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Cruzeiro 'acata' decisão da Conmebol de apenas multar o Real Garcilaso

Dionizio Oliveira

Do UOL, em Belo Horizonte

24/03/2014 17h39

A Conmebol anunciou, na tarde desta segunda-feira, a punição de US$ 12 mil (R$ 27,8 mil)ao Real Garcilaso por causa dos insultos racistas envolvendo a torcida peruana contra o volante Tinga. Em um primeiro momento, os dirigentes do clube mineiro preferiram não se posicionar sobre a decisão da entidade máxima do futebol sul-americano, apesar de demonstrarem insatisfação com a pena branda aos peruanos.

Em contato com a reportagem, o diretor de futebol Alexandre Mattos, mostrou descontentamento com a sanção, mas preferiu não comentar sobre o julgamento e disse que caberia ao presidente Gilvan de Pinho Tavares dar uma posição oficial do clube pela sentença do tribunal sul-americano.

A posição oficial do Cruzeiro foi passada pelo diretor de comunicação, Guilherme Mendes. Ele informou que o clube não se queixará com a Conmebol sobre a punição, que foi uma das mais brandas previstas no código disciplinar da competição.

“Isso não compete ao Cruzeiro, o Cruzeiro não foi julgado e não compete entrar com recurso. Quem está sendo julgado é o Real Garcilaso. E decisão do Tribunal é decisão do Tribunal, o Cruzeiro não comenta”, disse o dirigente celeste. Ele também afirmou que o presidente não irá se pronunciar a respeito. “Não vai falar sobre isso”, ressaltou. O UOL Esporte tentou entrar em contato telefônico com o mandatário celeste, mas não obteve êxito.

Enquanto a Conmebol realizou o julgamento na tarde desta segunda-feira, o volante Tinga iniciou a campanha “Chutando o preconceito”. Em parceria com a Central Única de Favelas (Cufa), o volante participou de um evento na cidade de Porto Alegre, onde nasceu, iniciando esse movimento contra todos os tipos de preconceito, incluindo o racismo. A expectativa é de estender o projeto por todo Brasil.

Além da multa em dinheiro, existiam outras possibilidades de punição, como a interdição do estádio, a perda de mando de campo, a perda de pontos e até mesmo a exclusão do torneio. A Conmebol, no entanto, preferiu punir apenas financeiramente e fez uma reprimenda formal dizendo que em caso de reincidência o clube terá que jogar com portões fechados.

O julgamento do caso pela Conmebol foi realizado na tarde desta segunda-feira, em teleconferência entre o boliviano Alberto Lozada Añez e o colombiano Orlando Morales Leal, que são dois dos cinco membros do Tribunal. O presidente Caio César Rochar, por se brasileiro, e o vice, Adrián Leiza, que é uruguaio, não fizeram parte do processo por terem times dos respectivos países envolvidos no Grupo 5 e no caso. Além da multa em dinheiro, o time recebeu uma advertência formal de que se repetir os atos terá o estádio fechado.

“O clube peruano foi multado em 12 mil dólares e a reprimenda formal, fechando seu estádio, se a prática de um novo delito deste tipo. A CONMEBOL reitera seu compromisso de combater todas as formas de discriminação e incidentes racistas em suas competições. É no âmbito desta prioridade foi reforçada equipes de vigilância e delegados do partido arbitragem para alertar e denunciar tais violações”, disse a nota no site da instituição.

Os incidentes envolvendo o volante Tinga aconteceram no dia 12 de fevereiro, na estreia das duas equipes na Libertadores. Em campo, o Real Garcilaso ganhou do Cruzeiro por 2 a 1. Fora dele, a torcida local teve um comportamento ofensivo contra o volante Tinga, quando emitia sons de macaco e fazia gestos a cada toque do camisa 7 na bola.

A atitude dos peruanos provocou comoção nacional e internacional. Por meio das redes sociais, muitos torcedores se manifestaram a favor do volante, que também recebeu apoio de diversas celebridades do mundo do esporte, como Neymar e Ronaldinho, além de representantes políticos como a presidente Dilma Rousseff, que chegou a receber Tinga recentemente em uma visita a Brasília juntamente com o árbitro Márcio Chagas, que também foi vítima de racismo no Brasil.

Além disso, a Conmebol sofreu pressão política do próprio clube celeste, que encaminhou uma representação oficial reclamando do fato ocorrido com Tinga e dos diversos problemas encontrados em Huancayo, como a estrutura precária do estádio, a falta de água no momento do jogo e a falta de luz no treinamento de véspera. O ministro do esporte, Aldo Rebelo também entrou em contato direto com o presidente da entidade, Eugenio Figueredo Aguerra, cobrando medidas enérgicas.

Porém, nem toda a aclamação fez com que o time peruano pegasse uma punição mais severa. Além de dar uma pena considerada leve, já que o código disciplinar da competição previa até a exclusão da competição, o Tribunal também demorou a emitir um parecer sobre o caso alegando demora na investigação do episódio, que se encerrou apenas na última quinta-feira. Como o árbitro não relatou em súmula, foi necessário utilizar vídeos e outros materiais como prova.