Presidente do Cruzeiro-RS, Dirceu de Castro, celebra boa fase do clube no Gauchão |
Em 14 de julho de 1913, foi fundado oficialmente o Esporte Clube Cruzeiro, da cidade de Porto Alegre. Seu nome não remete em nada ao time de Minas Gerais, que seria fundado oito anos mais tarde como Palestra Itália. Durante anos, o clube da capital gaúcha se consolidou como terceira força no Estado, atrás da dupla Gre-Nal. Nas épocas em que Inter e Grêmio jamais tinham vencido fora do Rio Grande do Sul, o "Estrelado" era temido e respeitado.
Bom rendimento dos jogadores faz presidente do Cruzeiro receber constantes ligações atrás de atletas. "O que mais eu recebo é sondagens de clubes do Rio Grande do Sul, São Paulo, principalmente, Santa Catarina, da Bahia, de Portugal e nos últimos dias da Alemanha. A procura pelos nossos jogadores está sendo imensa. Porque? Porque é o time do Rio Grande do Sul que mais se destacou. É o time que mais joga futebol. As pessoas estão elogiando. Para ter uma idéia, o Cruzeiro é o time mais disciplinado do futebol gaúcho", diz o mandatário, Dirceu Castro
Décadas mais tarde as coisas pioraram, o clube ficou enfraquecido e foi obrigado a fechar o futebol profissional em 1979. Sustentado pelo sentimento de antigos torcedores, 12 anos mais tarde houve o regresso com projeto de futuro apostando nas categorias de base. Atualmente, o clube colhe frutos do planejamento, se consolida novamente no cenário gaúcho depois de chegar à semifinal do primeiro turno do Estadual 2011 e já prevê disputar a Série B do Campeonato Brasileiro em 5 anos.
"Estamos resgatando o amor, aquela coisa de cruzeirista que estava meio apagada. Todo o cruzeirista estava meio borocochô, por quê? Porque não tinha resultado em campo. Hoje a gente vê os antigos voltando e novos cruzeiristas aparecendo. Então, voltou aquele apoio, voltou a vontade do torcedor do Cruzeiro participar. É um clube que tem uma torcida muito grande. Tem muitos simpatizantes", disse o presidente Dirceu de Castro, que assumiu o clube em 2008 e é parte importante do pro processo de reestruturação do clube.
O acanhado estádio Estrelão, casa do clube desde 1977 e com data para ser substituída, recebeu a reportagem do UOL Esporte em dia sem treinamento do time principal, mas não sem trabalho no local. Diretores, conselheiros e até o simpático cãozinho Titã - guardião da casa cruzeirista - abriram as portas para mostrar as evoluções gradativas pelas quais passa a agremiação.
"Todo mundo, principalmente em Porto Alegre, torce para o Inter e para o Grêmio, mas gosta do Cruzeiro. O Cruzeiro é símbolo no Rio Grande do Sul, um resumo do futebol gaúcho", vibrou o presidente.
Enquanto a equipe de reportagem o UOL Esporte entrevistou o presidente Dirceu Castro, do Cruzeiro-RS, uma figura ilustre acompanhou calado, mas logo tomou a cadeira da sede social e começou a contar suas histórias. Firmo Trindade, conselheiro de honra cruzeirista, revelou seu amor pelo clube citando a equipe que mais o agradava: a de 1946, cujo lado esquerdo tinha Flamini e Lombardini. Ávido por política e futebol, sua ligação com o clube surgiu por conhecer jogadores e trabalhar pela liberação da prefeitura na compra do estádio Estrelão. Exemplo para novas gerações de torcedores, ele define: "Sou torcedor do Cruzeiro desde que me conheço por apreciador de futebol", lembrou.
Entre as maiores glórias do Cruzeiro-RS estão torneios internacionais, como o de Mar Del Plata, na Argentina, em 1961, e o de Páscoa, em Berlim, na Alemanha, em 1960. Além disso há o Campeonato Gaúcho de 1929, e outras conquistas na cidade. O clube se orgulha de ser o primeiro a excursionar pela Europa, Ásia e Oriente Médio, em 1953 e 1954. Na ocasião, clubes como Real Madrid, Lazio, Fenerbahce, Besiktas e Galatassaray tiveram o Cruzeiro como oponente.
Mas o tempo passou e o clube não conseguiu se adaptar às mudanças do futebol. Em 1979 foi obrigado a fechar as portas. Neste momento, o que manteve o clube foi o amor de antigos torcedores.
