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Final do Fla ratifica Rio como palco de ódio, brigas e gás de pimenta

Leo Burlá, Pedro Ivo Almeida e Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

14/12/2017 04h00

Guilherme Arruda passou algumas horas na “fila virtual” de um site para conseguir comprar o ingresso para a final da Copa Sul-Americana. Algum tempo e R$ 80 depois, vaga garantida no Maracanã. O desafio era apenas o primeiro - e mais tranquilo - na odisseia para ver o duelo entre Flamengo e Independiente, na última quarta-feira (13). O que o empresário de 29 anos não sabia é que o bilhete nem seria necessário na entrada do estádio. No meio de uma enorme confusão, ele foi jogado para dentro do Maraca por torcedores rubro-negros que invadiam o setor Norte pelo portão F do local. No ar, gás de pimenta, bombas de gás lacrimogênio e o clima de medo completaram um cenário de guerra que terminou ainda com o vice do time carioca no torneio com o empate por 1 a 1.

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A história de Guilherme como protagonista é apenas uma dos inúmeras que tiveram o Maracanã e seu entorno como palco na noite passada. Pior, apenas um dos milhares que se repetiram pelo Rio de Janeiro durante toda a temporada de 2017. No último jogo oficial do ano, um cenário preocupante, porém banal na atualidade: discurso de ódio, brigas, confusões, polícia utilizando das mais diversas armas ditas “não letais” para combater o caos e o futebol como coadjuvante.

Caveirão no MAracanã - Pedro Ivo Almeida/UOL - Pedro Ivo Almeida/UOL
"Caveirão", veículo blindado da PM do RJ, chega para mais um jogo no Maracanã. Cena comum em uma cidade acostumada a ver jogos de futebol como palco de guerra
Imagem: Pedro Ivo Almeida/UOL

E os tumultos, desta vez, começaram bem antes do jogo. Com um dia de antecedência. Na noite de véspera do duelo final da Sul-Americana, torcedores do Flamengo cumpriram uma promessa de retaliação e tacaram bombas na direção do hotel que servia de concentração para o Independiente. O tradicional foguetório era pouco na decisão de “dar o troco” pelas dificuldades encaradas pelo Rubro-negro em Buenos Aires. Eles queriam mais. Grades foram arremessadas e uma tentativa de invasão foi verificada. No fim, dezenas de detidos pela polícia.

O sinal estava claro: a quarta-feira não seria tranquila. Promessa cumprida. Horas antes dos portões abrirem, mais tumulto. Agora na porta do Maracanã. Rubro-negros atacavam torcedores do Independiente que se deslocavam para a entrada dos “hinchas”.

“Tem que matar mesmo. Vão aprender que macaco é brabo”, gritou um flamenguista mais exaltado, relembrando o caso de racismo da última semana, quando um torcedor argentino imitou o animal para provocar os brasileiros, após empurrar um senhor de 81 anos.

Maracanã com invasão da torcida do Flamengo - Vinicius Castro/UOL - Vinicius Castro/UOL
Maracanã viu cenário de destruição após invasão de parte da torcida do Flamengo
Imagem: Vinicius Castro/UOL

A tropa de choque da Polícia Militar entrou em ação. Agora com cavalos. Novidades no dia, mas algo já corriqueiro nas portas de estádios do Rio de Janeiro.
Bombas de gás lacrimogênio, gás de pimenta e balas de borracha se juntavam ao arsenal que tentava conter os tumultos. Nada novo na cidade, acostumada a confrontos no Engenhão e em São Januário.

A Polícia Militar tentou até onde deu. Os torcedores não desistiam. E passaram a invadir o Maracanã derrubando grades, leitores eletrônicos e o que viam pela frente. E fez-se uma nova briga generalizada, agora no portão B, conforme relatado pelo empresário Guilherme Arruda.

“Os nossos torcedores se juntavam para invadir, forçavam o portão e voltavam. Então começou a guerra com a polícia. Aquilo que já sabemos de sempre: gás de pimenta, gás lacrimogênio e bala de borracha. As pessoas se abaixavam, pulavam pela rampa. Um horror, uma guerra”, contou um assustado Guilherme.

Bola rolando. Uma pequena paz. Mas que não durou mais de 90 minutos. Fim de jogo, Flamengo vice-campeão e novo tumulto.

Os torcedores do Flamengo vandalizaram os arredores do estádio após a derrota. Bombas e morteiros foram atirados em caminhões de transmissão das emissoras de televisão e na entrada da imprensa. Pedaços de madeira, garrafas e pedras no portão de saída dos jogadores. A PM agiu com bombas de efeito moral, jatos de água, balas de borracha e spray de pimenta. Sim, tudo de novo. Centenas de torcedores demoraram quase uma hora para deixar o estádio.

Festa do Independiente na janela quebrada - Pedro Ivo Almeida/UOL - Pedro Ivo Almeida/UOL
Título em meio ao caos: jogadores do Independiente comemoram com a taça através da janela depredada em violência pré-jogo
Imagem: Pedro Ivo Almeida/UOL

Flamengo x Independiente entrou para a galeria de títulos sul-americanos do clube argentino. E também para a relação de fracassos internacionais do Rubro-negro. Mas finalizou uma lista desagradável: a de problemas em estádios no Rio em 2017.

Antes, morte no Engenhão (em um Flamengo x Botafogo), barbárie em São Januário (em um Vasco x Flamengo) e brigas no Fla-Flu da Copa Sul-Americana. Novamente no Engenhão, brigas no duelo entre rubro-negros e alvinegros pela Copa do Brasil com direito a relatos de racismo. A coisa só piorava. E não tinha fim.

Neste último duelo no Rio em 2017, o pacote completo. Racismo por parte dos argentinos, brigas e confusões entre os rubro-negros antes, durante e depois da partida. E mais uma página manchada do futebol carioca. No fim, os times empataram por 1 a 1. Mas pouco se falou disso na saída de um Maracanã em guerra.

Policial ameaça torcedores do Independiente - Mauro Pimentel/AFP - Mauro Pimentel/AFP
Imagem: Mauro Pimentel/AFP