UOL Esporte Campeonato Gaúcho
 
06/04/2010 - 15h28

Após três meses de trabalho, Inter ainda não sabe o que pode fazer na temporada

Jeremias Wernek
Em Porto Alegre

Era seis de janeiro quando o grupo principal do Inter tocava na bola pela primeira vez sob novo comando. Com olhar professoral de Jorge Fossati, os atletas iniciavam a pré-temporada que moldou um time no 3-6-1. Aos poucos, o comandante inseriu mais um atacante. Por fim, já sem argumentos capazes de sustentar seu esquema preferido, Fossati mudou para o tradicionalíssimo 4-4-2. As constantes trocas de formação formam apenas um capítulo destes noventa dias do Inter uruguaio que ainda não tem cara, forma e muito menos futebol esperado em um ano tão importante.

Ninguém no Internacional vai admitir, de peito aberto, por mais fraco que seja, que há uma decepção com o trabalho realizado até aqui por Jorge Fossati e sua comissão técnica. Efetivamente, o uruguaio completa três meses como treinador no Brasil e ainda não foi capaz de dar padrão de jogo a sua equipe. Mais que isso, em nenhum momento convenceu críticos e torcida de que o Inter pode sonhar com algo grande em 2010, temporada dividida entre Libertadores e Campeonato Brasileiro.

Evoluindo em pleno abril

O compilado de frases e situações ajudam a montar o mosaico da dor vermelha neste ano. “Não estamos satisfeitos porque não estamos jogando bem, mas as vitórias mostram que estamos evoluindo. Temos tudo para melhorar e dar sequência ao trabalho e aos bons resultados”, disse o meio-campo Giuliano. A declaração seria aceitável se dada no começo de um campeonato ou logo depois da chegada de um novo comandante. Mas não agora, onde o Inter caminha para jogos eliminatórios do Gauchão e reta decisiva da primeira fase da Libertadores.

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Em 2009, Giuliano foi grande destaque no Campeonato Brasileiro, peça chave no esquema de Tite – e depois Mário Sérgio, para ajudar na luta pelo título. Agora, o jovem ex-Paraná vai mal. Com isso, o ataque padece. Alecsandro, é bom que se diga, vem marcando. Tem alta média de gols, porém não sabe quem é seu colega de setor. O trio Walter, Edu e Taison patina. Kleber Pereira, com problemas físicos, é visto com ressalvas no Beira-Rio.

A convicção da diretoria não parece mais tão imutável. “Não adianta de nada mudarmos toda semana sem prosseguimento do trabalho”, garantiu o vice de futebol, Fernando Carvalho, em meio à crise dos seis jogos sem vitória. Entre pressão de dirigentes e crítica, o Inter se grudou na ideia que aponta Fossati como um conhecedor profundo do futebol sul-americano, capaz de orientar bem uma equipe antes de uma decisão. Além de seu ótimo trato com os jogadores na intimidade do vestiário.

Distribuindo responsabilidades

Em ataques de franqueza, o técnico do Internacional deixa escapar um descontentamento com os jogadores. Algo normal, depois de inúmeras amostras de insuficiência para ganhar partidas contra adversários mais fracos. “Não posso entrar em campo e fazer o gol. Faço meu trabalho todo dia, mas não entro em campo”, desabafou em certo momento depois de empatar mais uma no estadual.

JORGE FOSSATI EM NÚMEROS

  • 18 JOGOS

    Fossati comandou o Inter pela primeira vez contra o Juventude, na quarta rodada do Gauchão

  • 11

    VITÓRIAS

     

  • 4

    EMPATES

     

  • 3

    DERROTAS

     

  • 68, 5%

    APROVEITAMENTO

    Fossati conseguiu ter seis vitórias seguidas e ficou outras seis partidas sem ganhar durante quase todo mês de março

Seria ingênuo demais destacar o uruguaio, ex-treinador da seleção de seu país, como único responsável pela falência técnica de um grupo que tem folha salarial de R$ 4 milhões. “Todos somos responsáveis. Jogadores, comissão técnica e direção”, apontou Carvalho, quando recebia contestação ao trabalho deste ano. A teoria de que circula muito dinheiro no grupo profissional pode ser facilmente desarticulada se lembrarmos 2006, ano da conquista da Libertadores e do Mundial. Contando com bem menos medalhões, o clube gaúcho arcava com despesas mensais na ordem dos R$ 3,5 milhões.

A cúpula comemorou não ter perdido nenhum jogador no início da temporada, mas atestou estar apostando em um plantel que teve iguais problemas durante o Brasileirão de 2009, inclusive culminando com a queda do então técnico Tite. Entre os titulares, os únicos que não sofrem contestações são os volantes Sandro e Guiñazu. O recém chegado Abbondanzieri tem peculiaridades na execução de defesas que geram insegurança. Os zagueiros são rotulados como acima da idade aceitável, pois Índio caminha para os 35 anos, Fabiano Eller tem 33 e Bolívar alcança os trinta.

Nos corredores do estádio vermelho ainda há esperança. Mudanças não estão no horizonte, mas somente a crença de que um estalo pode despertar o time. Isso não ocorrendo, a via mais fácil do futebol será tomada, com a troca de treinador. Em dezembro, as eleições presidenciais podem alterar conceitos no departamento de futebol e realizar investimentos em jovens talentos do time B, formando uma base para o time principal de 2011. Mas isso é para o futuro. O agora clama por melhoras e elas terão que ocorrer com Fossati, de um jeito ou de outro.
 

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