"O Cruzeiro só sobreviveu mesmo pela força deste grupo de pessoas, que mantiveram o grupo em pé, independente de ficar parado no futebol profissional. Estiveram ali. Uma diretoria que manteve o clube funcionando. Isso foi importante porque a parada do futebol poderia até parar o clube, mas não parou. Tanto é que estamos comemorando em julho 98 anos. O Cruzeiro tem uma força muito grande. Daqui um pouco parece que o Cruzeiro está morto e ressurge das cinzas e vem com mais forças ainda. Até pela força que tem essa torcida antiga do Cruzeiro e que conseguiram manter o clube em pé", explicou o mandatário.
Passados problemas, o renascimento
Em 1991, o Cruzeiro chegou a conclusão que era o momento de voltar a disputar torneios profissionais. Depois de formar times de base, o clube se viu em condições de traçar planos mais altos. Neste momento, reabriu suas portas para a seu torcedor, que aguardava ansiosamente.
"Temos poucos associados. Temos um projeto para levar o clube a 1,5 mil a 1,8 mil sócios. Hoje temos em torno de 200 sócios. Só que ainda não deu tempo para fazer o projeto para buscar novos sócios. Na hora que colocarmos o projeto na rua, pode ter certeza que atingimos esse número rapidinho. Então, o quadro social não é forte. O que é forte essa vontade que as pessoas têm de torcer pelo Cruzeiro. Isso é mais importante até que o número de sócios", referiu o presidente.
Em 2010 o time conquistou o título da Série B do Campeonato Gaúcho, que garantiu retorno à elite. Mas ninguém esperava um reinício tão bom. Logo na estreia, a equipe venceu o time B do Internacional por 1 a 0, em Canoas. Depois disso conseguiu a classificação para as quartas de final, eliminou o próprio Inter - nos pênaltis, dentro do Beira-Rio, mas esbarrou no Grêmio e acabou derrotado na semifinal. Mas engana-se quem pensa que tenha sido um começo fortuito, o segundo turno aponta um início impressionante com 8 a 0 sobre o Porto Alegre (maior goleada do Estadual até agora) e uma vitória com autoridade sobre o Grêmio por 2 a 0, no Olímpico. A pontuação atingida já garante o clube na primeira divisão do próximo ano e aumenta a expectativa dos dirigentes.
Internacional | Apróx. R$ 5 milhões |
Grêmio | Apróx. R$ 3 milhões |
Somente D'Alessandro | R$ 300 mil |
Somente Carlos Alberto | R$ 300 mil |
Cruzeiro-RS | R$ 120 mil |
"De certa maneira, esperávamos bons resultados. Claro, não vou dizer agora que está dando tudo certo, que esperávamos por isso. A gente tinha um planejamento e acreditávamos que tinha uma chance de dar certo. Porque não fizemos a coisa da noite para o dia. Estamos trabalhando há quatro ou cinco anos. A gente acreditava que depois de três ou quatro anos teríamos uma base forte montada para fazer um trabalho diferenciado. Por quê? Porque são jogadores que estão acostumados com o clube, com a camisa e tem uma identificação. Com esse trabalho, mais cedo ou mais tarde, qualquer clube dá certo. Se tiver um planejamento, insistir e trabalhar em cima desses objetivos vai chegar uma hora que o resultado vai aparecer" , revelou.
Entre as promessas está o cresimento no cenário nacional. Neste aspecto a ambição não é pequena e aponta a Série B do Brasileiro como alvo para os próximos 5 anos. "Nosso projeto é que daqui a cinco anos estejamos disputando a série B do Brasileiro. Fizemos um projeto para subir e alcançamos. Fizemos um para nos mantermos e alcançamos. A nossa idéia é fortalecer o clube regionalmente e depois buscar posições melhores no Brasileiros. Temos um projeto para daqui a cinco anos. Onde vamos ter um estádio novo, com CT, com alojamento para menino que venha de fora. Formar uma base forte, vender e buscar recursos para investir no futebol. Em cinco anos, queremos disputar a Série B do Brasileiro, é bem possível. É só se organizar", prometeu Dirceu Castro.
No elenco atual não há jogadores rodados no Estado, outro ponto que reforça o planejamento de aposta em categorias de base. Leo, Diego Torres e Jô são os destaques, mas surgem como novidades no futebol gaúcho.
