Em alta na Lazio, F. Anderson recorda comparação com Ganso: "era difícil"
Menino da Vila, Felipe Anderson fez a sua primeira partida pelo profissional do Santos em outubro de 2010. Na época, a equipe liderada por Neymar, Ganso e companhia já vinha ‘dando as cartas’ no futebol brasileiro depois do título paulista e, especialmente, da Copa do Brasil, com direito a atuações de encher os olhos e goleadas históricas. Foi este o ambiente encontrado por Felipe Anderson, então com apenas 17 anos, quando começou a ser aproveitado no time principal.
Mas se por um lado teve a oportunidade de jogar ao lado de grandes craques e fazer parte de um elenco vencedor – que no ano seguinte conquistou a Copa Libertadores (2011) –, por outro Felipe Anderson se viu pressionado por um rótulo que lhe incomodava: o de ‘novo Ganso’. A comparação chegou a ser inevitável, uma vez que ambos foram destaques da mesma posição nas categorias de base do clube da Vila Belmiro. Em entrevista ao UOL Esporte, Felipe Anderson não esconde que este tratamento lhe deu uma "pressão extra" no início da carreira.
Eu subi sendo tratado como "novo Ganso" por sempre ter jogado como meia na base
“Foi muito bom e ao mesmo tempo difícil pela questão da comparação. Eu subi sendo tratado como "novo Ganso" por sempre ter jogado como meia na base e, querendo ou não, isso gera muita pressão. Não vai ter outro Neymar, outro Ganso, outro Felipe Anderson. Teremos novos Rodrygos, Arthurs e outros, cada um com sua qualidade e personalidade. Mas foi um aprendizado muito grande estar com esses caras, amigos que tenho até hoje”, disse.
Do Santos para a Lazio: “tinha um projeto concreto para mim”
O aprendizado fez Felipe Anderson, apesar da pressão, crescer a cada ano na Vila Belmiro. Com o tempo, o meia passou a ser mais utilizado no Santos e assim acabou chamando a atenção da Lazio, que lhe apresentou um projeto consistente para a carreira. E ele não pensou duas vezes. Aceitou a proposta do time italiano e partiu de mala e cuia para o Velho Continente, na metade de 2013. E acredita ter deixado o Brasil na hora certa.
“Acho que sim, por toda a atmosfera que existia naquele momento. Surgiu a oportunidade de jogar na Europa, em um clube que tinha um projeto concreto para mim e, junto com a minha família, acreditamos que era o melhor caminho. Graças a Deus, as coisas deram certo. Todos os fantasmas que eu trazia da minha saída do Santos já foram superados”, conta Felipe, citando até os tão falados desentendimentos que teve com Muricy Ramalho, ex-técnico do Santos.
“Muito se fala da relação conturbada que eu tinha com Muricy, mas já tivemos a oportunidade de conversar e não temos nenhum problema um com o outro. Sou muito grato a ele e ao clube por terem me permitido um começo no futebol. Sempre que posso estou vendo jogos do Santos, torcendo pelo clube, e eu tenho a intenção de voltar um dia a vestir essa camisa”, diz o meia, que carrega consigo a alegria de ainda poder ser chamado de ‘menino da Vila’: “É motivo de orgulho fazer parte desse celeiro e representar a base do Santos. É um jeito muito bom de ser reconhecido, sinônimo de qualidade e alegria na maneira de jogar”, acrescenta.
“Cheguei aqui um menino”
Depois de um período de adaptação, Felipe Anderson fez a sua estreia com a camisa da Lazio no dia 3 de outubro de 2013, em um jogo contra o Trabzonspor, da Turquia, pela Liga Europa. Foram sete jogos e quase dois meses até o marcante primeiro gol com a camisa azul celeste – em outro jogo da Liga Europa, este contra o Legia, da Polônia. Desde então, o hoje camisa 10 conquistou a confiança da torcida e hoje é titular absoluto do time comandado por Simone Inzaghi.
