Topo

Por não relatar racismo contra Tinga, árbitro só pode receber 'punição técnica'

Dionizio Oliveira

DO UOL, em Belo Horizonte

14/02/2014 16h45

O fato de não ter relato em súmula as manifestações racistas dirigidas ao volante Tinga, durante o jogo em que o Real Garcilaso venceu o Cruzeiro, por 2 a 1, poderão gerar punições técnicas, mas não disciplinares ao árbitro venezuelano José Ramón Argote Veja. A avaliação é do presidente do Tribunal Disciplinar da Conmebol, Caio Cesar Vieira Rocha, que destaca o fato de a ausência da referência no relatório da arbitragem não interfere na apuração dos fatos, tanto que já foi aberta uma investigação preliminar.

Segundo ele, o julgamento do caso denunciado de racismo, que não contará com a sua participação, por ser brasileiro, país de um dos clubes envolvidos, deverá acontecer em breve. “Existem alguns prazos para as partes se manifestarem, e, em 15 dias, no máximo, deve haver uma primeira decisão”, explicou o presidente do Tribunal Disciplinar da Conmebol ao UOL Esporte.

A súmula de Real Garcilaso e Cruzeiro não foi oficialmente divulgada pela Conmebol. A entidade informou que a posição oficial se limita, no momento, à nota publicada no site oficial, nesta sexta-feira, em que confirma uma investigação prévia que poderá resultar na abertura de expediente disciplinar ao clube peruano.

O advogado Caio César Rocha não viu a súmula, mas foi informado pela Conmebol de seu conteúdo. “Essa informação me foi passada. Mas, independente disso, foi aberta uma investigação preliminar”, afirmou.

Sobre uma eventual punição ao árbitro José Argote, ele disse ser possível, mas que não cabe um julgamento disciplinar. “É uma questão técnica, não é analisada por nós, que olhamos apenas o aspecto disciplinar. Ele pode ser julgado eventualmente pela comissão de arbitragem, que pode avaliar se trata de uma falha grotesca ou grave o fato de não ter relatado isso e aí ser punido”, observou Caio César Rocha.

Representante brasileiro na Conmebol, Hildo Nejar, que não tem participação direta em relação ao caso, acredita que o clube mineiro deva buscar uma punição para o árbitro. “O Cruzeiro tem que se mexer para punir ele. Acho que o Cruzeiro tem que ir atrás”, observou.

O departamento jurídico do clube celeste já entrou com representação junto a Conmebol, por meio da Confederação Brasileira de Futebol, solicitando providências em relação ao caso de racismo do qual Tinga foi vítima. De acordo com o diretor de futebol celeste, Alexandre Mattos, as providências começaram imediatamente após o fato.

“O Cruzeiro imediatamente, ainda dentro do estádio, começou a tomar suas providências. Fui até o delegado da partida e me dirigi com palavras fortes sobre tudo o que estava acontecendo i e também à não atuação do árbitro e do delegado, que deveriam ter parado o jogo e não o fizeram. O Cruzeiro já tomou as providências dentro daquilo que nos cabe fazer”, afirmou Alexandre Mattos, ao Programa Arena Sportv.

Por meio do supervisor de Futebol, Benecy Queiroz, o Cruzeiro entrou em contato direto com a diretoria da Conmebol, relatando não apenas o caso de racismo, mas outros problemas como a estrutura precária do estádio e os eventos de falta de água no dia do jogo e de luz no treinamento, que foram consideradas “artimanhas” do adversário.

Benecy Queiróz espera uma punição ao clube peruano. “A Conmebol tem o órgão disciplinador, entramos com o expediente e vamos aguardar a posição que eles vão tomar. Na minha ótica, acho que serão penalizados em questões de jogos”, afirmou  o supervisor de futebol estrelado.