"Dificilmente vocês vão ver o Cruzeiro contratar jogadores que já rodaram por 10 ou 15 clubes. Não adianta contratar jogadores viciados. Que venham jogar quatro meses, sem identidade com o clube. Nós fizemos contratações, mas das seis ou sete, uma é do Rio Grande do Sul. O resto buscamos jogadores novos, desconhecidos, que querem vencer e que tem o perfil dos nosso jogadores, todos de fora do Estado. Se analisarem as escalações do Cruzeiro, tem sempre oito ou nove jogadores do ano passado. Da base, que subiram com o clube. Então, a nossa filosofia é formar e colocar para jogar. Não podemos contratar um time para um campeonato, desmanchar e fazer outro para o próximo. Para nós, é o pior erro que os clubes cometem", disse.
Quem quiser se aventurar e entrar no Estrelão terá que passar por Titã, o cão de guarda do local
Mudança de sede atrai novos torcedores, mas não espanta antigos
O renascimento do Cruzeiro dentro de campo ocorre simultaneamente a ida para outra cidade. Mesmo que seja um clube tradicional em Porto Alegre, sua nova sede será Cachoeirinha, na região metropolitana da capital. Em negociações dentro do Conselho Deliberativo, o presidente do clube chegou a conclusão que seria melhor financeiramente abandonar o Estrelão para buscar um novo empreendimento. Por isso, o clube firmou parceria com a prefeitura local, comprou terreno e vê em obras sua nova casa, com alojamentos e campos de treinamento.
"Demos um calor no Grêmio, dentro do Olímpico com 20 mil pessoas.Qual é a folha do time B do Inter? É R$ 800 mil. Do time do Grêmio, que nós ganhamos de 2 a 0, apenas dois não passaram pelo profissional. Competência é muito mais importante que sorte
Dirceu Castro, presidente do Cruzeiro, sobre os trunfos sobre o time B do Internacional e o time de suplentes do Grêmio, no Gaúcho"Isso foi muito discutido. Não foi uma decisão tomada do dia para a noite. Tiveramos diversas reuniões do Conselho. No clube, o Conselho Deliberativo é atuante e é feito praticamente desses cruzeiristas antigos. Então, houve uma consulta para todos os cruzeiristas. Conversamos muito e eles entenderam que era uma solução para o Cruzeiro. É uma solução para o Cruzeiro crescer. Do jeito que estávamos aqui, havia um perigo com o futuro. Com a venda da área, com a compra de uma nova área, com a mudança da sede, com a perspectiva de pegar uma comunidade que torça para o clube, pois Porto Alegre é muito dividida entre Grêmio e Inter. Já Cachoeirinha não tinha um time profissional. O Cruzeiro já nasceu com uma identidade em Cachoeirinha. A comunidade recebeu muito bem. Então, todo mundo, acredito que 99% dos conselheiros, entendeu e aprovou a ideia. Eles vão continuar indo a Cachoeirinha, porque daqui até lá são 15 minutos", contou.
Diferente dos projetos de clubes que mudam de cidade constantemente, o Cruzeiro espera consolidar uma nova comunidade torcedora. Por isso escolheu sua musa em Cachoeirinha, conseguiu ônibus para levar os torcedores da cidade até o Olímpico no jogo decisivo do primeiro turno do Gauchão e coloca seus novos jogadores para morar em apartamentos no município.
Cruzeiro marcou época no passado, como em 1946
Clube foi o primeiro gaúcho a desbravar a Europa
Logo, vai mudar de sede pela 3ª vez na história
Futuro prevê lucros, e projeto segue
Clube pequeno que se destaca acaba perdendo seus principais jogadores. Esta máxima do futebol não será diferente com o Cruzeiro. Porém, o clube se diz pronto para deixar seus destaques seguirem suas carreiras e montar um novo time.
"Não vamos segurar jogadores. Até porque nosso filosofia é formar também para vender. Não temos como segurar um Léo. Ele é jogador para atuar na série A do Brasileiro. O próprio Diego, o Jô. Para ter uma idéia, nós temos reposição em casa. Sai ele, entra o Claudinho. O Claudinho está jogando um futebol maravilhoso. É um menino 90 [nascido no ano de 1990] que jogou contra o Grêmio com a maior naturalidade. Para a vaga do Diego Torres, temos o Jorter, que é um menino de 20 anos que está pronto para jogar. Nós já temos peças de reposição. A filosofia tem que continuar a mesma. O estilo tem que continuar o mesmo. Buscamos jogadores rápidos, com força para substituir os que vão sair. Eles tem que sair. Nosso objetivo é que eles vão jogar longe, ganhem dinheiro e o clube fature", finalizou.
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