Atleticanos usam afinidade com argentinos para 'secar' rival e evitar troco

Além da intensa rivalidade, o torcedor do Atlético-MG tem outros motivos para “secar”’ o Cruzeiro diante do argentino San Lorenzo, nesta quarta-feira, pela partida de ida das quartas de final da Libertadores. A identificação com o país vizinho, o hábito de torcer por argentinos contra o time celeste e o fato de evitar ver o maior rival ficar ainda mais próximo de dar o troco com a conquista continental um ano depois do título alvinegro.

“Não tenho vergonha, vou secar, torcer contra mesmo. Será muito bom para o Atlético secar o Cruzeiro. Não tem dificuldade fazer isso. Mas mais do que isso, quem sabe se alguns jogadores se destacarem e vencerem o Cruzeiro, a diretoria do Galo não vai atrás e contrata. O time tem ótimos jogadores”, disse Rayder Souza, de 27 anos.

Torcer contra o Cruzeiro não é dificuldade para o torcedor do Atlético. Foi assim com o Estudiantes de Verón, em 2009, quando o principal jogador da equipe desfilou com camisa atleticana após conquistar o título da Libertadores em pleno Mineirão.

A delegação do time argentino foi recebido por torcedores atleticanos, que foram até o hotel, na véspera do duelo contra o Cruzeiro, em 2009, para dar camisas do Atlético. A torcida deu sorte na época e o Estudiantes conseguiu vencer por 2 a 1. Nas ruas, torcedores dos dois clubes comemoram juntos em Belo Horizonte. O time de La Plata desfilou com bandeiras e materiais ganhos na capital mineira, pelas ruas da cidade em comemoração ao título.

Na partida desta quarta-feira, na Argentina, a torcida atleticana não terá condições de repetir a comemoração a favor do San Lorenzo, em caso de vitória. Mas de Belo Horizonte, os torcedores prometem “secar” o rival e até mesmo celebrar em caso de resultado contra o rival. “Vale até um buzinaço na rua, para incomodar os cruzeirenses e não deixar eles dormirem de raiva se o San Lorenzo vencer”, brincou Pablo Guerra, de 24 anos.

O laço de estreitamento entre o Atlético e os argentinos no futebol vem aumentando. A seleção Argentina ficará hospedada na Cidade do Galo em sua preparação para a Copa do Mundo. Na equipe alvinegra, dois hermanos fazem parte do elenco atleticano: Otamendi, que virou xodó do torcedor, e o meia Dátolo.

“A torcida do Atlético gosta de jogador que dê sangue, que tenha vontade e os argentinos dão de mil nos brasileiros neste sentido. Por isso, a maioria conquista o apoio do torcedor atleticano, principalmente se for zagueiro. Acho que todo atleticano tem um pouco de sangue argentino”, afirmou Pablo Guerra.

Até mesmo o presidente atleticano, Alexandre Kalil, entrou na onda de secar o rival e afirmou, na semana passada, após a eliminação atleticana na Libertadores, que não poderia torcer contra o time do papa Francisco. “Não é que eu seja San Lorenzo desde criancinha, eu sou católico, desde quando vou torcer contra o time do Papa, de jeito nenhum", disse o dirigente.

“Eu não estou preocupado com eles (Cruzeiro), a história do Cruzeiro na Libertadores eu conheço, aqui em Minas Gerais todo mundo conhece, é a dos três patetas. A gente já conhece, sabe o que vai acontecer e vai rir de novo”, acrescentou Kalil.

Mais do que a rivalidade fora de campo, uma derrota do Cruzeiro para o San Lorenzo nesta quarta-feira poderá ser importante e ter reflexos a favor do Atlético dentro de campo. Os rivais se enfrentam no domingo, pelo Brasileirão, e o resultado negativo significaria a queda da confiança da equipe cruzeirense, que já terá um desgaste físico maior.

Além disso, sair da Argentina derrotado representaria uma dificuldade maior para o Cruzeiro na partida de volta, que acontecerá no Mineirão e poderá, até mesmo, resultar em uma eliminação. O clube celeste tem a oportunidade de dar o troco e vencer o título da Libertadores no ano seguinte à conquista do Atlético.

“Temos de nos preparar bem a semana, aproveitar este período, acertar o time. O Cruzeiro terá um jogo difícil pela Libertadores. Mas a gente tem de preocupar com o nosso time, com a nossa preparação”, afirmou o volante Pierre.