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Libertadores - 2019

Lateral do Inter usa o Mazembe como alerta para grupo fácil na Libertadores

Titular da lateral diz que jogadores já superaram fiasco, mas torcida sempre lembrará -
Titular da lateral diz que jogadores já superaram fiasco, mas torcida sempre lembrará

Jeremias Wernek e Carmelito Bifano

Em Porto Alegre

15/02/2011 12h02

O Internacional é o atual campeão, manteve praticamente todo o time que foi levantou a taça e caiu em um dos grupos mais fáceis da primeira fase, com Emelec, Jorge Wilstermann e Jaguares, do México. Mas nem por isso a Libertadores de 2011 será um passeio para os gaúchos. Afinal, a lembrança da derrota para o Mazembe ainda está fresca na memória.

O lateral Nei, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, garante: vão fazer de tudo para que um novo tropeço não apareça na Libertadores. "Não podemos entrar nessa conversa de que o grupo é fácil. Temos o exemplo do Mundial. Todo mundo dizendo que seria fácil jogar contra o Mazembe e tivemos a infelicidade de perder. Não podemos cair nesse papo", avisa o lateral.

Confira abaixo o bate-papo com o jogador.

  • Nei marcou o primeiro gol do Inter na Libertadores do ano passado; exatamente diante do Emelec

  • Nas horas de folga, lateral fica jogando video game no telão que instalou na sala do seu apartamento

  • No começo de 2010, Nei até disputou posição com Bruno Silva, mas se firmou gradualmente na equipe

UOL Esporte: O Inter é o atual campeão da Libertadores, mas vem de uma derrota. Foi eliminado no Mundial. Um ano que começa totalmente atípico, não?
Nei: Eu acho que são campeonatos distintos. Os jogos que estamos fazendo no Gauchão servem para a gente se recondicionar. Para voltar ao bom momento físico, técnico e tático. Todos sabem que estar 100% é impossível, afinal, fizemos dois jogos. Temos que aproveitar para chegar bem na Libertadores.

Mas ainda se fala no episódio do Mundial entre jogadores, no vestiário?
Entre nós, cada um tirou uma lição do Mundial. Não podemos ficar vivendo desse episódio. Temos que esquecer. Vamos sofrer com as cobranças, pois foi a última coisa que aconteceu com a gente foi a derrota no Mundial. O torcedor vai sempre lembrar. Sempre vai haver a brincadeira do outro lado. Mas para nós, não. A gente esqueceu nesta parte e já estamos pensando em conquistar a Libertadores de novo. E tentar mais uma chance de conquistar o Mundial.

O que vocês conversaram depois da derrota para o Mazembe?
Foi muito ruim. O clima ficou muito chato. Todo mundo criou uma expectativa muito grande por esse jogo. Queriam que a final fosse Inter contra Inter-ITA. Apesar de a gente falar e mostrar que tinha um jogo antes. Mas foi criada uma expectativa muito grande sobre esse jogo. Então, o baque foi muito grande. Quando acabouo  jogo todo mundo se olhava e não conseguia acreditar. Eu fiquei muito chateado e não consegui dormir. Era uma oportunidade muito grande de ser campeão mundial. Ter outra oportunidade dessa é muito difícil. Então a gente ficou chateado e cabisbaixo. No dia da derrota, o Celso (Roth) não quis falar nada. Ninguém quis conversar com os companheiros. De cabeça quente você acaba falando algo que não ajuda, atrapalha. Então, o Celso tentou reanimar o grupo no outro dia. Mas ficamos muito abatidos. Foi amenizar quando vencemos o segundo jogo.

A vitória contra o Seongnam (time da Coreia do Sul, adversário na disputa de terceiro lugar) tirou um pouco do peso? 
Tirar o peso, não, pois o peso da derrota é maior. Pelo menos, a gente conseguiu sair de cabeça erguida. Saímos com uma vitória, com o terceiro lugar e jogando bem.

Quando você pensa sobre o passado lembra deste episódio, desta chance que acabou sendo perdida?
Eu sou um cara que tenta viver o momento. No futebol você não pode pensar muito nas vitórias ou nas derrotas do passado. Senão você fica frustrado. Lembra dos momentos que te atrapalharam ou acaba se vangloriando por coisas que fez no passado e esquece o momento. Para mim já passou o Mundial, como já passou o título da Libertadores. Eu encaro assim: agora tenho outra chance de jogar uma Libertadores e chegar de novo ao Mundial. Estou trabalhando e focado nisso. Penso só em viver o momento agora para colher no futuro.

O time mudou pouco, mas são raros os casos de times que ganharam duas vezes seguidas a Libertadores, vocês pensam sobre isso?
Eu acho que quando um clube é campeão, aumenta a responsabilidade. E a motivação das equipes que vão jogar contra o campeão sempre é maior. Hoje, o campeão é o Inter. Todo mundo vai querer ganhar do campeão. Então, eles acabam se motivando e entram com muita vontade de ganhar da gente. Não que isso atrapalhe, mas acaba motivando as outras equipes. Por isso o campeão tem uma dificuldade maior. Nosso elenco tem uma qualidade muito grande para disputar e tentar chegar ao título de novo. Este ano a Libertadores está mais qualificada e tem mais times com chances de ser campeão. Os próprios brasileiros tem chances e acho que vai ser uma Libertadores muito disputada.