“Tem sido um período de muito aprendizado. Cheguei aqui um menino e já fui até capitão da equipe em alguns jogos. A maturidade chegou nesse período, mas ainda sou novo e tenho muito pela frente. Como falam, a vida é um eterno aprendizado e no futebol é igual. Não tenho nenhum arrependimento. Até as coisas ruins serviram para o meu crescimento. Nem tudo foram flores, mas as marcas do passado servem para você lembrar do que aprendeu e fazer diferente. É assim que vou levando a vida aqui, sempre com o apoio dos meus familiares e de todos que estão ao meu lado nessa caminhada”, afirmou o meia-atacante, cada vez mais bem aceito pelos torcedores não só da Lazio, mas de toda a Itália, país pelo qual já tem um carinho enorme.
Cheguei aqui um menino e já fui até capitão da equipe
“Ídolo não sei, mas sou muito grato pelo reconhecimento que eu conquistei jogando na Lazio. Recebo um carinho enorme dos torcedores por onde eu ando e isso é como um termômetro para mim, sinal de que eles estão felizes com tudo o que realizei desde que cheguei. O torcedor italiano de uma forma geral me recebe muito afetuosamente. Sinto orgulho por isso”, diz.
Melhor fase e Champions ‘obsessão’
A Lazio hoje depende apenas de suas forças para alcançar algo que não consegue há mais de dez anos. Na temporada 2007/08, a equipe da cidade de Roma disputou uma fase de grupos da Liga dos Campeões pela última vez. E a presença na edição de 2018/19 da maior competição continental do mundo está cada vez mais próxima – a Lazio ocupa a quarta colocação da tabela e tem mais quatro jogos pela frente no Calcio, contra Torino, Atalanta, Crotone e Inter de Milão.
“Essa [Liga dos Campeões] é a nossa grande obsessão nesse momento, mas a gente está conseguindo trabalhar bem essa ansiedade. O segredo é pensar jogo a jogo. Não tem outra maneira. A torcida está muito feliz por essa proximidade, mas a gente tem a noção de que segue sendo uma tarefa muito difícil, que vai exigir muito do nosso time. Vamos seguir dando a vida em campo para chegar. Vai ser ótimo em todos os sentidos”, declarou o brasileiro.
Na visão de Felipe Anderson, este é o seu melhor momento com a camisa da Lazio desde que chegou à Itália, em 2013. Na atual temporada, ele soma sete gols e dez assistências em 29 partidas, lembrando que o camisa 10 ficou sem entrar em campo de julho a dezembro de 2017 por conta de uma lesão no músculo adutor da perna esquerda. Totalmente recuperado, acredita que está mais do que preparado para poder ajudar sua equipe nesta reta final de temporada.
Joguei a última temporada um pouco limitado por conta de dores, mas nessa estou 100%
“Acredito que sim [melhor fase], pela questão de efetividade, da média de gols e passes que tenho conseguido desde dezembro. Joguei a última temporada um pouco limitado por conta de dores, mas nessa estou 100% em todos os aspectos e isso é fundamental para todo atleta que precisa jogar em alto nível”, acrescenta Felipe Anderson, hoje com 25 anos de idade.
Seleção: “poderia ter recebido alguma chance”
Felipe Anderson chegou a ser lembrado por Dunga, mas não apareceu sequer em uma convocação de Tite, técnico da seleção brasileira desde junho de 2016. Mas nada de desanimar. Campeão olímpico em 2016, o meia-atacante brasileiro promete ‘seguir na luta’ para voltar a ser convocado – algo que, em sua opinião, já poderia ter acontecido pelas atuações que vem tendo.
Não é fácil se destacar na Itália no meio de uma marcação tão forte
“Eu tenho procurado fazer a minha parte para ter esse reconhecimento que tenho na Itália também no meu país. Acho que eu já poderia ter recebido alguma chance ou pelo menos ter tido meu nome vinculado mais fortemente pelo que eu tenho feito aqui. Não é fácil se destacar na Itália no meio de uma marcação tão forte. Acho que isso aumenta o grau de dificuldade, não desmerecendo ninguém nem nenhum trabalho. Eu vou seguir na luta. Sou novo ainda, se não der nessa vou buscar 2022. Estive em todas as seleções de base e é um objetivo fazer carreira também na seleção principal”, completa Felipe Anderson, que volta a campo com a Lazio neste domingo (29), em jogo contra o Torino, em Turim, pela 35ª do Campeonato Italiano.
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