de fora da área. Podia ter feito pelo menos mais dois, mas errei ao finalizar", relatou o atacante, enfatizando que o seu forte mesmo é a jogada em velocidade.
Vivendo um belo momento, Carlão está feliz na várzea. Entretanto, ele espera que a visibilidade que está conquistando na Copa Kaiser possa o ajudar a despertar o interesse de um time profissional. "Eu estou com 27 anos e tenho até experiência internacional. Espero que vejam meu futebol. Vamos ver se aparece uma nova oportunidade", disse o atleta.
No próximo domingo, o goleador, que divide a artilharia da Copa Kaiser com Rodrigo Santos, do Novo Sapopemba, terá novamente a chance de mostrar o seu faro de gol na partida com o Juventude, da Vila Prudente, às 11h30, no campo do Santa Cruz, no Jardim Pedro Nunes.
"Confiamos muito no Carlão. No gramado sintético (do CDC Vila Nhocuné), na estreia, ele fez três gols. Vamos ver se ele supera a dificuldade do campo de terra do Santa Cruz. Eu acredito. Espero que possamos vencer o segundo jogo da Kaiser", comentou João Donizetti, treinador do 1º de Maio.