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Técnico do Garcilaso lamenta ofensa a Tinga e se desculpa

Do UOL, em Belo Horizonte

13/02/2014 11h26

Após a vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, na quarta-feira, o técnico do Real Garcilaso, Freddy García, lamentou o incidente envolvendo o volante Tinga, alvo de manifestações de cunho racista por parte de torcedores peruanos, em partida da primeira rodada do grupo 5 da Libertadores.

Freddy García disse que não ter percebido que os torcedores imitaram sons e fizeram gestos alusivos ao macaco quando o volante do Cruzeiro pegava na bola.

“Eu não vi o que aconteceu, mas é uma coisa muito triste. Pedimos desculpas ao Cruzeiro e ao jogador. Vamos apurar tudo, porque o Real Garcilaso é muito grande e não pode estar ligado a episódios desta natureza”, afirmou.

Os cruzeirenses deixaram o estádio revoltados com o fato de Tinga e uma série de outros problemas que a equipe enfrentou durante sua estadia em Huancayo, como as instalações precárias, a falta de luz para treinamento, falta de água no vestiário no dia do jogo, além do gramado em péssimas condições.

O clube mineiro admitiu entrar com uma representação na Conmebol relatando os problemas e cobrando providências sobre o que aconteceu com Tinga. Por sua vez, a entidade já se manifestou pelo twitter da Copa Libertadores dizendo que tomará providências e acena com punição para o clube peruano.

“Sobre o tema de racismo em Real Garcilaso e Cruzeiro. A Confederação Sul-americana analisará o tema e possíveis sanções pertinentes. Pedimos tranquilidade aos torcedores do Cruzeiro. Sabemos que é repudiante”, divulgou a entidade máxima do futebol no continente.

Quem também se pronunciou sobre o caso e mostrou solidariedade a Tinga foi a presidente Dilma Rousseff. "Foi lamentável o episódio de racismo contra o jogador Tinga, do Cruzeiro, no jogo de ontem, no Peru. Ao sair do jogo, Tinga disse que trocaria seus títulos por um mundo c/ igualdade entre as raças. Por isso, hoje o Brasil inteiro está #FechadoComOTinga”, escreveu também no twitter.

Peruanos são reincidentes em atos racistas

Não foi a primeira vez que um jogador brasileiro sofreu com insultos racistas em território peruano. Em 2011, durante uma partida entre Brasil e Bolívia pelo Sul-Americano sub-20, uma pequena parte da torcida presente ao estádio 25 de Noviembre, em Moquegua, hostilizou o atacante Diego Maurício.

Depois de entrar no segundo tempo da partida, o jogador da seleção brasileira passou a ser ofendido por torcedores, que imitavam, assim como ocorreu com Tinga, sons de macaco. Depois do jogo, o atacante lamentou o incidente.

“Eu fico triste, mas isso não me afeta em nenhum momento. Independentemente de raça, somos todos seres humanos. Dentro de campo vou sempre mostrar meu trabalho e não dou bola para isso”, disse o jogador na época.

Apesar da evidente discriminação ao atacante brasileiro, os peruanos, torcedores em geral e até autoridades, consideraram normal e mesmo “engraçada” a atitude de parte da torcida de imitar sons de macaco quando Diego Maurício pegava na bola.

Um policial que estava no estádio disse que era apenas um gesto usado pela torcida para “atrapalhar” os jogadores de “pele escura”. Um jornalista peruano afirmou que se tratava de uma tradição no país e uma “brincadeira”, mas recuou envergonhado ao ser questionado se não se tratava de uma discriminação racial.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) cobrou explicações da Conmebol sobre o comportamento dos torcedores. A iniciativa gerou uma reação da entidade sul-americana, que criou uma campanha para tentar coibir atos racistas durante o Sul-Americano sub-20.

Uma faixa com a frase “Não ao racismo” foi afixada próxima aos torcedores durante os jogos. Além disso, o pedido foi reforçado por alto-falantes dos estádios.