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Jeremias Wernek/UOL Esporte

Fossati não vê divisão no vestiário do Inter e considera nível do time bom

12/05/2010 - 07h00

Fossati revela que vai pensar sobre futuro durante a Copa e pode sair do Inter

Jeremias Wernek
Em Porto Alegre

Jorge Fossati é sincero e admite: não está totalmente feliz em Porto Alegre. O técnico que comanda o Inter desde janeiro revela que pretende fazer um grande e profundo balanço de seu trabalho no estádio Beira-Rio no recesso de jogos do clube gaúcho durante a Copa do Mundo. Depois desta análise, o futuro do ex-treinador da LDU e seleção do Uruguai pode ser longe do Brasil. A tendência é de permanência, mas os equívocos já cometidos irão pesar na decisão.

SANDRO É CHAMADO PARA COPA, MAS FICA NA LISTA DOS SETE DE DUNGA

  • Marcos Bertoncello/AI Inter

    O volante Sandro, do Internacional, teve seu nome confirmado na lista de espera da seleção brasileira para a Copa do Mundo. O jogador fica à disposição em caso de algum problema entre os vinte e três convocados. No estádio Beira-Rio, o titular do Inter se mostrou contente com a lembrança do técnico Dunga. Jorge Fossati, treinador vermelho, exaltou a opção entre tantas possíveis e apontou ser motivo de orgulho para todo o grupo de atletas.

Fossati recebeu a reportagem do UOL Esporte, e outros veículos, em seu apartamento, em uma tarde chuvosa, para falar sobre o grupo de jogadores que tem nas mãos, a cobrança inédita de sua carreira e como está vendo o time em campo. Na visão do treinador, Inter e Estudiantes - adversários nas quartas de final da Libertadores -, têm muito em comum e jogam parecido, com um futebol pragmático, porém capaz de levar a títulos. Acompanhe abaixo a entrevista de quase uma hora do treinador que conduz um elenco com folha de pagamento de R$ 4 milhões por mês e que sonha com o bicampeonato sul-americano.

UOL Esporte - O que tem sido feito no Inter está lhe agradando?
Jorge Fossati - A gente está em um bom nível, para o meu gosto. Mas não no nível que poderíamos estar e já falei que a razão disso tudo é a quantidade exagerada de jogos que temos, não permitindo ter mais horas de treino. O time não está longe das minhas expectativas. Poderia estar melhor? Poderia. Em termos de time, poderia estar melhor por faltar automatização das movimentações, fazendo as individualidades crescerem no rendimento.

UOL Esporte - Com o que tem sido apresentado, o Inter pode ser campeão da Libertadores?
Fossati -
O Estudiantes é considerado pela imprensa, se não o melhor, entre os melhores do continente. Na minha observação, o Estudiantes é bem parecido com o Inter atual. Ou seja, o Inter de agora não oferece um show de bola. Mas o Estudiantes também não. Vejo um time sério, sólido, super ordenado, que tem convicção daquilo que faz e que tem verdadeiramente humilde para, se precisar, chutar bola para fora do estádio.

FELIZ AQUI? NÃO 100%

Tem momentos, mas não posso dizer totalmente feliz senão mentiria

Técnico do Inter, Jorge Fossati

Eles têm espírito de time. O Estudiantes não vai dar espetáculo como o Santos, hoje, e o Inter está neste caminho. Se eles conseguiram chegar lá por este caminho, o Inter tem as mesmas qualidades. Este é um caminho muito válido para procurar o êxito.

UOL Esporte - Como você definiria seu relacionamento com o grupo de jogadores?
Fossati -
Meu relacionamento é muito bom. É como em todo lugar, o tempo faz ficar melhor. Os jogadores te conhecem e você sabe das características de cada um, como precisa falar com eles. Não é a mesma origem, situação familiar.

UOL Esporte - A pressão da imprensa e da torcida atrapalha o trabalho no Inter?
Fossati - 
Talvez não tenha explicado bem ou entenderam mal. O que eu nunca vivi não é a pressão, mas sim a cobrança, o nervosismo e a ansiedade. Além do tipo de cobrança de parte da torcida com jogadores e treinador. Mas o que percebo na cultura geral do jornalismo daqui é, normalmente, o que me passa nas coletivas, é da leitura negativa. A mesma realidade tendo mais de uma leitura.

A TRAJETÓRIA DE FOSSATI NO INTER

O contrato de Jorge Fossati com o Inter vai até dezembro de 2010. Após seis jogos sem vitória, chegou-se a especular sua possível demissão, mas a cúpula do clube vermelho garantiu sua permanência. Em mais de um momento como treinador no Brasil, Fossati admitiu que poderia pedir demissão caso não visse melhoras no time. Disputou três clássicos com o Grêmio vencendo dois. Seu time tomou apenas um gol dentro de casa na Libertadores e enfrente o Estudiantes, nas quartas de final do torneio sul-americano.

Quando os resultados são positivos, a leitura é de que teve tal erro, não é o futebol esperado. Aí quando o resultado é negativo, mas fomos bem e conseguimos coisas, olham para o marcador final. Quando é positivo, não começa no placar. Eu até pensei que tinham tirado do dicionário a palavra parabéns, pois escutei só duas ou três vezes aqui.

UOL Esporte - Você está feliz em Porto Alegre?
Fossati -
Há momentos, mas não posso dizer totalmente feliz, senão mentiria. O que posso acrescentar é que em minha relação direta com o torcedor as coisas estão muito mais positivas do que se pensa. Eu não sou muito de estar na rua, não saio para comemorar lá ou cá. Eu vou para casa com minha família até por que acabou um jogo tem outro. Eu não gosto de multidões, mas em todo contato com a gente do Inter, recebo elogios que são bem grandes e nem sei se mereço.

UOL Esporte - O que falta para ficar realmente feliz?
Fossati -
Falta tempo para poder desfrutar de alguns tipos de momentos. Falta tempo, também, para eu jogar fora alguns momentos de cobrança feia, que dói, que já tive no Inter. Não é que vou para outro jogo esquecendo. Não é assim, não. Falta viver algumas coisas que espero poder viver aqui. Não estou dizendo que essa felicidade vem fácil e tive em qualquer lugar. Não, comigo isso acontece com o tempo. Eu vou me sentindo mais em casa e o pessoal vai me conhecendo melhor.

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UOL Esporte - O Inter está fazendo um bom trabalho em 2010?
Fossati - 
Eu acho que com maior entrosamento entre todos nós, coisa que só vem com o tempo, teremos situações onde vamos ir melhor. Todos temos autocrítica. Fizemos tudo excelente? Não, tem muitas coisas que podem melhorar. Normalmente, os momentos de pausa são para baixar a bola, deixá-la no chão e olhar para trás, repassando tudo, com autocrítica. Aí vai se dizer o que precisa para continuar melhorando ou dizer que não dá para continuar melhorando e se afastar. Isso terá de ser feito no recesso da Copa. O fato de jogar de três em três dias vai acumulando coisas na cabeça, mas precisa deixar na memória. Tem que ter um momento em que se aperta o enter e analisa-se tudo e toma decisões.

UOL Esporte - Você, então, vai pensar se vale a pena continuar?
Fossati -
Não é isso, se for assim digo agora: vale a pena continuar no Inter, sim. Mas pode até ser que valendo a pena, você pense que os caminhos não são os que você quer continuar. Aí tem que ser sincero e honesto. O importante é o clube e, independentemente de você, o clube tem que continuar para frente.

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