Topo

Capitão já foi preso e cortou festas para liderar surpresa do Inglês

Deeney comemora gol do Watford em vitória sobre o Burnley - Jan Kruger/Getty Images
Deeney comemora gol do Watford em vitória sobre o Burnley Imagem: Jan Kruger/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

04/09/2018 04h00

Após quatro rodadas, o Campeonato Inglês tem um “intruso” no topo da tabela. Assim como os poderosos Chelsea e Liverpool, o Watford está com 100% de aproveitamento e se destaca na classificação. E o principal símbolo dessa equipe é um capitão que já trabalhou como pedreiro, ficou três meses preso e agora está tentando trocar as confusões por uma vida mais saudável. Aos 30 anos, esse é o objetivo de Troy Deeney.

O atacante é uma referência. Está na equipe desde 2010, quando o Watford ainda disputava a segunda divisão. Já fez mais de 300 jogos pelo clube e ganhou uma chance rara em 2012. Na época, ele ficou três meses preso por agredir um jovem na frente de um bar. Foi condenado a dez meses de prisão, mas seu comportamento reduziu a pena.

Na oportunidade, o Watford decidiu reintegrá-lo. Os dirigentes conheciam seu histórico. Ainda jovem, trabalhara como aprendiz de pedreiro. Seu sonho era ser bombeiro. Ele se destacava como jogador em seu bairro, mas não levava a sério. Quando conseguiu teste no Aston Villa, faltou três dias.

Mas um olheiro do modesto Walsall viu o atacante em campo num dia em que ele estava de ressaca e sua mãe o expulsara de casa para fazer faxina. O período de teste virou uma oportunidade real. Logo ele assinou contrato com o Watford e passou a ganhar um salário que sequer havia imaginado.

Com o dinheiro e o contrato, Deeney conta que se sentia invencível. Levava novos amigos para festas e pagava a conta de todos. Foi na saída de uma delas, em 2012, que se envolveu numa briga ao ouvir que seu irmão estava apanhando. No meio da confusão, o atacante chutou um estudante que já estava no chão e o deixou desacordado. Tudo foi gravado por câmeras.

"Quando a polícia me mostrou o vídeo no dia seguinte eu não conseguia assistir", contou Deeney. "Ele podia ter morrido, não pensei nas minhas ações". Na época, o atacante havia acabado de descobrir que seu pai estava com câncer em estágio avançado. Condenado, foi preso cinco dias depois da morte do pai.

Ao sair da prisão, o Watford decidiu reintegrá-lo ao time. E hoje ele é um símbolo, disposto a adequar novamente sua vida à rotina de um atleta.

“Contratei profissionais que me ajudam a cuidar da minha saúde. Tenho 30 anos e não sou ingênuo. Sei que não posso fazer tudo que me der vontade, como curtir festas como uma estrela do rock, e no fim de semana ter um bom desempenho [em campo]”, disse ele ao TalkSport.

Por isso, diz Deeney, ele diminuiu as festas e montou uma equipe para ajudá-lo, incluindo nutricionista e psicólogo. “Comecei a cuidar mais de mim, consegui perder 6 kg. E voltei a gostar de futebol. Eu estava numa rotina em que jogar futebol tinha se tornado só um trabalho, e quando isso acontece eu não aproveito. Mas agora estou desfrutando de novo e as coisas estão dando certo”, emendou.

Em quatro jogos no Inglês, Deeney fez dois gols e deu uma assistência. O artilheiro do Watford é Roberto Pereyra, com três gols e nenhuma assistência. E o aprendiz de pedreiro diz que os três meses preso foram fundamentais na sua vida. "Ir para a prisão foi a melhor coisa que me aconteceu. Dois anos antes eu achava que era homem porque pagava bebida para todo mundo. Hoje sou muito mais feliz".