Topo

Libertadores - 2019

Cobiçados, "ex-europeus" pouco ajudam times brasileiros na Libertadores

Luis Fabiano recebe cartão vermelho; atacante ficou ausente quatro jogos - Leandro Moraes/UOL
Luis Fabiano recebe cartão vermelho; atacante ficou ausente quatro jogos Imagem: Leandro Moraes/UOL

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

09/05/2013 06h00

Um jogador brasileiro que atuou com sucesso num grande clube europeu volta ao país quase sempre com a missão de transmitir sua experiência e segurar a pressão nos momentos decisivos. Em alguns casos, é até de quem mais se espera para decidir uma partida.

E quando se joga um torneio internacional como a Copa Libertadores da América, a experiência é das palavras mais faladas como ponto essencial para uma equipe obter sucesso na competição. Mas, na atual edição do torneio sul-americano, os rodados jogadores que fizeram sucesso na Europa parecem não corresponder às expectativas dos clubes brasileiros.

Alguns vieram como os grandes reforços de seus times para a competição, outros já estavam lá à espera de uma classificação. Mas são poucos os brasileiros que já foram campeões na Europa e que estão dando o equilíbrio para seus times na Libertadores.

O zagueiro Lúcio chegou ao São Paulo no começo do ano para ser o xerife do time. Trouxe na bagagem títulos nacionais do Velho Continente como o Italiano (pela Inter de Milão) e o Alemão (Bayern de Munique), além da própria Liga dos Campeões. Mas se destacou na Libertadores pelo lado negativo. Foi substituído em um jogo contra o Arsenal, na Argentina, e entrou em atrito com o técnico Ney Franco.  

Nas oitavas de final, foi expulso no jogo de ida contra o Atlético-MG e viu sua equipe levar a virada por 2 a 1 com um homem a menos. Ganhou status de um dos principais responsáveis na eliminação do time.

Seu companheiro Luis Fabiano fez ainda pior. A experiência do título da Liga Europa pelo Sevilla parece não ajudar nos momentos decisivos. Foi expulso depois do final de um jogo da primeira fase e levou quatro jogos de gancho. Desfalcou a equipe em momento decisivo e, quando voltou, pouco fez para evitar o vexame contra o Atlético-MG - marcou um gol, mas apenas quando o jogo já estava 4 a 0 para os mineiros.

Cris, campeão francês pelo Lyon e semifinalista de uma edição de Liga dos Campeões, foi pedido do técnico Vanderlei Luxemburgo para acertar a defesa do Grêmio na Libertadores. Mas foi expulso duas vezes seguidas, uma delas após cometer pênalti que gerou gol do Independiente de Santa Fé na vitória por 2 a 1 sobre o time colombiano nas oitavas. Assim como Lúcio no São Paulo, começa a ser perseguido pela torcida de seu time.

A equipe gaúcha também viu o goleiro Dida, bicampeão da Liga dos Campeões com o Milan, falhar na primeira fase nos jogos contra Caracas e Huachipato.

Campeão português com o Porto, o atacante Kleber foi a principal contratação do Palmeiras para 2013 e está emprestado até o meio do ano justamente para reforçar o time somente na Taça Libertadores da América. Mas decepciona na missão só pela ausência.

Sofrendo com contusões, Kleber jogou apenas três dos sete jogos do time no torneio, sendo que um deles entrou no meio da partida. Não marcou nenhum gol. E ainda recebeu críticas ao ter a chance de decidir o jogo contra o Tigre, na Argentina, mas perder um gol feito no final ao tentar mais um drible. Perdeu a bola e viu seu time levar um gol na sequência do lance.

O Fluminense tem um dos jogadores mais estrelados em títulos na Europa em comparação aos outros brasileiros. Deco foi campeão duas vezes da Liga dos Campeões, por Porto e Barcelona. Venceu também nacionais de Portugal, Espanha e Inglaterra. Mas o difícil é conseguir usufruir dessa experiência em campo. Sofrendo com contusões, o meia só participou de três dos sete jogos do time até agora. Não joga no torneio há quatro partidas.

O Fluminense vê problema similar com Fred, campeão francês pelo Lyon. O atacante tem rendido bem quando atua e fez dois gols. Mas sofre com contusões e ficou três jogos de fora da equipe na Libertadores. Foi ausência na suada classificação nas rodadas finais da fase de grupos e também na derrota por 2 a 1 para o Emelec, no primeiro jogo das oitavas. Na volta, correspondeu e abriu a vitória que valeu a passagem do campeão brasileiro às quartas de final.

LÚCIO VIRA 'LÚCIOFER' APÓS EXPULSÁO


No Atlético-MG, as experiências do campeão inglês Gilberto Silva (ex-Arsenal) e do campeão alemão Josué (ex-Wolfsburg) parecem não ser tão essenciais por uma questão de preferência do técnico Cuca, que opta por deixá-los no banco para atletas que nunca atuaram ou jamais foram campeões na Europa (Rever e Leonardo Silva na zaga e Pierre e Leandro Donizete como volantes).

No Corinthians, a experiência de campeão italiano de Alexandre Pato parece também não pesar, já que o atacante tem ficado no banco de reservas. No entanto, o peruano Guerrero, campeão alemão com o Bayern de Munique, é uma das maiores esperanças do time e tem correspondido com a titularidade e gols.

Além dele, outros dois jogadores campeões na Europa estão na contramão dos demais e estão correspondendo. Ronaldinho, campeão da Liga dos Campeões e Espanhol pelo Barcelona, tem sido o principal jogador do Atlético-MG e já apareceu decisivamente nas oitavas de final contra o São Paulo.

No Grêmio, Zé Roberto, campeão alemão pelo Bayern de Munique, tem sido um dos mais regulares e é destaque da equipe de Vanderlei Luxemburgo no torneio continental. Foi escolhido para a seleção do torneio na primeira fase.

Um dos jogadores que tiveram sucesso na “missão” de trazer a experiência de títulos europeus a um clube brasileiro na Libertadores é o ex-atacante Amoroso, campeão alemão pelo Borussia Dortmund e da Supercopa da Europeia pelo Parma.

O atacante revelado no Guarani chegou ao São Paulo durante a Libertadores de 2005 e foi peça decisiva para a conquista do torneio ao marcar gols nas semifinais e finais da competição.

De acordo com o ex-jogador, o fato de um atleta ter no currículo a bagagem de títulos na Europa não necessariamente fará a diferença na Libertadores. Isso porque o estilo de jogo é totalmente diferente, o que para ele explica o insucesso de alguns.

“O fato de você vir para o Brasil quando participa de várias competições europeias tem alguns lados diferentes. A organização lá é diferente. As partidas não têm altitude, por exemplo. As condições do gramado, de organização, é completamente outra coisa. E a questão da experiência tem ser agregada em um local onde você tenha adaptação rápida, como foi comigo no São Paulo. Já tinha jogado com alguns atletas do clube, era a peça que faltava, isso ajudou”, explicou.

“A experiência ajuda sempre, mas a questão de adaptação ao futebol sul-americano pode pesar mais do que a bagagem do jogador. Aqui, por exemplo, o árbitro sul-americano entende de outra maneira uma entrada que lá pode ser vista de outra forma [como as de Lúcio e Cris].”