Os clubes brasileiros são os favoritos para conquistar a Libertadores deste ano?
Os brasileiros sempre são favoritos. Pelo futebol que a gente tem no país. Temos muita qualidade e sempre vamos disputar o título. Por outro lado, os argentinos tem muita tradição na Libertadores e sempre é difícil de encarar. Acho que vai ser muito disputado, mas acredito que fica no Brasil esse título.

O que será fundamental na estreia? Afinal vai ser só o quarto jogo do time principal no ano...
O fator mais importante agora é a superação e a união. O time vai ter que superar tudo, viagem longa, pouco tempo para treinar, tudo. A equipe vai ter que jogar junto. Vamos ter que ficar unidos e um jogar pelo outro. Assim que vamos fazer a diferença. Foi isso que fez a diferença no ano passado. Agora é a hora de superação.

Muitos analistas têm dito que o grupo do Inter na primeira fase é fácil. Compõem a chave o Emelec, o Jorge Wilstermann e ainda Jaguares, do México. Quais os perigos desse grupo?
Não podemos entrar nessa conversa que o grupo é fácil. Voltamos ao exemplo do Mundial, então. Todo mundo dizendo que seria fácil jogar contra o Mazembe e tivemos a infelicidade de perder. Primeiro, não podemos cair nesse papo. Nos três jogos teremos viagens longas, mas por outro lado, eles terão que viajar para Porto Alegre. A gente tem que usar a força do Beira-Rio. Na Libertadores, você tem que jogar com inteligência. O time que quer ser campeão, tem que fazer o resultado em casa e jogar fora para empatar. Não precisa ganhar fora de casa. Se você conseguir empatar fora e vencer em casa, acaba campeão. Foi o que fizemos no ano passado. Classificamos na primeira fase, assim. Se jogarmos com o Emelec fora e conseguir um empate será ótimo. O jogo será muito difícil. Campo pequeno. Eles estão com mais ritmo do que nós, pois só jogamos quatro partidas. O time não está totalmente entrosado. Não está 100% fisicamente e nem tecnicamente, apesar do ótimo trabalho da comissão técnica. Não tem como estar com ritmo de jogo neste começo. Esse momento é de superação e temos que tentar fazer a mesma campanha do ano passado.

Manter campeões por muito tempo no clube pode ter um reflexo ruim pelo relaxamento natural?

Isso varia de clube para clube. O São Paulo foi campeão brasileiro três vezes com praticamente o mesmo grupo. Sai um jogador e entrava outro. Então, era praticamente o mesmo elenco. É complicado falar, pois às vezes o grupo está muito fechado e unido. Quanto mais você conseguir manter o grupo assim, mais chance você tem de chegar longe nos campeonatos. Eu acho que para o Inter foi bom. Nosso grupo é muito bom. Tem uma amizade legal. Conversamos uns com os outros, estamos sempre juntos. Almoçando com o companheiro, jantando e frequentando a casa dos outros. Então, isso é muito bom. Por que, além da união que temos dentro de campo, conseguimos transparecer isso para fora. Acredito que a manutenção de praticamente de 80% ou 90% foi muito boa e vai nos ajudar na Libertadores.

Nesse Inter que defende o título, tem um jogador que vive uma situação peculiar. O Alecsandro tem um grande número de gols, mas não tem simpatia de 100% dos colorados. Ele chega a conversar sobre isso com o grupo?

Eu tenho uma amizade muito grande com o Ale. Sempre converso com ele. Sempre que eu posso, tento ajudar. Ele me ajuda quando estou chateado. Eu me preocupo com ele. Não entendo. É como eu falo, futebol é paixão e acaba acontecendo. O Ale é um dos melhores atacantes que eu joguei até hoje. Se posiciona muito bem. Um dos poucos centroavantes que tem qualidade para sair da área e jogar. Ele é um cara que não fala. É tranquilo. Quando dá entrevista, fala muito bem. Nunca briga com ninguém. Nunca bate de frente com ninguém. O bom para ele, é que ele é muito focado, tranquilo e centrado. Se fosse um outro que não tem o patamar de inteligência e a personalidade que o Alecsandro tem, acho que não conseguiria jogar e marcar os gols que marcou pelo Inter. Ele tem a confiança de todo o grupo, da comissão técnica e da diretoria. Se não tivesse, não estaria mais no Inter.Todo mundo sabe que ele recebeu várias propostas, mas não saiu. Ele é um cara que nos ajuda muito no grupo. É um dos comandantes do grupo. Um dos caras mais experiente, que mantém a união, que opina, que sempre está ajudando e sempre procurando o melhor para a equipe. Ao invés de ajudar, acabo aprendendo com ele. Quando estão vaiando ele, ele está tranquilo e acaba sempre fazendo gol. Quando tem a maior vaia, ele vai e faz o gol. E sai tranquilo, poderia fazer alguma coisa para a torcida, mas não, sai tranquilo. Ele sempre diz que vai conquistar a torcida fazendo gols.

Você acha que algo injusto o que fazem com o Alecsandro, então?

Sinceramente, eu não entendo. Contra números não tem argumentos. Ele está fazendo gols. O Alec é centroavante e tem que fazer. A parte dele, ele faz. É como eu falo, futebol é paixão. Futebol é opinião. Não tem como conquistar. Você tem a sua e eu tenho a minha. Quem não gosta do Ale, paciência, mas ele vai continuar a fazer os gols.