Deputado se enrola com Andrés e propõe doação à família de Kevin sem aval do Corinthians
Na última semana, o deputado Vicente Cândido (PT-SP) esteve na Bolívia junto com outros parlamentares e ofereceu, em nome do Corinthians, uma ajuda financeira à família do jovem Kevin Espada. O problema é que o clube diz não ter sido avisado disso. Baseado em uma conversa confusa com Andrés Sanchez, o parlamentar apresentou-se como representante alvinegro e acenou à família com um acordo que a diretoria não tem pretensão de cumprir.
A confusão começou na montagem da comitiva de sete deputados que foram à Bolívia. Liderado por Vicente Cândido, o grupo tinha como principal objetivo acompanhar de perto a situação dos 12 torcedores que seguem presos em Oruro. Na viagem, porém, eles acabaram se encontrando com a família de Kevin e prometeram uma ajuda financeira.
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“O Corinthians se comprometeu a doar a renda inteira de uma partida, mas como o jogo da próxima quarta já está vendido, é difícil falarmos em valores”, disse Vicente Cândido à reportagem do UOL Esporte, no último sábado.
Só que o Corinthians diz nunca ter autorizado ninguém a falar por ele sobre esse assunto. Há algumas semanas, o clube chegou a conversar oficialmente com os pais de Kevin para oferecer uma ajuda financeira. A conversa se deu por telefone e foi intermediada pelo consulado brasileiro em Cochabamba, na Bolívia.
Em um comunicado oficial, dias depois do papo, o clube disse que a família recusou a “ajuda humanitária” oferecida e, por isso, decidiu apenas manifestar o pesar pelo ocorrido, “respeitando a decisão da família”. Nos bastidores, membros da diretoria alvinegra que tiveram acesso ao teor da conversa relatam que o Corinthians ofereceu doar de 10% a 20% da renda de uma partida da Libertadores, mas que o valor teria sido rejeitado.
Na semana passada, em entrevista ao Lance!, Limbert Beltrán, pai de Kevin, disse que nunca quis negociar o montante e disse que o desfecho foi negativo por conta de um “erro do tradutor”. Diante disso, o caminho ficou aberto para que voltassem a falar de uma ajuda à família. Vicente Cândido tomou a frente do processo.
“O Andrés que me pediu. Eu não falei em valores com a família. Falei que poderíamos ajudar. Falei com o Corinthians no domingo e vou falar de novo. Fui para organizar e falar com a família se eles aceitam a ajuda”, disse Cândido, na última terça, à reportagem.
O Corinthians nega esse contato, que teria sido, na verdade, com o próprio Andrés. O ex-presidente faria parte da comitiva a convite de Cândido, mas um problema de saúde na família o impediu de viajar. O deputado, então, teria falado em nome do cartola, tentando fazer até com que CBF e Conmebol contribuíssem com alguma doação.
Andrés, no entanto, diz nunca ter falado em nome do clube com o deputado. Por meio de sua assessoria de imprensa, ele explicou ao UOL Esporte que teria pedido a Cândido que o representasse como pessoa física, e não o Corinthians. O cartola não explicou, porém, o que ele faria na comitiva, que contava apenas com parlamentares.
Independentemente de quem foi a iniciativa, o resultado deve ser negativo para a família de Kevin, já que o Corinthians diz não estar mais disposto a fazer a doação. Nesta quarta, na partida contra o San Jose, sequer haverá qualquer menção ao jovem na partida do Pacaembu.
O clube quer evitar ser acusado de tentar algum ganho político com o incidente. Justamente por isso, tem evitado usar intermediários em qualquer questão envolvendo o caso Oruro. Para tratar dos 12 torcedores presos, por exemplo, o Corinthians tratou diretamente com o Ministério das Relações Exteriores, evitando qualquer contato com membros do Poder Legislativo.
Na prática, isso pode significar uma segunda decepção para a família de Kevin Espada. No último fim de semana, os pais do jovem viram o amistoso entre Brasil e Bolívia acontecer em Santa Cruz de la Sierra também sem nenhuma menção à tragédia. A promessa feita pelos cartolas brasileiros de que a renda seria doada, até agora, não foi cumprida pela Federação Boliviana de Futebol.
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