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Espanhol - 2019

Triste com possível falência, Mauro Silva recorda dia que La Coruña calou festa do galáctico Real em "Maracanazzo"

Djalminha e Mauro Silva levantam a Copa do Rei ao estragarem festa do Real - AFP
Djalminha e Mauro Silva levantam a Copa do Rei ao estragarem festa do Real Imagem: AFP

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

15/01/2013 06h00

Vice-lanterna do Campeonato Espanhol e em extrema crise financeira, com uma dívida que beira os 100 milhões de euros (aproximadamente R$ 270 milhões). Algumas de suas receitas, como as cotas pagas por televisão, confiscadas pela Justiça por atrasos no pagamentos de contas.

Se não bastasse tudo isso, o atual cenário do Deportivo La Coruña ainda aponta para dias mais negros. Com pedido de concordata, a equipe da região da Galícia corre o risco de fechar as portas, mudar de nome e ter que começar do zero e voltar a jogar pela última divisão da Espanha.

A possível falência da equipe azul e branca causa comoção em alguns brasileiros, vide a importância do time para o país pentacampeão mundial na última década.

BONS MOMENTOS COM BRASILEIROS

  • France Presse

    Bebeto (dir.) é marcado por Guardiola em jogo da temporada 95/96 do Espanhol

  • Atacante Luizão é apresentado como reforço do La Coruña no ano de 1997

  • La Coruña venceu desde a chegada de brasileiros seis títulos; um Espanhol, duas Copas do Rei e três Supercopas

A equipe sempre foi uma força mediana até o início da década de 90, quando apostou na chegada de uma dupla brasileira: o meio-campista Mauro Silva e o atacante Bebeto, tetracampeões mundiais pelo Brasil como jogadores do time.

A dupla caiu como uma luva em um time base forte liderado pelo espanhol Fran. O time passou, em pouco tempo, a ser a terceira força da Espanha, atrás apenas de Real Madrid e Barcelona.  Passou perto de vencer seu primeiro título espanhol na temporada 1993/94 e desperdiçou a chance nos acréscimos, depois de um pênalti não convertido.

Bastava uma vitória do Deportivo sobre o Valencia, na última rodada, para o título. A equipe empatava, enquanto o Barcelona vencia e levava mais uma vez a taça. Nos acréscimos, saiu o pênalti que poderia salvar a equipe da Galícia. Mas o sérvio Djukic bateu e errou. “Doeu muito”, lembra o ex-volante Mauro Silva, um dos maiores símbolos da história do clube ao passar 13 anos lá.

Mesmo sem a conquista, o La Coruña se solidificou como uma potência. Passou a disputar vários títulos na Espanha, disputar a Liga dos Campeões e a concorrer com as principais potências da Europa para adquirir jogadores importantes do cenário mundial.

Contratou, entre outros nomes, Rivaldo, Djalminha, Luizão, César Sampaio, Flávio Conceição e o holandês Roy Makaay. A era de ouro trouxe seis títulos: duas Copas do Rei, três Supercopas da Espanha e o tão sonhado título do Campeonato Espanhol, que veio na temporada de 2000 para apagar a frustração de 1994. “Esse título de 2000 veio resgatar esse trauma da temporada de 93/94”, falou Mauro Silva.

No entanto, um dos títulos mais importantes da história foi ao jogar água no chope do Real Madrid, em 2002, em uma vitória que tem significado quase que de “Maracanazzo” para o clube mais vezes campeão da Espanha e da Europa.

No dia 6 de março de 2002, o clube merengue completaria 100 anos. E tinha naquela época a formação conhecida como os galácticos, com Figo, Zidane, Raúl e Roberto Carlos. Equipe que ganharia, naquele mesmo ano, os títulos da Liga dos Campeões e do Mundial Interclubes.

Mas o Real queria festa para o centenário depois de conseguir avançar para a final. Após insistência, a Federação Espanhola de Futebol cedeu e adiantou a data da final, que deveria ser disputada no meio do ano, para o 6 de março, data do centenário. E o palco da decisão já havia sido definido anteriormente: o estádio Santiago Bernabéu.

O jogo do centenário teve a presença de toda a família real espanhola e até de autoridades como o presidente da Fifa, Joseph Blatter. O adversário era o La Coruña, que estragou completamente a festa  armada na capital.

Com gols de Sérgio e Diego Tristán, o time galego venceu por 2 a 1 e calou o Bernabéu lotado e fez a festa sobre os galácticos. Inesquecível. “ Essa Copa do Rei marcou demais. Jogamos no dia de 100 anos deles. Jogamos muito e batemos um time Zidane, Figo, Raúl...pra gente foi uma baita conquista no aniversário de 100 anos dele. Era complicado demais vencê-los”, disse Mauro Silva.

O tetracampeão lembra, em tom de brincadeira, até uma conversa do brasileiro Flávio Conceição, então no Real Madrid, com o compatriota Djalminha, que estava no Deportivo. “O Djalminha queria combinar com o Flávio de jantar depois da partida. E ele falou que seria difícil porque depois do jogo teria que ir pra festa. Aí o Djalminha até perguntou ´pô, Flávio, já ganharam o jogo antes de jogar´?”, lembrou Mauro Silva.

Símbolo da  equipe galega no Brasil, Mauro Silva lamenta muito a possibilidade de fechamento da equipe e diz estar muito triste. “Essa possibilidade já vem sendo contemplada pelo Deportivo há algum tempo. Estou muito, muito triste e espero que a situação seja resolvida”, falou.

O ex-jogador diz acreditar que o período de conquistas e empolgação nas contratações pode ter rendido as dívidas de hoje. “Éramos a terceira potência da Espanha. E uma cidade como La Coruña não consegue ter receita pra gerar algo como Madri e Barcelona. Durante muito tempo conseguimos. Mas aí o clube se endividou e pegou muito dinheiro emprestado em um período que os bancos davam dinheiro mais facilmente. Passou a contratar jogadores caros, e uma hora o clube se endividou. É uma situação delicada para um time que está na parte de trás da tabela”, falou.

Mauro Silva contou que uma das possibilidade de salvação é que de empresários locais, como os representantes da famosa marca de roupas Zara, que é da região da Galícia. “Uma das esperanças é que o Amancio Ortega [empresário do ramo têxtil] se envolvesse de alguma forma com o clube. Isso é sonho dos torcedores do Deportivo. Mas, tirando isso, está difícil”, finalizou.

Atualmente, o La Coruña tem em seu elenco como brasileiros o defensor Evaldo e o recém-contratado meio-campista Paulo Assunção.