Topo

Carioca - 2019

Abel e Oswaldo duelam em final e exibem histórico pessoal de semelhanças

Comandantes de Botafogo e Fluminense, técnicos estarão frente à frente neste domingo - Montagem/UOL Esporte
Comandantes de Botafogo e Fluminense, técnicos estarão frente à frente neste domingo Imagem: Montagem/UOL Esporte

Bernardo Gentile e Caio Barbosa

Do UOL, no Rio de Janeiro

13/05/2012 11h00

Fluminense e Botafogo entram em campo neste domingo, às 16h, para decidir quem será o campeão carioca de 2012 com dois treinadores que, em um primeiro olhar, são completamente diferentes. As semelhanças, observadas após maior tempo de análise, vão muito além da pele clara e avermelhada. O tricolor Abel Braga e o alvinegro Oswaldo de Oliveira são cariocas nascidos no subúrbio e com orgulho da origem humilde e do currículo vencedor.

FLU APOSTA EM EMBALO E VANTAGEM PARA BATER BOTA NA FINAL DO CARIOCA

  • Fluminense e Botafogo decidirão o Campeonato Carioca neste domingo, às 16h, no Engenhão. A vantagem do Tricolor, obtida após a goleada por 4 a 1 do primeiro jogo da final, é o principal trunfo da equipe para soltar o grito de campeão no fim dos 90min. Além disso, o time das Laranjeiras espera fazer valer seu melhor momento, já que conquistou a classificação para às quartas de final da Copa Libertadores com a vitória sobre o Internacional, na última quarta.

Abel tem 59 anos, foi nascido e criado na Penha, na zona da Leopoldina, frequentando bailes onde os ídolos da garotada eram os bandidos “glamourosos” como Lúcio Flávio e Mariel Mariscot, nos anos 70. Não se bandeou para o mundo do crime graças à educação que recebeu em casa e, sobretudo, no Fluminense, clube onde se tornou cidadão, como gosta de dizer, e jogador de futebol. Zagueiro cujo ponto alto foi a disputa da Copa da Argentina, em 1978, o treinador tricolor ganhou fama mesmo em 2006. Foi o comandante do Internacional, com o volante Edinho, na vitória sobre um fantástico Barcelona. O clube catalão tinha Ronaldinho Gaúcho e Deco, hoje seu jogador, nas melhores fases de suas carreiras.

O suburbano Abelão, quando quer – e normalmente quer – é grosso como uma porta, mas quem o conhece com mais calma sabe que é tudo teatro. O zagueiro viril, curiosamente, já era chamado de Meninão nos tempos em que calçava chuteiras, por também ser gentil, educado e carismático. A elegância não é sua principal característica, mas os anos na França, como técnico e jogador, o transformaram num apreciador de vinhos e boa música. Abel toca piano e é amigo dos tricolores Chico Buarque e Ivan Lins. Querendo ou não, o Meninão virou um sedutor, hábil com as palavras, como as de antes da grande final, onde tem larga vantagem sobre Oswaldo, conquistada nos 4 a 1 da primeira partida.

“Temos uma vantagem, mas o Botafogo tem grandes jogadores: Loco, Elkeson, Maicosuel, Renato, Antônio Carlos, Jefferson, vários. E um grande treinador, um amigo, que é o Oswaldo. Eu sei que ele é muito querido pelo grupo e tenho certeza que do lado de lá não tem desânimo, mas muita vontade de dar o troco na gente. Não podemos deixar isso acontecer. Ninguém fica 23 jogos sem perder à toa. O time deles tem muita qualidade. E temos de ter muita entrega, muito sofrimento, se quisermos ser campeões. Quero heróis com faixa, não heróis vencidos”, disse Abel.

FRED E LOCO TÊM TRATAMENTO ESPECIAL, MAS SÓ BOTA TERÁ ASTRO NA DECISÃO

  • Eles são capitães, goleadores, vivem cheios de mimos e regalias e são os ídolos das torcidas de Fluminense e Botafogo. No jogo que definirá o campeão do Estadual do Rio 2012, porém, apenas o alvinegro Loco Abreu estará em campo. Fred, novamente machucado, será apenas mais um torcedor neste domingo, a partir das 16h, no Engenhão. Alvo de tratamentos especiais durante todo este início de temporada por causa de seus frágeis estados físicos, os dois astros foram fundamentais para levar as suas equipes para a decisão.

No lado alvinegro, Oswaldo de Oliveira faz o tipo intelectual. Aos 62 anos, os primeiros deles vividos em Realengo, distante bairro da Zona Oeste, formou-se em Educação Física na UFRJ, em 1975, ano em que o Fluminense de Abel conquistava o Carioca mesmo perdendo do seu Botafogo por 1 a 0 no jogo final, num triangular decisivo onde o Flu chegou ao fim com larga vantagem, como agora.

Sem nunca ter calçado chuteiras profissionalmente, Oswaldo fez carreira como preparador físico e auxiliar técnico até 1999, quando substituiu Vanderlei Luxemburgo no Corinthians. No ano seguinte, conquistou o Mundial de Clubes em pleno Maracanã, sobre o Vasco de Romário, Edmundo, Juninho & Cia.

Diante dos microfones, Oswaldo é prolixo e passa, muitas vezes, a impressão de pedantismo e prepotência, mas assim como o contemporâneo Abel, é tudo fachada. A pose de durão não se sustenta por cinco minutos em qualquer bate-papo que, aliás, é o seu forte. Outra característica do treinador alvinegro semelhante à do colega e a benquerença junto ao grupo de jogadores e comissão técnica. A pose de galã da Zona Sul misturada com a de malandro do subúrbio também tem seus encantos, apesar de as palavras nem sempre serem as mais gentis ou mesmo compreensíveis.

“O Fluminense com aquela categoria, com aquele monte de craque, não me surpreende. O Abel realmente usa algumas coisas que eu observo. Ele modifica a movimentação dos meias, do Deco. Tem sempre uma coisinha diferente. Mas a minha turma está muito atenta a isso. Às vezes, não adianta você ver, porque não vai parar. Aí me lembro da história do Garrincha. Todos sabiam para onde ele iria driblar, mas ele passava, vai fazer o quê?”, questionou Oswaldo, se esforçando para ser compreendido ao elogiar os adversários desta tarde.