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Vítima de racismo no Peru, Tinga tem recepção 'calorosa' no Aeroporto de Confins

Dionizio Oliveira

Do UOL, em Confins

14/02/2014 00h12

Após ser vítima de manifestações racistas por parte da torcida do Real Garcilaso, durante a derrota do Cruzeiro, por 2 a 1, na estreia da Libertadores, na última quarta-feira, o volante Tinga teve apoio de vários torcedores nas redes sociais e também recebeu o carinho presencialmente. Apesar do horário avançado, próximo da 0h quando o avião pousou, aproximadamente 60 torcedores estiveram presentes no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, neste município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, para dar apoio ao jogador, que desembarcou com seus companheiros, após longa e desgastante viagem. Os cruzeirenses levaram faixas com mensagens e gritaram bastante o nome do jogador.

O volante Tinga foi o primeiro a aparecer no saguão do Aeroporto e foi bastante assediado pela torcida e pela imprensa. Em poucas palavras, o jogador também lamentou ter que falar do fato novamente. “Uma luta contra o preconceito. É muito importante. Não gostaria de vir aqui para falar sobre essa situação. Gostaria de falar sobre o nosso time”, disse o jogador. Ele ainda lamentou a derrota e espera que isso não se repita com outros atletas. “A gente esperava uma recepção com uma vitória, que eu gostaria que acontecesse. Mas infelizmente aconteceu comigo, esperamos que não aconteça com outros”, destacou o meio-campista.

O volante reiterou que ficou bastante chateado com o fato e principalmente surpreendido, principalmente por se tratar de um país vizinho e com várias misturas de raças como no Brasil. “Uma situação que a gente não se prepara para sofrer. Nunca imaginei passar por isso, uma situação tão séria, tão grave”, concluiu. Além dos torcedores, o jogador recebeu apoio de várias personalidades do esporte da política, como a presidente da República, Dilma Rousseff, que utilizou o twitter para dizer que estava “FechadacomoTinga”. O presidente do Peru também repudiou os atos racistas da torcida de Huancayo.

Em solidariedade ao volante cruzeirense, o auxiliar de estoque Charley Roger, 23 anos, foi para o saguão do aeroporto dar apoio ao time e especialmente ao jogador. Sozinho, ele se deslocou de ônibus para o local e não desanimou nem mesmo com o atraso no voo, que inicialmente chegaria às 22h30, o que só aconteceu cerca de uma hora depois do horário previsto.

“Vim sozinho, vim para mostrar ao cruzeiro, ao Tinga, que não importa o que acontecer, sempre estarei ao lado, sempre serei Cruzeiro. Na verdade não estou vindo pelo time, mas sim pelo ser humano que está do outro lado”, afirmou o torcedor celeste.

O mesmo aconteceu com o operador de produção Ramon dos Reis, também de 23 anos, que se comoveu com o crime de racismo cometido por torcedores do Real Garcilaso e saiu de casa para manifestar apoio ao volante. “Dar incentivo para o time e particularmente para o Tinga. Acho que é um ato que não tem como aceitar. Racismo não entra na minha cabeça. Foi um absurdo”, ressaltou.

Apesar da revolta, o torcedor disse que espera o confronto da volta para o Cruzeiro devolver as ofensas “na bola”. “Tem que mostrar para eles que nós vamos ganhar, que vamos superar esse ato dentro de campo, sem violência ou vingança. Espero que com toda a torcida apoiando”, comentou.

As irmãs Bruna Faeda e Gabriela Faeda, de 23 e 26 anos, respectivamente, também estiveram presentes na noite desta quinta-feira para dar suporte ao atleta celeste. “Dar apoio ao Tinga pelo acontecido no peru, mas como o Cruzeiro perdeu ontem, jogadores abalados, a torcida tem que incentivar. A gente viu que eles deram raça, correram atrás, infelizmente não deu. Mas estamos aqui apoiando com o Cruzeiro Sempre”, comentou Bruna.

  • Dionizio Oliveira/UOL

    Mensagem de torcedor do Cruzeiro torna real apoio manifestado virtualmente: "fechado com Tinga"

Além de marcar presença, os torcedores gritaram o nome de Tinga inúmeras vezes e levaram faixas com mensagens de incentivo ao jogador, que nesta quinta-feira recebeu diversos recados de personalidades da política e do esporte, como a presidente Dilma Rousseff e o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil.

Na quarta-feira, em Huancayo, no Peri, Tinga foi vítima de injúria racial. Depois de entrar no lugar de Dagoberto no decorrer da segunda etapa, aos 19 min, o volante foi constantemente vaiado pelos torcedores locais, que emitiram sons imitando macaco a cada vez que o jogador encostava na bola. Essa manifestação racista foi se agravando e aumentando o tom com o decorrer da partida.

Nesta sexta-feira, a diretoria do Cruzeiro será recebida pelo presidente da Confederação Sulamericana de Futebol (Conmebol), Eugenio Figueredo, para tratar do assunto. A reunião foi revelada pelo próprio mandatário da entidade ao site Passion Libertadores e ouvirá dos dirigentes celestes o pedido de punição severa ao Real Garcilaso.